BENEDITO FRANCO |
066 – Assombração II / I
*Pelos quinze anos, passava férias na Casa de Campo...
Casa de Campo, onde os internos passávamos as férias, quando estudávamos em um internato em Congonhas, MG – Juvenato São Clemente Maria, dos Padres Redentoristas.
Estudávamos de oito a nove horas por dia. Três semanas de férias em maio e em setembro; após o dia vinte de dezembro ao final de janeiro, também íamos para a Casa de Campo, aos pés da Serra de Ouro Branco – caminhávamos a pé, umas três léguas, distância calculada pelos colegas da roça. Não passávamos férias nas casas de nossos pais. Arrumávamos as trouxas – iam de caminhão – colocando as roupas necessárias para todas as férias – roupas diárias iam semanalmente.
Havia dois campos de futebol, dois de vôlei e duas piscinas. Instalações simples e a comida ótima e farta. Um salão que servia de refeitório e sala de recreio e uma capela onde assistíamos à missa diariamente. Nunca fui bom nadador, mas aproveitava, e muito, os outros esportes.
Nessas ocasiões passeávamos subindo a Serra de Ouro Branco, acampando durante o dia. Lá em cima, além da maravilhosa paisagem e vista quase a perder de vista, chapadões, onde imperam – imperavam! – as canelas de ema, e um córrego, assim como uma linda e perigosa cachoeira na parte de trás.
Nos terrenos da Casa de Campo passava um ribeirão, cuja nascente é exatamente a do córrego de cima da serra. Esse córrego, um pouco antes da Casa de Campo, atravessava um sulco profundo, talvez de vinte a quarenta metros, cavado por ele entre as pedras de calcário existentes por lá – nós o chamávamos de garganta ou funil; atravessá-lo era um bom desafio e um agradável e longo passeio, quiçá uns quinhentos metros de pedras desalinhadas e forte correnteza da água, além do frio. Maravilhoso! Tudo isso, atualmente, fica debaixo d'água da represa construída pela metalúrgica Açominas para captação de água industrial e potável.
Um dos passeios preferidos era nas grutas atrás da serra – interessantíssimas, grandes e lindas, com os maravilhosos salões coloniais, decorados com estalactites e estalagmites de diversos tamanhos e formas – não perdem em beleza e tamanho para a gruta de Maquiné ou Lapinha. As companhias, donas do local, fecharam os caminhos das grutas, com a anuência e tolerância da Prefeitura local – Ouro Branco ou Ouro Preto. Proíbe-se o povo de desfrutar as belezas de um bem público – como retiram calcário do local, é bem provável, se nenhuma providência for tomada, que aconteça o que tem acontecido com muitas delas nas nossas minas gerais: virarão pó, para a agricultura ou para a siderurgia!
Benedito Franco
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