PADRE RUBEM LEME GALVÃO(+) MISSIONÁRIO REDENTORISTA NA PAZ DO SENHOR |
O jejum da Quaresma era
rigoroso e, assim mesmo, respeitado.
Na Sexta-feira Santa então, o luto era total.
Os trens não
apitavam, os automóveis não buzinavam e em casa a gente
não podia cantar, falar alto e muito menos assobiar.
Era um silêncio geral em
respeito à morte do Filho de Deus, na Cruz.
Os sons dos sinos e campainhas
eram substituídos pelo estalar das matracas de madeira.
Na procissão do
enterro, ou do Senhor morto, não podia faltar ninguém.
As casas se
esvaziavam e a população comparecia em peso, e, atrás do esquife, a
multidão caminhava no mais profundo silêncio.
Ainda pequeno fui levado pelos meus pais para participar dessa cerimônia.
Em
dado momento pára a procissão para o tradicional canto da Verônica.
Embora muito longe para ouvi-la (não havia ainda os alto-falantes) paramos
também.
Quase esmagado no meio daquele povão, acostumados aos termos
da fazenda e sem entender o motivo daquela parada, falei bem alto:
-"EH!EMPACOU!..."
A seriedade daquele momento não impediu que muita gente risse alto de
minha intempestiva intervenção, assim como não impediu o doloroso beliscão
que minha mãe pespegou em meu braço.
Se não chorara pelo Senhor Morto, foi com lágrimas nos olhos que acompanhei
até o fim da cerimônia.
Até hoje, quando acompanho essa procissão, agora
como padre, e ouço o canto da Verônica, parece-me que ainda sinto no braço a
dor daquele tão longínquo beliscão.
REVISTA DE APARECIDA - MARÇO/2011
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