Há um provérbio popular que diz que”Elogio, em boca própria é vitupério” Mas o apóstolo São Paulo também afirma que “A verdade também é humildade” Por isso, sinto-me à vontade para, hoje, falar alguma coisa sobre meu pai, para este jornal, principalmente, sendo a pedido de outrem. José Machado Braga, Zezé Braga, Oblato Redentorista
*01 de julho de 1892
+24 de setembro de 1938
*01 de julho de 1892
+24 de setembro de 1938
Sorocaba, terra do brigadeiro Rafael Tobias de Aguiar, aclamado governador da então Província de São Paulo, em 1842, foi também o berço de outro ilustre cidadão que, mais tarde, muito ilustrou e engrandeceu o nome desta nobre e leal cidade de Aparecida, a Terra da Padroeira do Brasil. Chamava-se JÚLIO MACHADO BRAGA e nasceu no dia 1º de julho de 1892. Seus pais, Domingos Braga e Mathilde Machado Braga, de origem muito humilde, tiveram nove filhos, que criaram com muito amor e carinho e nos quais incutiram um grande amor para com Deus e uma educação religiosa muito sólida e profunda, que incluía também uma grande e filial devoção a Nossa Senhora. De sua infância, em Sorocaba, quase nada sabemos. De seus pais, recebeu, na alma e no coração, as sementes de sua religiosidade que, em respeito humano e sem esmorecimentos, fez brotar e florescer muitas virtudes durante a sua curta existência. Em 1907, a família BRAGA, deixando Sorocaba, chegou a Aparecida e aqui se fixou, transcorrendo, pois, neste ano da Graça de 2007, cem anos de sua chegada a Aparecida, marcando, com sua vida de virtudes e trabalhos nas mais diversas áreas religiosas e sociais, sua presença dentro da grande família aparecidense. Aos quinze anos de idade, papai entrou para o Seminário Santo Afonso, aqui em Aparecida, onde foi aluno estudioso, esforçado, de gênio alegre e bondoso, de tal sorte que, em pouco tempo, logo granjeou a estima dos mestres e formadores, os severos, mas piedosos padres alemães e a de todos os demais seminaristas. Além de se distinguir nos estudos, também se distinguiu nas apresentações teatrais, notadamente nas comédias, cujos papéis interpretava com humor e naturalidade. Terminado o Curso das Humanidades, como era chamado o que hoje é o ciclo dos primeiro e segundo graus, firme no propósito de ser, um dia, sacerdote e missionário redentorista, santo, recebeu o hábito religioso redentorista, como era de costume na época, e foi fazer seu noviciado, sob a direção do experiente padre Carlos Hildebrand, no Convento de Bom Jesus dos Perdões, cidade que hoje é mais conhecida, simplesmente, pelo nome de Perdões, São Paulo. Embora a cidade e a região fossem de clima excelente e muito salubre, a saúde de Julinho, como meu pai foi carinhosamente chamado e conhecido até o fim de sua vida, não era satisfatória e, como os cuidados recebidos não surtissem efeito, aconselhado pelos superiores, viu-se obrigado a abandonar a carreira eclesiástica e esperar nova oportunidade. “O Espírito estava pronto, mas a carne era fraca”. Sempre muito dedicado aos redentoristas, por algum tempo prestou-lhes serviços no Santuário de Nossa Senhora da Penha, em São Paulo. Regressando a Aparecida, por volta de 1914, manteve a convivência com os padres redentoristas. Durante cerca de dez anos, até a sua morte, Lecionou Latim e Português no Seminário Santo Afonso, sendo professor de muitos seminaristas que se tornaram ótimos missionários, contando-se entre os ainda vivos(*), Dom Pedro Fré, bispo emérito de Barretos(SP), Dom José Rodrigues de Souza, bispo emérito de Juazeiro(BA), padre José Oscar Brandão e alguns outros que ainda trabalham na vinha do Senhor. Dentre os vivos e atuantes, conta-se, ainda, o padre Luiz Inocêncio Pereira, que acaba de completar seus 93 anos de idade e 66 anos de santo sacerdócio. Aliás o padre Inocêncio, até hoje, ainda se orgulha de ter sido aluno de meu pai. Cada vez que se encontra comigo anuncia para todos os circunstantes: “Eu fui aluno do pai desse homem”.