Fazenda do Potim, Guaratinguetá/SP, 1969, ano em que fiz o noviciado, similar à vida monástica, em preparação à formação de padre missionário redentorista, tendo o Pe. Amador Leardini como mestre.
No horário, todo cronometrado, era prevista meia hora de cochilo (sesta), após o almoço.
Como eu não conseguia cumprir esta atividade e não parava de ficar admirando a rica vida ornitológica ao redor do prédio, especialmente acompanhando desde a construção de ninhos até a saída dos filhotes, comecei a colecionar ovos das aves locais.
A vida era tão abundante que, quase todo dia, encontrava no chão, ao lado do prédio, pintado de branco, algum pássaro desmaiado ou morto por bater na parede, talvez pensando que era um espaço vazio. Tsiu, coleirinha, bigodinho, rolinha, galinha d´água, beija flor, canário da terra, entre tantos. Se estava vivo, corria para a cozinha, pegava um pouco de água com açúcar e pingava no bico. Quase sempre funcionava e ficava todo alegre quando saia voando.
Durante o horário da sesta, saia para andar pelo pomar e mata vizinha. Quando um ninho começava a ser construído, ficava acompanhando até aparecer o primeiro ovo para a coleção. Com uma agulha, furava ambos os polos e ficava assoprando até sair todo o conteúdo. Colocava em uma caixinha e anotava a data e o nome popular da ave. Assim, montei uma pequena coleção de ovos, nada científica, apenas resultado de um hobby sem maiores pretensões.
No início do ano seguinte, após o final do noviciado, já com os votos temporários de três anos quando do recebimento da batina redentorista, com o título de Frater (Fr.) antes do nome, recebemos a visita do Pe. José Pereira Neto, que se mostrou curioso com minha coleção.
Dias depois, recebo uma correspondência dele.
Eram algumas folhas originais de uma revista francesa, Plaisir de France, de maio de 1948, acompanhadas de um bilhete escrito pelo Pe. Pereira dizendo: “Au Fr. José Carlos Criado, ne pas “galopin” mais “collectionneur” de oeufs”.
No artigo da revista, o autor apresentava a foto de uma coleção de ovos, explicando, no início do texto, a diferença entre “galopin” e “collectionner”. Bela forma discreta de chamar minha atenção pelo que havia feito.
Na época não entendi bem sua intenção mas, achei interessante a ilustração da revista com ovos de pássaros dispostos de forma a desenhar um lagarto, em uma placa de espuma de nylon.
Fui à carpintaria, montei uma caixa, com tampa deslisante de vidro e coloquei no fundo uma placa de espuma, tentando copiar o modelo da revista. Com um ferro aquecido, abria pequenos buracos na espuma para encaixar os ovos, formando a figura de um lagarto.
Neste mesmo ano, nossa classe começou com os estudos de Filosofia no IRES – Instituto Redentorista de Estudos Superiores em um prédio enorme construído no km. 20 da Raposo Tavares, São Paulo. Lugar também exuberante de vida ornitológica devido sua localização em meio à mata. Muitos pintassilgos, principalmente, mas nunca consegui encontrar seus ninhos e, assim parei de colecionar ovos.
Lugar que hoje se transformou em penitenciária feminina em meio a um novo bairro, quase sem mata, sem aves. Aos poucos elas estão desaparecendo e, em breve, somente poderão ser conhecidas através de livros, fotos, e.... coleções.
Quase 45 anos depois, a pequena coleção ainda está comigo.
Afinal, o Pe. Pereira recomendou que fosse um colecionador, (ne pas “galopin” mais “collectionneur”) permitindo a outros a oportunidade de apreciar algo interessante. Seguem as fotos.
Um grande abraço,
José Carlos Criado
PADRE PEREIRA NETO +22/09/1986 |
CRIADO,
LI E ACHEI FANTÁSTICO.
TB GOSTO DA NATUREZA E TENHO FEITO ALGUMAS EXPERIÊNCIAS
MUITO GOSTOSAS COM PLANTAS.
PLANTIO DE FRUTAS, DE ORNAMENTAIS, ETC.
É MUITO INTERESSANTE DESCOBRIR E ADMIRAR OS MILAGRES DE DEUS N A NATUREZA.
ANTONIO CARLOS SACRISTÃO.
Belo resgate, Ierardi.
parabéns ao Criado que fez um belo trabalho de estudo dos pássaros da região de Potim e do KM 20 da Raposo, quando lá ainda havia mata preservada.
abs.
Luiz Silvério
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