“Jardins viçosos, ciprestes em alameda,fachada majestosa, janelões de vidro...portais se abrem a um convite amigo transpor umbrais da soberana casa...”
Corria ao ano de 1951. O diretor do colegião (1) era o Pe. José Ribola. Às 5 h da manhã daquele dia, dentro da rotina à qual já nos acostumáramos, bate a sineta convocando-nos às primeiras orações, meditação e missa. Todos já na capela,
Pe. Ribola, ansioso, se apressa em nos comunicar a boa nova: naquele dia chegaria uma visita muito importante e pedia-nos que a recebêssemos como uma bênção e nos tornássemos seus guardiões pelo tempo necessário de sua permanência entre nós. Essa grata visita seria nada menos que a pequena imagem da Virgem Aparecida, a mesma encontrada e retirada das águas do rio Paraíba por três pescadores. E o “porquê” de tão ilustre visita? Tudo bem explicado: a imagem de barro, retirada das águas em duas partes, já não suportava as inúmeras colagens feitas ao longo de mais de duzentos anos desde seu achado. No seminário, tínhamos um padre novinho, recém-chegado de Tietê, com grande fama de artista, padre Isidro, a quem caberia o reparo definitivo na imagem. Pois bem, o trabalho foi iniciado em ateliê montado na própria cela do Pe. Izidro e acompanhado, é claro, por curiosos devotos entre os quais me incluo. Era a oportunidade de tocar a Santinha e pedir-lhe a graça mais desejada: a perseverança na vocação.
Pe. Ribola, ansioso, se apressa em nos comunicar a boa nova: naquele dia chegaria uma visita muito importante e pedia-nos que a recebêssemos como uma bênção e nos tornássemos seus guardiões pelo tempo necessário de sua permanência entre nós. Essa grata visita seria nada menos que a pequena imagem da Virgem Aparecida, a mesma encontrada e retirada das águas do rio Paraíba por três pescadores. E o “porquê” de tão ilustre visita? Tudo bem explicado: a imagem de barro, retirada das águas em duas partes, já não suportava as inúmeras colagens feitas ao longo de mais de duzentos anos desde seu achado. No seminário, tínhamos um padre novinho, recém-chegado de Tietê, com grande fama de artista, padre Isidro, a quem caberia o reparo definitivo na imagem. Pois bem, o trabalho foi iniciado em ateliê montado na própria cela do Pe. Izidro e acompanhado, é claro, por curiosos devotos entre os quais me incluo. Era a oportunidade de tocar a Santinha e pedir-lhe a graça mais desejada: a perseverança na vocação.
Feito o serviço, era necessário um tempo para que o material usado secasse e se comprovasse eficiente. Então, a imagem foi levada para nossa capela e colocada à direita do altar mor, em outro pequeno altar, já dedicado a Nsa. Senhora. No recreio um seminarista alarmista, talvez o Bianor, ensejou que à noite a imagem se transmudaria para seu nicho na basílica, repetindo o milagre acontecido nos primórdios de sua história (2), quando foi levada para por várias vezes para a matriz de Guaratinguetá e nos dias seguintes reaparecia misteriosamente em seu tosco altar na capela do Morro dos Coqueiros.
Na madrugada daquela noite, acordei sobressaltado. O dormitório dos menores era no mesmo andar da capela. Um prenúncio de que testemunharia o milagre me fez levantar. Saí pelo largo corredor, cuja única luz, pequena e vermelha, encimava o enorme crucifixo à frente das escadarias. O carrilhão da capela dos padres disparou seus badalos melodiosos anunciando preguiçosamente três horas. No fundo, a porta de vidros da capela refletia a chama tremulante da lamparina do sacrário. Temeroso, me acheguei, abri a porta e mirei o altar. Lá estava a imagem, quietinha, de mãos postas, satisfeita com o seu lar provisório. Provisório? Nem tanto, afinal de contas, lá fora, na fachada majestosa do nosso colegião, em cima do portal, as letras garrafais já anunciavam, desde sua construção e agora mais do que nunca, a inscrição “CASA DE NOSSA SENHORA”.
(O prédio hoje. Onde estava escrito 'Casa de Nossa Senhora', se escreve 'Seminário Bom Jesus')
Dois dias depois, acredito que um pouco tristonha, Ela nos deixou e voltou ao seu lar de trabalho. SALVE, REGINA! (3)
Alexandre Dumas Pasin de Menezes, nascido em Aparecida, seminarista entre 1949 e 1955.
Notas:
(1) Prédio majestoso, todo em tijolo aparente, vermelho, construído no início do sec. XX, para ser seminário da arquidiocese de São Paulo, em parte descrito na quadrinha acima. Trazia os dizeres “Casa de Nossa Senhora”. Conhecido popularmente como colegião, por muitos anos abrigou o Seminário Redentorista Sto. Afonso, até 1952. Hoje, denominado Seminário Bom Jesus, funciona como seminário maior da arquidiocese de Aparecida.
(2) lenda popular largamente difundida na região.
(3) Tradução “Salve, Rainha!” ( o autor gosta muito de cantar em gregoriano esta bela e antiga oração mariana).
