*Afonso de Sousa
Cavalcanti
Creia, pois, Pereira, um baita
missionário redentorista, apareceu um dia destes em um local chamado Pedrinha.
Ali estavam reunidos alguns dos ex-seminaristas redentoristas e seus convidados,
aqueles que vivem repetindo:
- Uma vez redentoristas,
sempre redentoristas!
O missionário Pereira não veio com este lema na
boca, mas concordou plenamente com ele porque é amigo do Anchieta, que é amigo
do Desidério e que são discípulos seguidores de um missionário porreta, o que
nos ensinou a vibrar com o arriba, o Libardi, o santo do Tietê.
- Não sou grande
conhecedor de Teologia e por isso vou explicar um pouco sobre a teologia prática
que experimentei em minha vida, afirmou o missionário.
Quase todos olharam admirados para a simplicidade
daquele paulista, de perto de São João da Boa vista, pois ele se apresentou de
pés no chão e explicou o motivo de ele estar assim despreocupado.
- Gostei muito do gesto do
senhor pregador e se o Senhor me permite, de ora em diante não terei receio em
me apresentar ao meu público, também de pés no chão, afirmou uma jovem presente
neste retiro.
Nosso bom apresentador trouxe poemas de sua
autoria, mas convenceu seu público narrando casos, de forma que o Jandaia
implorou para ele:
- Na condição de professor
orientador de trabalhos científicos, solicito e o aconselho, para que doravante,
Vossa Senhoria escreva estes seus causos no gênero contos, crônicas ou outros.
Destine estes seus escritos para alunos do Ensino Fundamental. Creia, padre
Pereira, o senhor é iluminado e irá iluminar milhares de corações jovens e
adultos.
Uma passagem fantástica registrou o missionário, na
manhã de sábado.
- Exatamente em uma cidade
mineira por onde passei, ouvi e presenciei a história de um rapaz, o Maldonado,
que nunca faltava aos velórios da cidadezinha. Cidade pacata, é claro, quase
todo mundo vai ao velório de todo mundo, Pereira encheu o peito para nos contar
isto.
Maldonado ficava cada vez mais conhecido naquelas
redondezas, pois se aproximava do caixão do morto e dizia:
- Esta jovem, esta
senhora, este moço, este doutor... tinha as qualidades de... Enumerava os
principais pontos que formavam o bom caráter do defunto da vez. Os parentes
ficavam maravilhados com as qualidades que Maldonado arrancava de sua memória
sobre aquele ente já passado. Por isso em todos os velórios havia enorme
multidão.
- Na cidade não havia
somente gente com qualidades fantásticas, havia também um senhor que era
maledicente, malvado, maltratador, mandão, munheca e outros atributos negativos.
Como todos morrem um dia, aquele senhor chamado Osório também morreu. Adivinhem,
disse Pereira, quem foi que veio para o sepultamento deste mau
caráter?
Pereira deixou todos os presentes próximos de uma
incógnita. Pelo motivo de Osório ser maledicente, malvado e... então não haveria
ninguém no velório.
- Enganam-se todos. Este
foi o velório mais concorrido da cidade, afirmou o missionário.
A hora do sepultamento chegava e o salão da capela
mortuária estava lotado, na expectativa de ouvir o que Maldonado diria a
respeito do defunto Osório. O moço se aproximou do caixão, sem medo de sua alma
penada. Colocou sua mão direita sobre as mãos do falecido e disse:
- Inté que o senhor
defunto fazendeiro tinha um sorriso lindo.
Acreditem os senhores, Pereira arrancou esta
conclusão lá do fundo de sua memória. Acredito que ele já encomendou dezenas de
almas e pela pureza d’alma que presenciei nele, pela trajetória de sua vida,
trilhando pelo Evangelho do Amor, jamais este missionário pensou em
maledicências, mas sim levou a todos à reflexão da misericórdia
divina.
- Pereira foi maravilhoso, simples, mas de uma
profundidade sem igual, afirmou Beatriz. Todos concordaram e por isso aquela
senhora de BH foi entregar um presente ao missionário. Levou para ele estátuas
de profetas, exatamente porque o pregador se tornou para nós um
profeta.
____________
* militante redentorista, presente no SRSA entre os
anos de 1969-1974. Na vida conseguiu ser professor, estudante e católico, Membro
da Academia de Letras, Artes e Ciências, Centro Norte do
ParanáPADRE JOSÉ PEREIRA CSsR |
Nenhum comentário:
Postar um comentário