Abner Ferraz de Campos |
Padre
Sidney ouvindo as Quatro Estações de Vivaldi para acalmar a mente, dormir, descansar
e poder enfrentar um novo dia cheio de problemas e incertezas. O telefone o
tira dos devaneios. Deixando tudo de lado, sai correndo para a pequena capela
ao lado. Toma o Santo Viático nas mãos, cobre-o com uma toalha de linho branco
e sai em disparada. Ele
precisa correr. Tem que ser mais rápido que a morte, Só Cristo venceu a morte.
Embora preocupado, segue seu caminho, orgulhoso por poder andar pela rua com um
Deus mais vivo que nunca em suas mãos. Sentia-se um Deus e poderoso como Deus. E ter o poder de curar uma alma e coloca-la sã
e salva nos braços do Pai. É aqui a casa, pensou e entrou sem tocar a
campaninha ou bater. Se a morte entra sem bater, padre Sidney também entra,
ainda mais se estiver com o Deus vivo. Uma voz de um quarto em penumbra disse: “é
você, padre Sidney? Entre.” Ele entra, mas a cena é bem diferente. Um quarto
todo perfumado, flores vermelhas, musica suave, em fim uma armadilha muito bem
preparada. Preparada para acabar com ele e com o Deus vivo que sempre morou em
seu coração.
Padre
Sidney era jovem, bonito por dentro e por fora, e com um vigor físico bem maior
do que os homens de sua idade. Enquanto milhões de coisas passavam pela sua
cabeça, a voz continuava, “entre, não tenha medo, estou sozinha lhe esperando.
Meu marido viajou e só voltará daqui três dias; Venha, dê-me as mãos que vou conduzi-lo
para um céu nunca imaginado” Padre Sidney apavorado, chocado, sem saber o que
fazer, ou falar, apertou com força no peito o Cristo. Sufocados. O quarto e a cama arrumada. O vaso de rosas
vermelhas no criado mudo. O champanha e duas taças de cristal. O castiçal com
velas vivas. A música suave e o cheiro do pecado inundando tudo, principalmente
a alma do padre. A camisola cor de rosa, diáfana, quase transparente,
insinuando as formas de uma mulher linda, cabelos longos, negros e sedosos
caindo sobre os ombros desnudos, pronta para acolhê-lo em seus braços. Linda
como nunca e tentadora como o próprio diabo, e num clima que só um diabo muito
astuto podia criar.
Padre
Sidney, suando frio, sai em disparada, apertando com mais força ainda o Viático
contra o peito, tentando transferir a força do coração de Jesus para o seu,
enfraquecido como nunca. Sentia-se como um Tarcísio, fugindo dos soldados romanos.
O coração em brasa. O
desejo e o medo o devorando, arrancando a sua carne jovem aos nacos, como um monstro
insaciável. Não parava de cheirar, lamber o sangue que fervia em seu corpo quente.
A alma imortal agonizando, correndo pela rua deserta, cambaleando e morrendo
aos poucos no resfolegar da boca seca.
Três
dias de retiro espiritual, três dias de silencio. Só assim se pode ver e sentir
bem de perto o Deus todo poderoso. Todos têm um dia a sua Sarça Ardente. É só
querer. Silêncio, silêncio. Oração, meditação. Mas o silêncio e o retiro também
podem preparar um cantinho no seu pensamento onde a maldade se instala e se
aflora. O desejo e o pecado passeando de
mãos dadas pelos corredores intermináveis do seminário se insinuando aos
incautos retirantes. O que mais se ouvia era inferno, inferno, pecado mortal, aquele
que mata e condena a alma para o fogo eterno, se não tiver o arrependimento.
Como se arrepender de um pecado sabendo que ele vai voltar com toda sua força?
Como saber se realmente eu me arrependi e não foi só um fingimento por medo de
Deus e do inferno? Como saber se fui perdoado? Que seria do diabo se nós não
tivéssemos mais pecados? A morte e o
sangue de Cristo perderiam o sentido. Tudo era silêncio, nas gramas dos
jardins, nem os insetos falavam. As rosas pareciam mais tristes, nem uma brisa
soprava. Apenas os Jabotis se espreguiçavam ao sol e aproveitavam o silencio
para se amarem Não pensavam em Deus, diabo, pecados, essas coisas que afligiam a
cabeça de um menino de doze anos; Os Jabotis se amando. Sem presa, e sem medo.
