1-O
começo!
Era 1953...Órfão de
pai há quatro anos, com nove anos de idade, uma irmã de dois anos menos e uma
mãe que iria prosseguir na batalha da vida, agora sozinha, conduzida pela
obrigação maternal de criar os dois filhos, dando-lhes o presente bem melhor
que o passado, na perspectiva do futuro consistente sobre promissor . (....e
ela conseguiu...)
Em contato com sua
chefe, na creche do Lanifício Fileppo, indústria de tecidos no bairro do Belém,
em São Paulo-SP, encontrou um lugar para deixar-me em tempo integral, isto é,
internado. Era o Orfanato ( depois: Instituto ) Cristóvão Colombo, que está no
bairro do Ipiranga, à rua Dr. Mário Vicente.Uma casa de padres carlistas, ordem
cujo patrono é São Carlos Borromeo, que abriga por internato órfãos,
direcionando-os para o caminho da Verdade e Vida!
Ali fiquei por quatro
anos, continuando meus estudos do período primário e começando a aprender um
pouco mais das coisas do Pai. Uma vez por semana, pegava o bonde em seu ponto
inicial, em frente ao Instituto de Cegos Padre Chico, no Ipiranga, e ia até o
seu final à Praça João Mendes, com destino à Igreja de Santo Antônio, na Praça
do Patriarca, onde ajudava, durante o dia nas missas e outros serviços de
sacristia como dar informações, vender velas, recolher o dinheiro deixado nas
imagens e pedir às pessoas que não permanecessem nos degraus da entrada.
Comecei a conhecer
ali que a vida, ainda que, decorrendo de forma precária, pode ser vivida com
muita alegria e dignidade.
Esse modo de vida
aliado à necessidade de liberar minha mãe para o trabalho trouxe-me até
Aparecida-SP, ao Seminário Redentorista de Santo Afonso em 1957.
Foi vocação?
Entendo hoje que não.
Mas a convivência nesta nova casa começou a germinar em mim o ideal
missionário, no nascer de minha juventude: SER PADRE, MISSIONÁRIO,
REDENTORISTA, SANTO!
Em todos os meus
movimentos estava sempre presente em forma falada ou escrita essa aspiração (
ainda agora ressoam essas palavras no timbre da voz do Pe. Brandão em meu
consciente!).
Que coisa bonita! A
vocação religiosa redentorista começava surgir!
Foi-me indicado um
lugar para dormir e guardar minhas roupas e objetos...Mas isso era
temporário....
2- Os dias na
Pedrinha!
Que lembranças tenho
daqueles dias...
Tinha vindo ao seminário para ficar internado, considerando que minha mãe precisava trabalhar após a morte de meu pai.
Tinha vindo ao seminário para ficar internado, considerando que minha mãe precisava trabalhar após a morte de meu pai.
Fui para o PRÉSSA,
PRÉ-SEMINÁRIO SANTO AFONSO, na Pedrinha.
A princípio, fiquei muito assustado por não ficar nos cômodos bem instalados do SSA, SEMINÁRIO SANTO AFONSO, em Aparecida. Temi por não conseguir acostumar-me viver num local tão isolado da cidade, meio frugal, zona campestre...Vi um campo de futebol com algumas árvores ao lado e piscina sem azulejos, com ilha de concreto no meio....
A princípio, fiquei muito assustado por não ficar nos cômodos bem instalados do SSA, SEMINÁRIO SANTO AFONSO, em Aparecida. Temi por não conseguir acostumar-me viver num local tão isolado da cidade, meio frugal, zona campestre...Vi um campo de futebol com algumas árvores ao lado e piscina sem azulejos, com ilha de concreto no meio....
Dormitórios muito
simples, poucos banheiros, refeitório escuro...Capela bem diferente....
Era a minha primeira
impressão negativa, após ter conhecido o SSA.
De repente surge o
Pe.Brandão, sisudo, circunspecto e nos fez a primeira preleção...Era o primeiro
e inesquecível diretor!
Tudo designado, lugar
na capela, no refeitório, no dormitório, no salão de estudos...comecei a
ambientar-me...