Ierardi, esse fato por mim relatado diz mais respeito a minha história do que a história da imagem de Nossa Senhora, nem sei se algum seminarista de meu tempo se lembra disso, talvez o Pasquoto, Clayton, Gervásio, Geiger ou outros. Fato corriqueiro para uns, foi muito importante e emocionante para mim. O único que testemunhou ter lembrança disso foi o Bianor, mas já morreu. Anteriormente, fui coroinha na basílica e, por muitas vezes, presenciei a retirada da imagem do nicho para trocar o manto, naquele tempo, já o retalhavam e colavam em santinhos, não sei se os vendiam ou distribuíam aos devotos, naquele tempo, ainda não existia a campanha dos devotos. Lembro-me também que, às vezes eles passavam uma fita adesiva na união do corpo e da cabeça da imagem, tudo muito superficial, por isso mesmo que foi necessária a colagem feita pelo padre Izidro tempos depois Nada disso diz respeito à quebra criminosa da imagem, fato ocorrido bem depois e que muito chocou os redentoristas, principalmente o padre Vitor.Alexandre Dumas
O famoso Colegião, onde os sonâmbulos andavam nas vigas que ligavam um pavilhão do outro, não tinha esse papo,Alexandre Menezes?. Abner Ferraz de Campos
Relembrar é preciso, minha história nunca foi referendada pela congregação, fico sozinho nesse depoimento que juro ter vivenciado, é um episódio, entre muitos, acontecido naquele templo onde me foi dado o privilégio de viver, ele foi visitado por três papas, ali viveu, por algum tempo, uma santa, Maria Paulina, até hoje, minhas lembranças me reconduzem aos seus corredores, à capela, salão de estudos, à mística de um mosteiro, meus colegas, meus professores, os cânticos gregorianos, um ideal, a santidade desejada, valeu a pena ter vivido essa realidade, ninguém tirará de mim o orgulho de ter ali depositadas minhas principais referências de um passado cheio de realizações.Alexandre Dumas
Meu amigo e colega Dumas, tenho aqui diversos registros dos tempos de SRSA dos antigos seminaristas e especialmente os seus...Olhe meu amigo, não considere o que vou escrever crítica negativa, mas meu afastamento da UNESER foi em decorrência de que a sociedade poderia trabalhar mais em fóruns de memórias e debates salutares principalmente discorrendo junto à Congregação Redentorista e até à Arquidiocese de Aparecida, sobre o tema da orientação religiosa que recebemos antes do CVII em 1965 e aquela posterior hoje em prática...Esse tema, se esclarecido, poderia diminuir e até acabar com o atrito que hoje se vê no confronto das duas gerações!!!! Há uma divisão hoje muito constrangedora e na forma atual não se chega a qualquer definição....Desculpe-me pelo ensejo, mas isso mostra quão importante é nosso registro de memórias e idéias...Espero que em algum momento venha acontecer essa humilde proposta...estamos em constante torcida para que isso suceda e, se possível, no âmbito da UNESER!!!!Um abraço! Ierárdi
Onde fica essa casa? Abner
Abner, esse é o famoso colegião que está ao lado do nosso saudoso Santo Afonso ...ainda no nosso temo chamava-se CASA DE NOSSA SENHORA veja outra foto ampliada.Ierárdi
Estava imaginando, mas a fachada que eu conhecia era diferente. Quando entrei no Seminário eles tinham acabado de se mudar. Abner
Relembrar é preciso, minha história nunca foi referendada pela congregação, fico sozinho nesse depoimento que juro ter vivenciado, é um episódio, entre muitos, acontecido naquele templo onde me foi dado o privilégio de viver, ele foi visitado por três papas, ali viveu, por algum tempo, uma santa, Maria Paulina, até hoje, minhas lembranças me reconduzem aos seus corredores, à capela, salão de estudos, à mística de um mosteiro, meus colegas, meus professores, os cânticos gregorianos, um ideal, a santidade desejada, valeu a pena ter vivido essa realidade, ninguém tirará de mim o orgulho de ter ali depositadas minhas principais referências de um passado cheio de realizações.Alexandre Dumas
Onde fica essa casa? Abner
Abner, esse é o famoso colegião que está ao lado do nosso saudoso Santo Afonso ...ainda no nosso temo chamava-se CASA DE NOSSA SENHORA veja outra foto ampliada.Ierárdi
Sim, nós nos mudamos no início de 1952, acho que você entrou no seminário mais tarde, a fachada era diferente, a escadaria que dava acesso ao segundo pavimento foi derrubada, criou-se uma sala de entrada no primeiro pavimento. Esse primeiro pavimento era considerado "De serviço", ali se situavam a sapataria, a rouparia, cozinha, lenharia, quartos dos irmãos leigos, área de recreio, lavapés, etc. Eu morava na rua da Estação, 50 metros distante do portão de entrada do Colegião, tudo isso fez parte de minha infância "Jardins viçosos, ciprestes em alameda, convidam à paz da vocação surgida, fachada majestosa, janelões em vidro, portais se abrem a um convite amigo, transpor umbrais da soberana casa. Primeira imagem ao coração arfante, Maria Virgem em escultura branca, Galerias amplas, abóbadas romanas, No centro, o Cristo a indicar o Signo, Apóstolos postados em prontidão constante. Salão de estudos com seus quadros vivos, As garças, a serra, a névoa em dias frios, E seu relógio badalando sinos, Em horas místicas, na capela, os hinos Envolvem missas, salmos, ladainhas. Os anos passam, sentimos falta dos cantos místicos, dos corredores, do refeitório, do pôr do sol, das manhãs frias do Colegião, Tudo é saudade da Casa de Nossa Senhora."Alexandre Dumas
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