Casco contra casco. O diabo de camisola cor de rosa tentando o padre Sidney. Formas
lindas, macias como pétalas de rosas. E se colocarem uma camisola no jaboti? Acho
que não ia dar certo. Tinha que ser mesmo casco contra casco, era a natureza. A
mulher é o instrumento do diabo! Por que o diabo tinha que usar justamente a
mulher para nos tentar e levar-nos para o inferno? Mas Deus não fez a mulher
para ser companheira do homem? Mas ela fez uma aliança com o diabo, pecou e
levou seu companheiro também para o pecado. Está aí a explicação. A impressão é
que o resgate da mulher e do homem não
foi aceito nem assimilado pelos padres educadores. As mulheres continuavam sendo
aquela ameaça de perigo permanente, vista pelos clérigos medievais. A mulher
continuava sendo o instrumento melhor que o Diabo tinha para nos fazer pecar. Nada
mais lógico para os clérigos antigos e modernos com cabeças antigas. O maior
perigo para a castidade e a pureza era a mulher, um mal necessário, necessário
porque paria e paria também homens. Houve até um religioso da Reforma que
disse, ser melhor que a mulher parisse
um homem e morresse no parto. A diferença da mulher e o homem, é que ela foi
feita, não criada, de uma costela falsa do primeiro homem, falsa e de carne, ligada
à concupiscência e à tagarelice. Se ela não fosse tagarela, não
conversaria com a serpente. A mulher era um mal necessário.
Pela
atitude dos seminaristas, compenetrados, parece que ninguém naquela casa tinha
desejos impuros nem maus pensamentos nem pecados. Todos eram santos do modo de
cada um. Que vontade que dava de ser um
cágado e não passar por essas de pecado e inferno. Não seria mais interessante ter
vindo ao mundo como um bicho qualquer e viver conforme a programação do Criador,
prestando toda honra e gloria sem lhe dar dor de cabeça e trabalho para o diabo?
Não sei. ABNER
Meu grande amigo, Abner, também a todos os nossos coetâneos dos áureos tempos de seminário, Dumas, Bené et caterva, dispomos aqui, tanto pelo Facebook como pelos blogs grande oportunidade de mostrarmos a todas as pessoas aqueles tempos que ajudaram na construção de nossas vidas. Assim, continuem sempre relatando todas as REMINISCÊNCIAS possíveis de se lembrar...Isso é uma forma grandemente positiva de veicular mensagens!!!!Um grande abraço! A.Ierárdi
Olha Alexandre, o meu problema é 90% como os seus. Desde bem pequeno eu fui aterrorizado com o pecado pecado, com diabo e com o inferno lugar que me esperava se não fosse bom.Entre no seminário, mas o problema aumentou ainda mais. Fui torturado durante todo meu período de seminário, e acabei saindo, mas a tortura continuou até pouco tempo. Eu via o diabo em todo lugar onde ia, quando dormia acordava com o coração na boca, luzes piscavam no meu quarto que eu até caia da cama e acordava e tinha medo de dormir novamente. Aos 65 eu tive um filho e vendo aquela criança sem proteção nenhuma que dependia de outros para viver, caso contrário morreria, questionei tudo e comecei abolindo o diabo de minha vida de uma vez por toda, nunca mais pensei nele, como repentinamente parei de rezar, eu rezava terços e mais terços. Parei com tudo, faz uns 15 anos, até hoje não rezei mais. Rezo apenas quando alguém pede uma oração para alguém que está doente. Então eu rezo um pouco, mas não sei se vale alguma coisa.Acredito em Deus, mas não naquele que me mostraram a quase toda a vida. Hoje sou tranquilo, e acho oque me encontrei. Eu tenho escrito umas 150 páginas com análises de vários acontecimentos do seminário, como esse do Retiro. Escrevi sobre os passeios na serra, sobre o três a três depois do jantar, sobre o recreio da noite e outros. Sobre os colóquios que fazíamos com o diretor espiritual, sobre a amizade particular, separação de turma e outros. Mas é isso. É bom conversar com você. Escrevi muito, me desculpe , mas já que está escrito, está. "Quod scripsi, scriptum est." rsrsrsr . Abner Ferraz de Campos