Fui tomando gosto...A simplicidade de vida começou a fazer parte de meus sentimentos e o entusiasmo por isso ia brotando...PADRE,MISSIONÁRIO,REDENTORISTA,SANTO!
Era nosso ideal....Era nossa vocação....
Fui tomando gosto...A simplicidade de vida começou a fazer parte de meus sentimentos e o entusiasmo por isso ia brotando...PADRE,MISSIONÁRIO,REDENTORISTA,SANTO!
Era nosso ideal....Era nossa vocação....
Em seguida, conheci
um padre que falava baixinho, óculos pendurados no nariz, cabelos meio
encaracolados... era o confessor e orientador espiritual...o Pe. Antônio Borges....
De repente, surge um outro, um tanto discreto e até meio tímido, a princípio, seria o professor de matemática, o Pe.Fernandes....
Para completar, também de óculos, meio escuros, com as mangas da batina arregaçadas e olhar muito penetrante, era o Pe.Furlani, o ecônomo polivalente, era um “pé de boi”.
De repente, surge um outro, um tanto discreto e até meio tímido, a princípio, seria o professor de matemática, o Pe.Fernandes....
Para completar, também de óculos, meio escuros, com as mangas da batina arregaçadas e olhar muito penetrante, era o Pe.Furlani, o ecônomo polivalente, era um “pé de boi”.
Esta equipe de
orientadores daria início à minha formação cristã e cultural, quando estava
saindo do período de infância...Que sorte! Que “time”! Com certeza foi o início
perfeito para quem estava começando a escolher o que ser na vida...Surgia a
vocação religiosa naquela congregação que prima pela disciplina, obediência,
pobreza e objetivo na conquista das almas, pelas missões...
CONTINUA EM MAIS INFORMAÇÕES
Iniciamos nosso dia a
dia, em meio ainda a retoques na construção e aos caminhões de areia do
Sr.Geraldo, o basculante branco, que vinha ora de Aparecida, ora do
Potim...Quantas vezes andamos naquela carroceria...
E assim seguiu nossa vida campestre...
E assim seguiu nossa vida campestre...
No inverno era muito
frio...Mas alguns tomavam banho às 5:30h da manhã na piscina e depois ficavam
até de braços descobertos, porque a água parecia mais quente e adaptava nosso
corpo à temperatura ambiente...Mas havia um ritual para conseguir-se essa
façanha...Cinco minutos antes de soar o sino que nos despertava pela manhã
naquela hora, debaixo dos cobertores, trocávamos a calça do pijama pelo calção
de banho...Ao lado, dobrada e embrulhada na toalha, sobre nosso armário, ficava
a roupa que iríamos nos vestir. Ao soar o sinal de despertar, levantávamos
rapidamente, jogávamos na cama a camisa do pijama, pegávamos o “pacote” das
roupas, correndo pelas escadas e por aquela descidinha da entrada,
dirigíamo-nos até a piscina e sem parar um segundo, jogávamos ao lado as roupas
embrulhadas e mergulhávamos na água. Se alguém parasse no meio do caminho, com
certeza não teria coragem de pular na piscina. Às vezes deparávamos com uma
cobrinha d’água, visto que era corrente de um regato que sobre isso, nos dava
energia, supria nossa sede, mantinha a limpeza e era um dos principais
“elementos” do “seu” Zosa... Lembram-se do Sr.Zosa? O homem do
“mata-fome”(aquele pudim de pão nutritivo e pesado!) O nosso inesquecível
cozinheiro...que, por tantas vezes, estava de pé às 3h da madrugada, preparando
o nosso tutu de feijão para os passeios, aos Campos, Pedrona, Pilões e quando
fazíamos a pé o trajeto de 15km até o SSA, em meio aquele eucaliptal que
começava, mas demorava muito para acabar...
