PADRE WALMIR GARCIA DOS SANTOS CSsR |
Paulo Sérgio: O Papa alertou para o risco dos cristãos transformarem a fé em ideologia e acabarem fechando as portas que conduzem a Deus. Poderia explicar melhor este pensamento?
A fé deve nos fazer pessoas melhores, mais humanas e sensíveis às realidades sofridas do povo e não nos fazer pessoas moralistas, fechadas e ideias ultrapassadas e sem acolhimento, creio que foi isso que o Papa nos alertou, para não transformar a fé em uma ideologia.
Leonice Braga: Explique esta passagem em Ex 3, 1-6, em especial, a frase : “Tire as sandálias dos pés, pois o lugar que estás é santo”.
Tirar as sandálias era, para a cultura judaica daquele tempo e para muitas religiões orientais ainda hoje, sinal de respeito pela sacralidade do local. Lugar sagrado, ou seja, da manifestação de Deus, por isso o gesto de respeito.
Não identificada: Em minha Paróquia existem algumas pessoas caminhando para um fanatismo muito perigoso. Estão se apegando exageradamente na opinião do padre responsável. Não é que ele não seja capaz, mas pessoalmente acho isso um grande risco, a dependência emocional. Será que, de certa forma, esse fanatismo é alimentado?
Sim, em muitos lugares esse fanatismo é alimentado por uma centralidade no líder religioso e não em Jesus Cristo. É preciso tomar muito cuidado com esse tipo de manifestação que leva ao desvio da centralidade da fé e do equilíbrio.
Ademildes Santana: O senhor é a favor da barriga de aluguel?
Não, não sou a favor disso. Sou favorável ao que está dentro da normalidade da natureza. Acho isso uma apelação!
Célia Maria: A Bíblia dos pobres ainda existe? Já ouviu falar?
Eu sei da existência da chamada Bíblia dos pobres, que era um livro de gravuras de cenas do Antigo e do Novo Testamento usado para evangelização de pessoas incultas, que não tinham acesso à leitura, ou seja, os analfabetos. Não tenho conhecimento se ainda hoje é editada essa Bíblia, mas ela é muito antiga, foi elaborada no séc. XV aproximadamente.
Expedito Pereira: Outro dia ouvi o senhor comentando sobre os sete pecados capitais, qual a origem deles? Quando foram criados?
Não se sabe a origem dessa lista de pecados, ou de vícios próprios da natureza humana. A lista desses vícios já era conhecida bem antes do Cristianismo e foi usada mais tarde pelo catolicismo com o intuito de controlar, educar, e proteger os seguidores, de forma a compreender e controlar os instintos básicos do ser humano. São os seguintes: Gula, Avareza, Preguiça, Luxúria, Ira, Inveja e Vaidade ou Orgulho.
Não identificada: Temos um vizinho que costuma brigar na frente dos filhos, às vezes as crianças entram em pânico, ficam muito alteradas. Existem pais tão despreparados para cumprir este papel! E o pior é que eles vão à missa toda semana. Onde está a Igreja na vida deles?
Tem um ditado que diz: “Fulano saiu da roça, mas a roça não saiu dele”, para designar a ignorância que muitos não conseguem vencer. Da mesma maneira, tem gente que vai a Igreja, mas não leva a Igreja e os ensinamentos da Palavra de Deus para a sua vida, é o chamado incoerente, que não aplica em sua vida o que professa na fé. Claro que esse casal não está preparado para assumir a vocação de pais e, infelizmente dão péssimo exemplo de vida a seus filhos. Lamentável.
Não identificada: Um casal de amigos que eram católicos mudou de religião e nela não existe batismo. Agora estão tentando achar uma maneira de anular o batismo. Isso é possível?
Não é possível anular batismo oficialmente, mas eles já renegaram (anularam) o batismo renunciando a fé que professavam. É triste vermos ainda hoje, em pleno século XXI pessoas com tamanha ignorância, que não conhecem a Palavra de Deus e suas consequências em nossa vida.
Maria Luiza de Paula: Gostaria que falasse alguma coisa a respeito de Museu das Almas do Purgatório que fica em Roma. Dizem que lá estão guardados registros de comunicações de almas que teriam voltado do purgatório para pedir orações e para provar que a vida continua. O que há de verdade nisso? Inclusive, conforme comentários, este local não pode ser filmado e nem fotografado, mas alguém já entrou lá e descobriu tudo. Será que a nossa Igreja desde sempre escondeu que os mortos podem se comunicar com os vivos?