Meus amigos Abner, Dumas...que grata surpresa vocês me mostram...Tudo como vocês dizem aconteceu comigo no SRSA e hoje acontece na minha vida...Também distanciei-me das praticas católicas....Lembro-me que quando estávamos no seminário o silêncio, principalmente na capela, era obrigatório...nada de acenos e palmas...apenas mãos postas....Há uma igreja ao lado de minha casa...simplesmente não consigo suportar o show de bateria e as cantoras salmistas fífias que se apresentam em três missas nos domingos... No nosso tempo existia todo cuidado na preparação para o voto do celibato....Hoje nas tvs vejo sacerdotes abraçados sempre com mocinhas bonitas...e os padres da basílica de Aparecida até participaram no enredo de escola de samba no carnaval levando Nossa Senhora para o desfile carnavalesco aqui de São Paulo...(Pe.Vitor Coelho deve ter se remexido nas cinzas...) Por fim, não consigo me conformar com o fato de padres católicos aliarem-se a comunistas ateus a título de defesa dos mais necessitados...Por todas essas razões...e ainda tenho outras que gostaria de ter mostrado em fórum nos encontros da UNESER e nunca me foi possível fazer, é que também me afastei desse pessoal hoje que não está preparado para fazer um sermão...apenas homilias...Dumas você disse bem, Cristo repartiu o pão com Judas e com Pedro...este iria negá-Lo em seguida e depois ficou Papa!!! Abner...tenho ainda mais alguns textos seus...se não achar inconveniente vou publicá-los....aliás devo ter mais uns dois ou três que me mandou...vc fala em 150...mande para mim!!!!Um abraço a ambos!!!! Ierárdi
Gostei, é por aí mesmo, a diferença entre nós é que abandonei tudo muito antes, aproveitei conselhos de meu espiritual, padre Rodrigues, saí do seminário por já estar em estado crítico em relação ao pecado, acordava esse padre às duas, três ou outra hora da madrugada em função de meus hipotéticos pecados, iria para o inferno se não me confessasse, ele, quando me dispensou de ir para o noviciado, aconselhou que me afastasse um pouco dos sacramentos e me restringisse somente a ir à missa aos domingos, fiz isso por trinta e cinco anos, depois me reconciliei com a eucaristia, confessionário, nunca mais, assim mesmo, sinto-me integrado à igreja, despida, é lógico de dogmas e outras verdades impostas, o catecismo dizia em sua introdução que a fé é uma graça divina, creio, pois, na medida exata da graça recebida e me convenci que não existe pecado contra a fé. Alexandre Dumas Pasin de Menezes
O meu problema se alongou porque não tive um conselheiro ou alguém que me orientasse. Descobri tudo sozinho e resolvi o problema embora bem tarde, mas melhor tarde do que nunca. abraços! Abner Ferraz de Campos
No seminário, eu criança e rapazola, detestava ficar três dias totalmente calado. Estive um pouco com os beneditinos e sai rápido, pois lá só falava com o abade..Benedito Franco
Rapaz, consegui ler todo o libelo. Sexo, pecado, inferno, eram temas constantes no seminário, não gosto de abordar esse assunto, minhas reminiscências abrangem somente o lado bom, que me traz prazer e saudades. A despeito , algumas vezes, me vejo envolto em tudo isso nos meus sonhos, melhor, pesadelos. Quando saí do seminário, rompi com o pecado, nunca mais me confessei ou procurei a ajuda de um padre para esse assunto. Aboli também o inferno de minha vida, rompi com o diabo, me confesso a Deus e nele coloco toda a minha confiança, não tenho escrúpulos ao me aproximar da eucaristia, quando a instituiu, Cristo a distribuiu indistintamente, sem prévias condições, aos apóstolos e conclamou-os a continuar fazendo isso em sua memória.Alexandre Dumas Pasin de MenezesOlha Alexandre, o meu problema é 90% como os seus. Desde bem pequeno eu fui aterrorizado com o pecado pecado, com diabo e com o inferno lugar que me esperava se não fosse bom.Entre no seminário, mas o problema aumentou ainda mais. Fui torturado durante todo meu período de seminário, e acabei saindo, mas a tortura continuou até pouco tempo. Eu via o diabo em todo lugar onde