Falando em “seu”
Zosa, lembro-me de da.Alzira, sua esposa, que cuidava da faxina, ajudava na
cozinha e era uma “expert” em ervas...Uma vez, ao mergulhar na piscina, tive um
impacto da água direto na orelha e a água entrou no meu ouvido. Este começou a
doer talvez porque estava se iniciando um processo de inflamação...Era uma dor
muito chata...A da.Alzira pegou umas folhas de uma plantinha que tinha ao lado
de sua casa, ferveu-as, fez um caldo, embebeu o caldo num algodão e disse:
-Filho, vira a orelha!...-
-Filho, vira a orelha!...-
Assustado, falei:
-Da.Alzira, se a dor
que tenho é por causa da água que entrou, a senhora ainda vai colocar mais
líquido no ouvido?
-Fica quieto menino e faça o que estou mandando...
Sem alternativa, obedeci e lá veio o caldo verde e quente...
De repente, no ato, a dor sumiu... Sumiu e não voltou mais...Os famosos chás e caldos da Da.Alzira...
Vinham os passeios pela serra....Que passeios! Naquelas mochilas de caserna iam a comida e os respectivos utensílios...Em latas grandes redondas que foram de extrato de tomate era acondicionado o arroz e o tutu de feijão feitos pelas mãos sagradas do “seu”Zoza...Uma caixa grande de marmelada ou goiabada que seriam recortados e compunham a sobremesa. Era a mochila que ninguém gostava de levar: a caixa de madeira machucava as costas.
Equipados com roupa de campanha e uma bela bota, saíamos estrada e picadas afora, logo depois da missa diária, mas ainda muito cedo, quase madrugada...
Havia os Campos, que estão cerca de 2.000mt acima do mar, era um local dos mais altos da região. Andávamos um trecho em estrada e outro bom trecho em uma picada sinuosa que parecia nunca acabar e a paisagem ficava escondida por arbustos iguais, que nos davam a sensação de não sairmos do mesmo lugar. Sentíamos alívio quando ouvíamos os mais ligeiros gritarem
-Fica quieto menino e faça o que estou mandando...
Sem alternativa, obedeci e lá veio o caldo verde e quente...
De repente, no ato, a dor sumiu... Sumiu e não voltou mais...Os famosos chás e caldos da Da.Alzira...
Vinham os passeios pela serra....Que passeios! Naquelas mochilas de caserna iam a comida e os respectivos utensílios...Em latas grandes redondas que foram de extrato de tomate era acondicionado o arroz e o tutu de feijão feitos pelas mãos sagradas do “seu”Zoza...Uma caixa grande de marmelada ou goiabada que seriam recortados e compunham a sobremesa. Era a mochila que ninguém gostava de levar: a caixa de madeira machucava as costas.
Equipados com roupa de campanha e uma bela bota, saíamos estrada e picadas afora, logo depois da missa diária, mas ainda muito cedo, quase madrugada...
Havia os Campos, que estão cerca de 2.000mt acima do mar, era um local dos mais altos da região. Andávamos um trecho em estrada e outro bom trecho em uma picada sinuosa que parecia nunca acabar e a paisagem ficava escondida por arbustos iguais, que nos davam a sensação de não sairmos do mesmo lugar. Sentíamos alívio quando ouvíamos os mais ligeiros gritarem
-Chegamos!
Alguns corajosos tomavam banho em águas daquele ribeirão cuja temperatura poderia ser de 6 ou 8 graus acima...Um pouco de descanso da jornada e , em seguida, formavam-se as turmas de 5 ou 6 juvenistas que iam fazer alguma aventura no local...Apenas aqueles que eram designados para a cozinha ficavam para preparar a refeição , que após abençoada pelo padre que nos liderava, era distribuída para a fila de jovens que pegavam os pratos de alumínio, os talheres e as canecas que serviam para receber a groselha geladinha, feita com água pura e cristalina do ribeirão. Um dia, nesse passeio, entrei na fila e fui pegando tudo o que havia: o arroz, o tutu, o ovo cozido, o pãozinho e a caneca de groselha.....
-Ufa, peguei quase tudo! – Assim dizendo e olhando para os demais, vi meu prato cheio escapar das mãos e emborcar no chão...Tinha de começar tudo de novo!(Ainda bem que não era necessário pagar!)
