063 - Rumo a Congonhas
*O ser coroinha, mais o sonho e os incentivos da mamãe, a labuta diária na igreja e o contato com os padres, levou-me a pensar em ir para o seminário.
Um dia o sonho virou realidade.
Mamãe preparou o enxoval.
No dia 22 de janeiro de 1950, papai e eu embarcamos na maria-fumaça, rumo a Congonhas.
Janeiro, mês de muita chuva. Aquele janeiro chuvoso afetou, e muito, as precárias ferrovias da Vitória Minas e da Central do Brasil, nos trechos de Fabriciano a Nova Era e de Nova Era a Belo Horizonte. Resultado: as barreiras obrigaram-nos a pernoitar em Nova Era, onde passei minha primeira noite em um hotel e acabei conhecendo o primeiro arranha-céu: um pacato prédio de três andares! Em Fabriciano havia tido um belo prédio de dois andares, estilo antigo, de táipa-de-mão, em frente ao Hotel do Sô Cornélio, mas desmoronou-se aos poucos - logo depois, o Coronel Silvino Pereira construiu sua imponente residência, com dois andares.
Na viagem de Nova Era a BH conhecemos um casal de fazendeiros que nos indicou uma pensão onde costumavam se hospedar. Papai se arrependeu, e muito, pois a pensão, no início da Rua da Bahia, era péssima! Só ao entardecer do dia seguinte haveria trem para Congonhas. Aproveitamos a manhã para eu conhecer um pouco Belo horizonte, andando de bonde por vários bairros - as ruas, quase em sua totalidade, calçadas com paralelepípedo e, no meio delas, o poste de ferro...
Um menino, de mais ou menos minha idade, pega uma carona no bonde, senta-se ao meu lado e rápido trocamos algumas palavras. Naquele tempo o motorneiro conhecia a meninada das ruas por onde passava, diminuía a velocidade e os meninos pulavam no estribo e andavam um ou dois quarteirões, agradando e sendo agradado pelo condutor e pelo trocador.
À tarde, conheci o Cine Brasil – não me lembro o filme. Lembro-me como me extasiei com a grandeza e beleza do cinema e pelos carros brilhando nas ruas – suas pinturas ainda de tinta do tipo laca, que, por seu brilho, tornavam os imensos carros bem mais atraentes que os de hoje. As inúmeras luzes de neon das propagandas nas ruas encantavam-me ainda mais. Aquele piscar de luzes coloridas tornava Belo Horizonte uma cidade viva e alegre.
Tomamos u’a maria-fumaça mais possante – não a lenha, mas a carvão mineral - na bela estação ferroviária e admirei-me da largura dos carros – a Vitória Minas e a Central do Brasil, em que eu andara anteriormente, eram, e são até hoje, de bitola estreita - a BH-Congonhas é de bitola larga.
Surpresa grande tive quando no trem encontrei aquele menino do papinho no bonde: era o Hugo que também ia para o Seminário de Congonhas. Hugo e eu sempre fomos ótimos colegas durante o tempo em que esteve no Seminário.
Em Congonhas, o taxista subiu o imenso morro nos deixando ao lado do Santuário do Senhor do Bom Jesus, no bom Hotel Colonial.
No dia 25 de janeiro, festa de São Paulo, entrei para o Seminário São Clemente Maria, dos Padres Redentoristas, em Congonhas, MG. No ano de 2009, a Congregação Redentorista comemorou o centenário da canonização de São Clemente Maria Hofbauer, considerado o seu segundo fundador.
Mamãe gostava que a gente usasse calças bem curtas. No Seminário, os novos colegas olharam espantados e o Diretor me mandou trocar de roupa, vestindo uma calça comprida! Minhas roupas eram marcadas com o número 47. Até os calções batiam abaixo dos joelhos, mais compridos que os de hoje, e ainda se usava camiseta até para nadar e tomar banho!
Para os primeiros dias, a gente ganhava um anjo-da-guarda – um colega mais velho que nos ensinava todo o regulamento do internato. O Dagoberto, de Ferros, foi o meu anjo-da-guarda.
Alguns dias depois, o Diretor, na capela, falou os nomes dos novos seminaristas. Deu-me um ataque de riso quando escutei o nome do colega do bonde: Hugo Roberto Tocafundo!
Benedito Franco 280408
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