PADRE HÉLIO DE PESSATO LIBÁRDI CSsR(+) |
Alguns
episódios nos marcam de tal forma, passando a nos acompanhar dia a dia,
trazendo muitas sombras em nossa vida. Eles devem ser trabalhados. Se a pessoa
quiser se libertar deles, tem de fazer uma longa caminhada e ir aos poucos
colocando tudo em seu lugar, clareando bem as dimensões do fato. Uma verdadeira
terapia, precedida de um trabalho junto à própria consciência.
Para uma
pergunta formal, a resposta também é formal e exata. Assim acontece quando nos
perguntam:
-Aborto é pecado?
A resposta é um sim, que às vezes desequilibra a
pessoa.
Isso acontece
porque as pessoas não conseguem analisar-se e analisar o fato, e quando
procuram o padre estão confusas e desesperadas. O momento fica dependendo da
sabedoria do confessor que deve analisar situação por situação antes de dar seu
parecer. A partir de uma análise, o ocorrido pode adquirir nova moralidade.
O aborto
sempre será um erro grave, que traz conseqüências bem pesadas, pois é uma
violência à natureza e à vida. Há, contudo, determinadas circunstâncias que
mudam a espécie de pecado, assim aprendemos nos antigos manuais de teologia no
tratado da formação da consciência. Então pode acontecer que um aborto, apesar
de ser um erro grave, não seja um pecado no sentido em que nos habituamos a
usar esse termo.
Falando
bem claro: Quando um aborto acontece sem que a pessoa tenha procurado ou feito
algo para provocá-lo, esse aborto nunca foi e nem será pecado. A natureza não
tinha condição de levar em frente a gravidez, por isso aconteceu o inesperado.
Ninguém precisa carregar peso na consciência nesse caso.
Quando a
pessoa provocou o aborto ou praticou-o, ela seria responsável. Mas geralmente
há circunstâncias que cercam a gravidez tornando difícil a clareza de uma
resposta. Temos de analisar caso por caso. Às vezes se está diante de um fato
que não permite ver outra saída: pressão dos familiares, exclusão, pressão
social, falta de direção e escolha de caminhos. Situações que impedem um
discernimento consciente, uma tranqüilidade para decidir e assumir a criança.
Sob essas pressões, a pessoa acaba fazendo um erro que deixa marcas sem contudo
ter cometido um pecado, pela falta de poder de decidir, pela falta de liberdade
de opção.
Em todo o
caso, é bom colocar tudo nas mãos de Deus, abrindo-se a um confessor que a
possa ajudar. Tenha contudo certeza de que Deus julga de modo diferente do
nosso. Deus sempre perdoa o arrependido e, uma vez perdoado, o pecado já não
existe, embora a marca persista.
Quanto à
marca, cada vez que se lembrar, pense que isso é passado e já está nas mãos de
Deus, que já a perdoou e vai acolhê-la na sua bondade como o Pai querido. Não
podemos ficar remoendo a vida toda ou remexendo no passado; nem podemos julgar
nosso passado com a consciência que temos hoje... Podemos sim analisar para
compreender, para poder ajudar outras pessoas que passarem por esse desacerto,
ou antes que passem.
DO LIVRO:
RELIGIÃO
TAMBÉM SE APRENDE-VOLUME 3
EDITORA
SANTUÁRIO
Pe. Hélio
Libardi, C.Ss.R.
http://www.redemptor.com.br
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