Alguns corajosos tomavam banho em águas daquele ribeirão cuja temperatura poderia ser de 6 ou 8 graus acima...Um pouco de descanso da jornada e , em seguida, formavam-se as turmas de 5 ou 6 juvenistas que iam fazer alguma aventura no local...Apenas aqueles que eram designados para a cozinha ficavam para preparar a refeição , que após abençoada pelo padre que nos liderava, era distribuída para a fila de jovens que pegavam os pratos de alumínio, os talheres e as canecas que serviam para receber a groselha geladinha, feita com água pura e cristalina do ribeirão. Um dia, nesse passeio, entrei na fila e fui pegando tudo o que havia: o arroz, o tutu, o ovo cozido, o pãozinho e a caneca de groselha.....
-Ufa, peguei quase tudo! – Assim dizendo e olhando para os demais, vi meu prato cheio escapar das mãos e emborcar no chão...Tinha de começar tudo de novo!(Ainda bem que não era necessário pagar!)
A volta era sempre
mais fácil...só descida!
Na serra ainda havia os Pilões... Era um passeio que fazíamos apenas pela estrada, mas era mais longo...Até diziam que estava bem próximo da divisa de São Paulo e Minas Gerais.
Na serra ainda havia os Pilões... Era um passeio que fazíamos apenas pela estrada, mas era mais longo...Até diziam que estava bem próximo da divisa de São Paulo e Minas Gerais.
Soube que em um
desses passeios, um grupo de juvenistas ficou interessado em chegar à divisa,
como tinha orientado o Pe.Fernandes. Esse grupo seguiu em frente em busca de um
regato que atravessava a estrada que, segundo o padre, dividia os estados. O
grupo foi em frente e alguns quilômetros adiante, chegaram ao “famoso” regato.
Em meio a essa turminha havia um mineirinho, que passou por outro lado do
riacho e começou a inspirar e expirar ruidosamente o ar...Ele sentia-se bem em
estar no seu estado, Minas Gerais...
-Isto que é ar! Que
ar puro! Melhor não existe! – e olhava ora o céu, ora o pessoal e batia
levemente com as duas mãos socadas no seu peito...Os demais admiravam a alegria
do mineirinho!
Entretanto, passou
por ali um morador daquela região que, por certo, deixava a roça para o seu
almoço ainda matinal. O grupo cumprimentou aquela pessoa e confirmou-lhe que
eram os “fios” do padre... Ao ser perguntado sobre a divisa dos estados, ele
balançou negativamente a cabeça e disse:
-Óia, menino, a
divisa ainda fica a uns 10km daqui...aqui ainda é Estado de São Paulo!
E o mineirinho? Cadê?
Tinha sumido já
quando o campônio havia balançado negativamente a cabeça!
E as tardes de
domingo....Formavam-se grupos de 5 ou 6 que saíam para as famosas
pescarias...Alguns iam pescar lambaris na sensibilidade do peixe no anzol ao
deixar seguir a isca na correnteza. Outros iam debaixo de uma ponte e pescavam
carás. Aqueles que não eram tão habilidosos com as varas, deixavam a isca
repousar no fundo do ribeirão e conseguiam pegar os famosos mandis de ferrão
afiado. Mas havia aqueles que pegavam um saco de estopa e davam “batidas” nas
margens do rio, conseguindo cascudos e camarões de água doce...Muitas vezes
comíamos ali mesmo os camarões ainda crus. Uma vez pegamos uma traíra(dentuça!)
que estava “dormindo”...(Não é mentira de pescador!). Depois, tudo na mão do
“seu” Zosa era frito para a degustação dos pescadores.
Outra opção aos domingos era subir o Morro do Gigante que havia ao lado. (O gigante que estava deitado!)
Entretanto, às 18h todos tinham que estar na capela, devidamente banhados e trocados para a bênção do Santíssimo, ao som do Tantum Ergo!
Outra opção aos domingos era subir o Morro do Gigante que havia ao lado. (O gigante que estava deitado!)
Entretanto, às 18h todos tinham que estar na capela, devidamente banhados e trocados para a bênção do Santíssimo, ao som do Tantum Ergo!
Com a maravilha do
mundo da internet hoje consigo ver mais completas as obras de Cornélio Pires.