(**) No dia 6 de janeiro de 1934, Dia de Reis, recebeu de Roma, do Superior Geral da Congregação Redentorista, na época. Padre Ptritius Murray, o título de “Oblato Redentorista”, honraria essa que encheu sua alma e coração de grande e profunda alegria e de não menor gratidão à Congregação que ele tanto amava e à qual ele tanto sonhou pertencer: afinal, tornava-se membro da Família Redentorista, não como padre ou irmão leigo, mas como cidadão engajado e fiel aos seus ideais missionários, alfonsianos. Diploma esse, todo redigido em Latim, que a Família guarda com toda a veneração, gratidão e respeito. Foi o segundo oblato leigo da Congregação, na Província de São Paulo, sendo precedido apenas pelo ilustre senhor João Maria de Oliveira César, camareiro secreto de Sua Santidade o Papa Leão XIII, digno tesoureiro do Santuário de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, também muito amigo e benfeitor da Congregação Redentorista. Com o preparo intelectual e moral que meu pai recebera, fácil lhe foi ocupar lugar de destaque na imprensa local, colaborando no Jornal “Santuário de Aparecida”, do qual foi também gerente. Estimado na sociedade aparecidense, logo descobriu na humilde e modesta professora Marietta Vilela da Costa, também profundamente religiosa, católica praticante, a pessoa que poderia, como esposa, ser a mãe de seus filhos e formar com ele o consórcio perfeito de um lar cristão. Assim é que, diante do trono de Nossa Senhora Aparecida, no dia 27 de dezembro de 1919, casou-se com aquela virtuosa professora, com a qual ficou casado durante 19 anos e a qual lhe deu oito filhos. Estava formado mais um lar essencialmente cristão e a educação que os virtuosos pais deram aos filhos proporcionou a todos um crescimento e um amadurecimento profundamente cristãos e normais. Meu pai, preparado como era, batalhou incansavelmente pela emancipação política de Aparecida. Exclusivamente para isso, jornalista que era, fundou um jornal combativo, “A LIBERDADE”, no qual exercia todas as funções, desde a redação até a revisão e paginação, incluindo, ainda, a faxina da sala de trabalho. Durante quatro anos ele, sozinho, manteve o jornal, escreveu todas as matérias, alimentando na alma do povo o desejo cada vez maior da emancipação da cidade, do vizinho município de Guaratinguetá. A sua luta e seus suores não foram em vão: a sonhada e suspirada independência política de Aparecida aconteceu no dia 17 de dezembro de 1928 para grande regozijo de toda a população que, lembro-me muito bem, saiu às ruas cantando e comemorando a realização de um sonho há bastante tempo acalentado. É claro que essa emancipação política de Aparecida não se deu pelos esforços somente de meu pai, mas houve a conjugação de esforços de um punhado de homens e de mulheres, denodados batalhadores, que queriam o melhor para a cidade de Aparecida. Não foi o resultado dos esforços de qualquer outro, individualmente, mas de uma equipe de emancipadores. Meu pai foi um batalhador desde a primeira hora. Não esmoreceu um só momento, como outros também não esmoreceram. Lutou bravamente. Em 1929, tendo sido convidado, com insistência, para fundar um Colégio na cidade de Lins, São Paulo, para lá se transferiu com toda a família, isto é, com a esposa e com todos os filhos ainda pequenos. Fundou lá o Colégio São Luiz, o qual cresceu, prosperou e, pelo que sei, parece que se transformou em abalizada Faculdade. Lins não era, então, a cidade moderna e progressista que é hoje no Noroeste do Estado de São Paulo e, depois de algum tempo, meu pai compreendeu que o regresso a Aparecida se impunha, ainda mais que os amigos de cá reclamavam a sua presença, os antigos companheiros de lutas lhe acenavam com uma Coletoria Estadual. De mais a mais, o que mais pesou foi o transtorno que ocorreu na saúde dos filhos, dadas as asperezas do clima de lá. Voltou , assumiu a Coletoria, para o que não lhe faltavam competência e honestidade. Mas, também depois de algum tempo, por injunções políticas, essa coletoria passou para outras mãos. Nesse mesmo ano de 1929, seus amigos redentoristas, conhecendo a formação humanística de meu pai, convidaram-no para lecionar Português e Latim para as séries mais adiantadas do Seminário, que eram as que correspondem ao Ensino Médio. Deu aulas até 1938, ano de sua morte. Em 1932 foi nomeado prefeito da cidade pelo Governador de São Paulo, cargo esse que executou com