terça-feira, 9 de setembro de 2014

O LADO DO BEM E O LADO DA MALEDICÊNCIA

*Afonso de Sousa Cavalcanti
        Creia, pois, Pereira, um baita missionário redentorista, apareceu um dia destes em um local chamado Pedrinha. Ali estavam reunidos alguns dos ex-seminaristas redentoristas e seus convidados, aqueles que vivem repetindo:
- Uma vez redentoristas, sempre redentoristas!
        O missionário Pereira não veio com este lema na boca, mas concordou plenamente com ele porque é amigo do Anchieta, que é amigo do Desidério e que são discípulos seguidores de um missionário porreta, o que nos ensinou a vibrar com o arriba, o Libardi, o santo do Tietê.
- Não sou grande conhecedor de Teologia e por isso vou explicar um pouco sobre a teologia prática que experimentei em minha vida, afirmou o missionário.
        Quase todos olharam admirados para a simplicidade daquele paulista, de perto de São João da Boa vista, pois ele se apresentou de pés no chão e explicou o motivo de ele estar assim despreocupado.
- Gostei muito do gesto do senhor pregador e se o Senhor me permite, de ora em diante não terei receio em me apresentar ao meu público, também de pés no chão, afirmou uma jovem presente neste retiro.
        Nosso bom apresentador trouxe poemas de sua autoria, mas convenceu seu público narrando casos, de forma que o Jandaia implorou para ele:
- Na condição de professor orientador de trabalhos científicos, solicito e o aconselho, para que doravante, Vossa Senhoria escreva estes seus causos no gênero contos, crônicas ou outros. Destine estes seus escritos para alunos do Ensino Fundamental. Creia, padre Pereira, o senhor é iluminado e irá iluminar milhares de corações jovens e adultos.
        Uma passagem fantástica registrou o missionário, na manhã de sábado.
- Exatamente em uma cidade mineira por onde passei, ouvi e presenciei a história de um rapaz, o Maldonado, que nunca faltava aos velórios da cidadezinha. Cidade pacata, é claro, quase todo mundo vai ao velório de todo mundo, Pereira encheu o peito para nos contar isto.
        Maldonado ficava cada vez mais conhecido naquelas redondezas, pois se aproximava do caixão do morto e dizia:
- Esta jovem, esta senhora, este moço, este doutor... tinha as qualidades de... Enumerava os principais pontos que formavam o bom caráter do defunto da vez. Os parentes ficavam maravilhados com as qualidades que Maldonado arrancava de sua memória sobre aquele ente já passado. Por isso em todos os velórios havia enorme multidão.
- Na cidade não havia somente gente com qualidades fantásticas, havia também um senhor que era maledicente, malvado, maltratador, mandão, munheca e outros atributos negativos. Como todos morrem um dia, aquele senhor chamado Osório também morreu. Adivinhem, disse Pereira, quem foi que veio para o sepultamento deste mau caráter?
        Pereira deixou todos os presentes próximos de uma incógnita. Pelo motivo de Osório ser maledicente, malvado e... então não haveria ninguém no velório.
- Enganam-se todos. Este foi o velório mais concorrido da cidade, afirmou o missionário.
        A hora do sepultamento chegava e o salão da capela mortuária estava lotado, na expectativa de ouvir o que Maldonado diria a respeito do defunto Osório. O moço se aproximou do caixão, sem medo de sua alma penada. Colocou sua mão direita sobre as mãos do falecido e disse:
- Inté que o senhor defunto fazendeiro tinha um sorriso lindo.
        Acreditem os senhores, Pereira arrancou esta conclusão lá do fundo de sua memória. Acredito que ele já encomendou dezenas de almas e pela pureza d’alma que presenciei nele, pela trajetória de sua vida, trilhando pelo Evangelho do Amor, jamais este missionário pensou em maledicências, mas sim levou a todos à reflexão da misericórdia divina.
 - Pereira foi maravilhoso, simples, mas de uma profundidade sem igual, afirmou Beatriz. Todos concordaram e por isso aquela senhora de BH foi entregar um presente ao missionário. Levou para ele estátuas de profetas, exatamente porque o pregador se tornou para nós um profeta.
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* militante redentorista, presente no SRSA entre os anos de 1969-1974. Na vida conseguiu ser professor, estudante e católico, Membro da Academia de Letras, Artes e Ciências, Centro Norte do Paraná
PADRE JOSÉ PEREIRA CSsR




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