Sim, o autor das aventuras mirabolantes, destemperadas e grotescas de Joaquim
Bentinho. Por que essa lembrança? Ah! O Pe.Fernandes....Ele sentava-se numa das
muretas do pátio interno, ficávamos sentados no chão em sua frente, ele abria
um livrinho e lia:” ...JOAQUIM QUEIMA-CAMPO. É um caboclinho mirradinho,
olhinhos vivos, barbica em três capões: dois de banda e um no queixo; bigodes
podados a dente, desiguais e sarrentos; nariz de bodoque, aquilino, recurvo,
fino, entre bochechinhas chupadas; dois dentões amarelos, os caninos, que só aparecem
quando ri, quais velhos moirões de porteira abandonados; rosto em longo
triângulo; cabeçudinho; cabelos emaranhados; orelhinhas cabanas, cada qual
suportando o seu toco de cigarro, amarelentos e babados.De camisa, de algodão
riscado, aberta ao peito, deixa ver pendurada no magro pescoço de cordeveias
salientes, uma penca de "bentinhos", favas de Santo Inácio e patuás
com rezas que servem para "fechar" o corpo e evitar mordedura de
cobras.Baixinho, miudinho, desnalgado, perninhas finas e canelas luzidias,
brilhantes ao reflexos do fogo, ao pé do qual nós reunimos todas as noites, o
Joaquim Bentinho é um serelepe, espertinho e perereca...Observei que, como os
outros roceiros, traz uma das pernas da calça arregaçada mais alta que a outra.
Porque será? Depois de muito maturar, descobri que é para evitar que o
enrodilhado de uma perna se esfregue no outro, ao ser mudado o passo, rustindo
e estragando a roupa...Mas, vamos aos "causos"...”
Era o nosso
programinha de TV, ao vivo, acompanhando as mímicas engraçadas do saudoso
Pe.Fernandes, quando, com muito entusiasmo nos lia aqueles trechos
interessantes do autor! Quantas vezes ele leu esse trecho e para quantas
pessoas!
O Pe.Brandão e os
seus confrades de lá sempre temiam pela integridade física dos jovens...
Um dia veio uma gripe
contagiosa contraída na região e parece-me que esteve em diversas outras partes
do país...Chamamos: Gripe Espanhola! Quase todos os colegas ficaram
acamados...Como não fui dela acometido, passei a ajudar os poucos, que estavam
sãos, a levar remédios, comida e água aos que ardiam em febre...Foram momentos
de muita apreensão....Mas graças ao bom Deus, tudo passou sem quaisquer
resquícios negativos...Todos sararam...e aí caí sozinho de cama...Uma vantagem:
Tive muitos colegas disponíveis para cuidar de mim!
O Pe.Furlani, dirigindo a camionete..., ali vinha o nosso sustento...O Pe.Borges, a cavalo, ora dirigindo-se à vila de São Lázaro, para rezar a missa, ora mesmo na capelinha do bairro da Pedrinha, cuidando, para as pessoas de fora, dos assuntos de Deus.
O Pe.Furlani, dirigindo a camionete..., ali vinha o nosso sustento...O Pe.Borges, a cavalo, ora dirigindo-se à vila de São Lázaro, para rezar a missa, ora mesmo na capelinha do bairro da Pedrinha, cuidando, para as pessoas de fora, dos assuntos de Deus.
Foram momentos
inesquecíveis e muito oportunos para nossa formação. Éramos do PRÉSSA e
sonhávamos o SSA, em Aparecida, depois o noviciado em Pindamonhangaba e
finalmente Tietê, o seminário maior.
3-O
SRSA-Seminário Redentorista Santo Afonso
É a casa para
formação dos missionários redentoristas, aos pés da Padroeira da cidade, Nossa
Senhora Aparecida.
Lá cheguei para ficar
por mais seis anos, completando ainda três anos de ginásio (primeiro grau),
considerando que tinha cumprido meu primeiro ano na casa da Pedrinha, e mais
três anos de um misto de Clássico/Científico (segundo grau).