Eu nunca ouvi falar da existência de tal museu, mas pesquisando vi que ele existe com alguns fatos paranormais. Eu não acredito em comunicação de espíritos conosco, acho isso absurdo, mas creio em fenômenos paranormais, que são produzidos por nós mesmo. Não creio que a Igreja esconda coisa alguma.
Selma Miranda: Dizem que acreditar em Deus pode ajudar a acabar com a ansiedade e reduzir o estresse. Os cientistas já estão provando que, quanto mais fé a pessoa tem, mais tranquilas elas se mostram diante dos reveses da vida, mesmo quando cometem erros e que, acreditar em Deus, deu sentido às suas vidas. Isso quer dizer que ciência e fé podem caminhar juntas?
Claro que podem e devem andar juntas a Fé e a Ciência. Já foi o tempo em que a ciência não era admitida pela fé, isso era uma prática da Idade Média, superada já há muito tempo.
Joana Ataídes: Vi no facebook uma reportagem dizendo que devemos fazer com que nossas flhas deixem as “Barbies” e princesas de lado por um momento para mostrarmos a elas as “mulheres reais” que elas podem ser. Achei o máximo, porque nós mulheres não fomos feitas para sermos apenas donas de casa, embora tenhamos sido criadas para este fim, tendo como primeiro presente, uma boneca e sermos submissas ao homem. Existe alguma referência bíblica a esse respeito?
O uso de bonecas não tem a finalidade de colocar a mulher como submissa ao homem, isso para mim é absurdo. A criança deve ser criança no tempo dela e nunca podemos e nem devemos pular etapas na formação de uma pessoa. Não concordo com isso, de deixar as bonecas para aprenderem a serem “mulheres reais”, pois tudo tem o seu tempo. A boneca não impede a criança de crescer e amadurecer sendo uma mulher autêntica, que assume o seu papel importante dentro da sociedade. Todos nós temos o nosso papel e ninguém é melhor ou maior e superior ao outro. Homem e mulher são distintos, mas complementares, que têm direitos e deveres iguais, sendo diferentes.
Edjane Márcia: As passagens do Antigo Testamento descrevem um Deus que gosta de guerras, vingativo e sanguinário. Seria possível que os autores do livro sagrado tivessem sido influenciados por essa atmosfera de ódio e daí surgiram as histórias em que Deus se mostra violento e cruel?
Claro que sim, os autores viam Deus assim, um Rei poderoso. Isso era a influência da cultura da época. Jesus veio destituir essa imagem errônea de Deus, mas infelizmente ainda hoje sofremos desse mal, de olhar para Deus não como um Pai misericordioso, mas como um Deus vingativo e cruel. É preciso ler mais o Novo Testamento e seguir o que Jesus ensinou.
Diane dos Reis: Algumas pessoas consideram o ateu uma pessoa sem ética. Acreditar ou não, não seria um direito de cada um?
A ética não depende da profissão religiosa, mas do assumir valores que respeitem a vida e suas manifestações. Acreditar em Deus deve nos levar a ter mais ética, a ter mais respeito aos valores que o cristianismo nos ensina. O ateu não necessariamente é uma pessoa sem ética. Tanto a pessoa de fé, como a sem fé, pode ser uma pessoa ética ou sem ética.
Elza Maria Duarte: Vi uma reportagem há alguns dias atrás sobre uma psicóloga, 34 anos, com um tipo de câncer raro e irreversível. Ela não tem mais do que cinco anos de vida. Então esta jovem resolveu fazer uma lista das coisas que mais gostaria de viver antes de morrer e que, provavelmente não faria e agora está colocando em prática todas elas. Acha que o sentido da vida está única e exclusivamente em realizar sonhos?
Ela certamente quer aproveitar o restante de vida terrena que tem para realizar sonhos e não vejo nisso nada de anormal. Claro que ela não está colocando o sentido de sua vida nesses sonhos, mas apenas quer realizá-los e viver assim é melhor do que ficar lamentando a vida e ficar esperando passivamente a morte chegar. O sentido da vida está em amar e o amor é a expressão maior da nossa fé em Deus, que é Amor.
Não identificada: Meu esposo de vez em quando me fala que eu sou responsável por influenciar demais no comportamento machista do nosso filho, porque fico dizendo “homem não faz isso, homem não faz aquilo”. Talvez eu o faça sem perceber, mas eu acho que no mundo de hoje isso está desaparecendo.
O machismo não está desaparecendo não, está em alta em nossos dias, basta ver o quanto tem aumentado o número de agressões às mulheres. O machismo é fruto de uma má educação, uma má orientação por parte dos pais e da família que cerca a criança. Reveja seu modo de educar seu filho, pois se seu marido, que é homem, já notou isso, é porque está sendo acentuada a sua orientação para o machismo de seu filho. Tome cuidado.
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