ia, quando dormia acordava com o coração na boca, luzes piscavam no meu quarto que eu até caia da cama e acordava e tinha medo de dormir novamente. Aos 65 eu tive um filho e vendo aquela criança sem proteção nenhuma que dependia de outros para viver, caso contrário morreria, questionei tudo e comecei abolindo o diabo de minha vida de uma vez por toda, nunca mais pensei nele, como repentinamente parei de rezar, eu rezava terços e mais terços. Parei com tudo, faz uns 15 anos, até hoje não rezei mais. Rezo apenas quando alguém pede uma oração para alguém que está doente. Então eu rezo um pouco, mas não sei se vale alguma coisa.Acredito em Deus, mas não naquele que me mostraram a quase toda a vida. Hoje sou tranquilo, e acho oque me encontrei. Eu tenho escrito umas 150 páginas com análises de vários acontecimentos do seminário, como esse do Retiro. Escrevi sobre os passeios na serra, sobre o três a três depois do jantar, sobre o recreio da noite e outros. Sobre os colóquios que fazíamos com o diretor espiritual, sobre a amizade particular, separação de turma e outros. Mas é isso. É bom conversar com você. Escrevi muito, me desculpe , mas já que está escrito, está. "Quod scripsi, scriptum est." rsrsrsr . Abner Ferraz de Campos
Meus amigos Abner, Dumas...que grata surpresa vocês me mostram...Tudo como vocês dizem aconteceu comigo no SRSA e hoje acontece na minha vida...Também distanciei-me das praticas católicas....Lembro-me que quando estávamos no seminário o silêncio, principalmente na capela, era obrigatório...nada de acenos e palmas...apenas mãos postas....Há uma igreja ao lado de minha casa...simplesmente não consigo suportar o show de bateria e as cantoras salmistas fífias que se apresentam em três missas nos domingos... No nosso tempo existia todo cuidado na preparação para o voto do celibato....Hoje nas tvs vejo sacerdotes abraçados sempre com mocinhas bonitas...e os padres da basílica de Aparecida até participaram no enredo de escola de samba no carnaval levando Nossa Senhora para o desfile carnavalesco aqui de São Paulo...(Pe.Vitor Coelho deve ter se remexido nas cinzas...) Por fim, não consigo me conformar com o fato de padres católicos aliarem-se a comunistas ateus a título de defesa dos mais necessitados...Por todas essas razões...e ainda tenho outras que gostaria de ter mostrado em fórum nos encontros da UNESER e nunca me foi possível fazer, é que também me afastei desse pessoal hoje que não está preparado para fazer um sermão...apenas homilias...Dumas você disse bem, Cristo repartiu o pão com Judas e com Pedro...este iria negá-Lo em seguida e depois ficou Papa!!! Abner...tenho ainda mais alguns textos seus...se não achar inconveniente vou publicá-los....aliás devo ter mais uns dois ou três que me mandou...vc fala em 150...mande para mim!!!!Um abraço a ambos!!!! Ierárdi
Gostei, é por aí mesmo, a diferença entre nós é que abandonei tudo muito antes, aproveitei conselhos de meu espiritual, padre Rodrigues, saí do seminário por já estar em estado crítico em relação ao pecado, acordava esse padre às duas, três ou outra hora da madrugada em função de meus hipotéticos pecados, iria para o inferno se não me confessasse, ele, quando me dispensou de ir para o noviciado, aconselhou que me afastasse um pouco dos sacramentos e me restringisse somente a ir à missa aos domingos, fiz isso por trinta e cinco anos, depois me reconciliei com a eucaristia, confessionário, nunca mais, assim mesmo, sinto-me integrado à igreja, despida, é lógico de dogmas e outras verdades impostas, o catecismo dizia em sua introdução que a fé é uma graça divina, creio, pois, na medida exata da graça recebida e me convenci que não existe pecado contra a fé. Alexandre Dumas Pasin de Menezes
O meu problema se alongou porque não tive um conselheiro ou alguém que me orientasse. Descobri tudo sozinho e resolvi o problema embora bem tarde, mas melhor tarde do que nunca. abraços! Abner Ferraz de Campos
Nenhum comentário:
Postar um comentário