Ali os estudos eram
intensos e havia muito rigor no ensino das matérias. Aulas diárias de português
e latim. Aprendizado de línguas como o francês, inglês e até o grego! A
matemática englobava a aritmética, a álgebra, geometria e trigonometria. Além
disso tudo a física e a química com suas fórmulas e experimentos...
O Padre Rodrigues,
José Rodrigues de Souza, era o professor de português. Baixinho e magrinho, de
cabelo penteado como típico argentino. Mas escrevia no espaço total do quadro
negro, ainda que necessitasse ficar nas pontas dos pés e depois sair com
resíduos de giz na ponta do nariz. Sua letra era muito bonita. Era exigente e
gostava de corrigir com caneta de tinta bem vermelha, chamando a atenção para
os erros. Às vezes havia mais vermelho do que azul, após a correção da lição de
casa. Ele ajudou o Professor Napoleão Mendes de Almeida a fazer a GRAMÁTICA
METÓDICA DA LÍNGUA PORTUGUESA.
O Padre Azevedo, além
de ser o meu confessor espiritual, era o professor de Latim. Muito consciente e
preciso na matéria, com base no manual ARS LATINA, passava-nos o conhecimento
da língua morta que estava presente em todas as celebrações religiosas e nos
breviários de orações diárias que eram cumpridas por todos os padres
religiosos.
A matemática ficava
por conta do Padre Cherubini, que tinha muita afinidade no mundo da física e
química. Era um brilhante professor...um cientista!
O Padre Isidro, por
meio do MY ENGLISH TEACHER e do YASIGI METHOD, ministrava-nos o conhecimento da
língua inglesa e o francês ficava por conta do Padre Vitor Hugo.
O Padre Peixoto
mostrava-nos os caminhos das plantas pela Botânica.
Os conhecimentos de
História Geral eram transmitidos pelo Padre Carlos Silva. Aqui uma lembrança
especial: o Padre Silva ficou pelo menos três meses ensinando sobre Napoleão
Bonaparte, de quem era um fã decidido! Conta-se ainda que o Pe. Silva
desenvolvia particularmente estudos sobre fenômenos científicos, como a “transmissão
de pensamentos”. Dizem, após ter saído do seminário maior em Tietê, já sagrado
sacerdote, tinha ainda de continuar estudos sobre a História da Igreja e
Teologia ainda por cinco anos, ao mesmo tempo que desempenhava suas funções
sacerdotais. No final de cada ano, eram enviadas, pelos teólogos do seminário
maior de Tietê, as questões no sentido de fazer a complementação dos estudos.
Em uma dessas ocasiões na conversa de recreio, o Pe. Silva falou a um confrade
que conseguiria saber por antecipação, isto é sem qualquer informação da equipe
examinadora e antes mesmo do conhecimento do Padre Penteado, então reitor do
SRSA, quais seriam as questões definidas em Tietê, apenas precisava saber o
momento em que estariam sendo elaboradas.
O confrade duvidou e,
com a devida anuência do Pe. Silva, falou com o padre reitor sobre aquele
assunto. O Pe. Penteado, quando tinha as questões em mãos, chamou o Pe. Silva e
solicitou-lhe que informasse seu conteúdo.
O Pe. Silva, sem
qualquer conhecimento prévio da prova, mencionou ao Pe. Penteado as 5 perguntas
ficando apenas uma inversão entre a 4ª e a 5ª.
Ao consultar os
examinadores de Tietê, o Pe.Reitor soube que foi cogitado o cancelamento da 4ª
questão, mas isso não foi efetivado e o que antes era o item 4 passou a ser 5 e
vice-versa. Conclusão: o Pe. Silva havia acertado inclusive a ordem inicial das
perguntas. (Em 2008, ao participar do XIII ENESER, tive a confirmação direta do
Pe. Silva desse fato!)
Época de campanha
eleitoral, 1.962....
Em cena, os
candidatos ao governo paulista:Jânio da Silva Quadros, José Bonifácio Coutinho
Nogueira, Dr. Adhemar de Barros.
Os candidatos
visitavam os padres para pedir apoio....
Em geral, foram recebidos com muita cortesia e até pompa.....