grande dedicação e não menos esforços com probidade e zelo. Calçou muitas vias públicas, remodelou toda a antiga praça Nossa Senhora Aparecida e, se outras fossem as circunstâncias de seus dias de governo, maiores teriam sido, sem dúvida, as suas realizações. Basta dizer que naqueles tempos prefeitos não dispunham de carros do ano, de outras viaturas para os serviços dos diversos setores municipais e lembro-me muito bem de como eu “pegava carona” em algum cavalo que retornava às cocheiras da prefeitura, conduzido por um funcionário municipal. Em qualquer cargo que ocupasse, de prefeito, de coletor estadual, de jornalista ou de professor, a sua consciência jamais fê-lo dobrar-se ante exigências de políticos influentes. Em 1931, quando a verdadeira imagem de Nossa Senhora Aparecida foi levada triunfalmente à capital federal, que ainda era no Rio de Janeiro, para ser proclamada oficialmente pelo presidente da República, a “Rainha e Padroeira do Brasil”, coube também a meu pai, ao lado do comendador Salgado, do professor Chagas Pereira, do Sr.João Barbosa, do Sr.Benedito Barreto, a honrosa incumbência de ser um dos porta-estandartes da gloriosa e venerada imagem. Sempre preocupado também com o lado social da vida dos cidadãos, quando da fundação da Santa Casa de Misericórdia de Aparecida, prestou relevantes serviços a esse empreendimento e foi um ativo membro das primeira “mesa provedora” daquele hospital. De saúde sempre um tanto precária, seu estado agravou-se no segundo semestre de 1938, inclusive por efeito de circunstâncias políticas que não me agradam relembrar agora. Os cuidados e desvelos da família e os recursos da medicina não conseguiram deter o agravamento e a marcha acelerada da enfermidade. A hora de receber o prêmio de uma vida toda consagrada a Deus, à família e à prática do bem, havia chegado. Sempre assistido pelos seus amigos redentoristas, que lhe ministraram os últimos sacramentos, fechou tranquilamente os olhos para esta terra para contemplar Deus e a Virgem Maria no céu. Estava tão lúcido, tranquilo e sereno que ainda teve a preocupação de puxar um pouco para cima o lençol que o cobria para que o sacerdote que o assistia lhe ungisse os pés. Suas últimas palavras foram: “Isso me fará bem”! E partiu, sem agonia. Os carrilhões da Basílica Velha tocavam o Ângelus do meio-dia, do dia 24 de setembro, Dia de Nossa Senhora das Mercês. Era um sábado! Já se passaram 69 anos. As lágrimas derramadas à beira de seu túmulo caíram no esquecimento. Silêncio completo se fez sobre seu nome durante muito tempo. Lembro-me de que em uma das legislaturas municipais de alguns anos atrás, num dia de aniversário da Emancipação Política da cidade, os nobres senhores vereadores de então resolveram fazer uma homenagem aos emancipadores falecidos com uma romaria ao cemitério local. Mas nos seus andares pelo campo santo, não conseguiram descobrir o túmulo de meu pai e, assim, ele ficou sem as sentidas preces dos piedosos romeiros.
(*) Como este artigo foi publicado em 2007, Dom Pedro Fré CSsR já é falecido desde 3 de abril de 2014 e Dom José Rodrigues de Souza CSsR já é falecido desde 9 de setembro de 2012.
(**) Padre Luiz Inocêncio Pereira CSsR já é falecido desde 10 de janeiro de 2009
ALEXANDRE DUMAS PASIN |
Ierardi,
há tempo, eu queria falar com você sobre uma matéria que tenho em mãos sobre um
antigo seminarista, cuja história foi publicada em 15 de julho de 2007 num
jornal de Aparecida, história essa contada por seu filho também ex-seminarista
e oblato José Machado Braga. Trata-se de Júlio Machado Braga, nascido em 1892,
que entrou no seminário em 1907 e teve uma trajetória muito bonita,
tornando-se, após sua saída , oblato e professor do seminário. Numa reunião
Eneser em 2007, cheguei a propor que ele fosse declarado patrono da Uneser, foi
aceito de direito, mas não de fato. Entreguei um exemplar do jornal para o
Staliano, mas não sei se ele publicou na Uneserinterativa. Como você coleciona
história da vida de ex-seminaristas, poderei lhe ceder um exemplar do jornal,
só não sei como fazer para enviá-lo. Alexandre Dumas
ANTÔNIO IERÁRDI NETO |
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