O Sr. Jânio atrasou sua chegada, como de costume, em 2 horas....mas foi muito bem recebido e falou muito da sua reconquista ao poder.....
Em geral, foram recebidos com muita cortesia e até pompa.....
O Sr. Jânio atrasou sua chegada, como de costume, em 2 horas....mas foi muito bem recebido e falou muito da sua reconquista ao poder.....
O Sr. José Bonifácio,
candidato de coligação grande, PR-PDC-UDN-PTB e PRP, com o apoio direto do
então governador Carvalho Pinto, que se colocara contra o seu criador, o Sr. Jânio
Quadros, tinha a simpatia do clero e andava sempre ao lado do então governador.
Mas o Dr. Adhemar de
Barros foi recebido friamente. Lembro-me muito bem que apenas um dos padres, o
Pe. Carlos Silva, via no Dr. Adhemar o político consistente que daria mais
tranqüilidade ao país, após a irresponsável renúncia do Presidente Janio
Quadros...
Ninguém queria gravar
o discurso do Dr.Adhemar.
Fui ao Pe. Carlos Silva, pedi que arranjasse um gravador e, com muito orgulho, gravei as palavras daquele grande estadista, segurando ao seu lado, bem pertinho, o microfone e aí ouvi algo muito interessante naquela campanha.
O Dr. Adhemar começou sua preleção dizendo que sua campanha era uma campanha de revolta....Ele queria segurar o "demônio" pelos chifres, referindo-se ao candidato oposto Sr. Jânio Quadros. Explicou que tinha oferecido ao Professor Carvalho Pinto apoio ao seu candidato Sr. José Bonifácio, que ainda considerava imberbe, uma “tenra criança” que teria muitas dificuldades para enfrentar a grande fera(Sr. Jânio). Mas o Prof.Carvalho Pinto não aceitou o apoio do Dr. Adhemar.
Fui ao Pe. Carlos Silva, pedi que arranjasse um gravador e, com muito orgulho, gravei as palavras daquele grande estadista, segurando ao seu lado, bem pertinho, o microfone e aí ouvi algo muito interessante naquela campanha.
O Dr. Adhemar começou sua preleção dizendo que sua campanha era uma campanha de revolta....Ele queria segurar o "demônio" pelos chifres, referindo-se ao candidato oposto Sr. Jânio Quadros. Explicou que tinha oferecido ao Professor Carvalho Pinto apoio ao seu candidato Sr. José Bonifácio, que ainda considerava imberbe, uma “tenra criança” que teria muitas dificuldades para enfrentar a grande fera(Sr. Jânio). Mas o Prof.Carvalho Pinto não aceitou o apoio do Dr. Adhemar.
Assim, ele partiu
para uma campanha isolada, sem apoios, contra tudo e todos, inclusive não
recebendo o beneplácito da igreja católica.
Venceu, segurou os
chifres do "demônio" e mostrou o "beabá" da política ao
inexperiente Prof.Carvalho Pinto, que se tornara governador apenas graças ao
eleitorado robusto do Sr. Jânio Quadros....
Foi o meu primeiro
voto....comecei muito bem....Sempre orientado pelo Pe. Silva que munia as
exposições periódicas com as notícias sobre o Dr. Adhemar.
Nossos horários
compreendiam as missas diárias e orações, estudos com aulas em tempo integral
nas segundas, quartas e sextas e em meio período nas terças e quintas. Tínhamos
nossos momentos de lazer com jogos de futebol ou vôlei nas tardes de terças,
quintas e sábados e nos domingos fazíamos algum passeio ora na Fazendinha, ora
no Potim ou mesmo na visita ao novo santuário que começava surgir.
Num desses passeios à
Fazendinha que ficava em Aparecida, do outro lado da via Dutra, lembro-me que voltava pela estradinha
de terra na companhia de mais ou menos 20 colegas....
De repente ouvimos um
grito estridente do caseiro da fazenda:
-OLHA A VACA BRABA!
Olhamos para trás e
realmente vimos uma vaca pretinha, de cabeça abaixada e chifres em riste, dirigindo-se arfante e bufante à nossa
direção.
No mesmo momento,
todos saíram da estrada, passando pela cerca de arame.
Quando o caseiro
domou aquela rês e nos devolveu a tranqüilidade, tentamos voltar à estrada pelo
mesmo local de onde tínhamos atravessado. Mas como? A cerca era alta e o espaço
entre os arames farpados era bem menor do que nossos corpos. Ficou-nos uma
dúvida para qual até hoje não consegui explicação:
-Como saímos da
estrada por aquela cerca alta e de arames farpados, colocados muito próximos
uns dos outros, deixando pouco espaço para nossos corpos? E, mais intrigante,
como não tivemos um único arranhão naquela hora de desespero?
Dizem que foi nosso
instinto de conservação.....
Mas ainda sobre esses
passeios, o Pe.Neri contou-nos uma historinha muito interessante. Tratava-se de
um colega de sua época de nome Lancelote.
Em uma ocasião,
quando saíram a passeio, o menino teve vontade de ir ao banheiro. Mas eles
estavam no meio do mato e ali só havia moitas.
O Lancelote foi para
trás de uma moita para poder fazer sua necessidade.
De repente surge uma
vaca que começou a comer as folhas próximas da moita e da própria moita.
O Lancelote, não
sabendo do que se tratava, ouvindo barulho muito próximo e percebendo
movimento, levantou a mão, gritando:
- HEI! TEM GENTE!
Às tardes de domingo
jogávamos futebol. A turma dos menores, no seu campinho que ficava entre o muro
da rua e o campão dos maiores. Num patamar superior, à esquerda do campo dos
maiores, estava o campo médio da turma dos médios. Era tudo muito proporcional.
Algumas vezes nosso
time dos maiores, que contavam com bons jogadores principalmente do Amazonas e
de Goiás, jogavam com algum time de fora. Até um time reserva da cidade de
Aparecida veio uma vez e, como não poderia ser diferente, sob o comando do
famoso titular Charles, venceu nossos colegas.
Quando festejávamos a
festa de Santo Afonso, foi organizada um jogo de futebol entre padres,
inclusive os do santuário, e os nossos seminaristas maiores.
Os seminaristas
venceram.
Entretanto, foi muito
marcante o momento de que nunca vou me esquecer. O Pe.Vitor Coelho de Almeida, que
estava presente entre a torcida, de repente pediu para entrar no jogo. Arregaçou
as mangas, prendeu as pontas da batina no cinto do rosário e foi para a área
participar de um escanteio a favor do time dos padres....Adivinhem....
Ele fez o gol de
cabeça....deu um pique feliz e saiu de campo realizado....afinal seus pulmões
não agüentavam muito.....
A VOCAÇÃO SACERDOTAL
Foram 6 anos no
seminário.
Tive um confessor no
seminário, o falecido Padre Azevedo Tofuli, meu professor de Latim, que
mensalmente, por um contato direto, ouvia-me em colóquio e pelos seus conselhos
orientava-me em meu caminho ao sacerdócio. Esse franco contato levou-nos à
conclusão um dia de que minha verdadeira vocação seria a formação de uma
família ao invés de um compromisso pelos votos religiosos. Foi pelo seu
conselho que saí do seminário e formei
minha família , constituída e realizada, que já trouxe ao mundo três filhos e
quatro netos.
Era o caminho que
devia ser seguido!
Ierardi, a história é a mesma..só mudam data e o nome. ...eu entrei em 1959...Lembro-em bem da visita dos políticos, do Pe Victor jogando bola com a gente e tudo mais. Excelente. (já disse alguém: recordar é viver) Ivanir Vicári
Eu vivi todos estes fatos, porém acredito que nesta época 1962 começava nos menores. A única diferença foi o professor de latim que era o Pe. Magalhães e a presença do Pe. Zômpero. Realmente, para mim o Pe. Silva foi um diferencial em suas aulas de história. Conseguia formar os grupos que se dividam em fãs dos grandes "generais" da história os fãs de Atila, Rei dos Hunus (eu), Aníbal, Alexandré, o Grande, Genjiscan e tantos outros... Além das maravilhosas aulas sobre o Egito antigo e a Grécia. Olavo Caramori
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