sexta-feira, 28 de novembro de 2014

PERGUNTAS E RESPOSTAS - 23/05/2014

PADRE WALMIR GARCIA
DOS SANTOS CSsR
Ana Margarida: Onde na Bíblia encontro referência ao Purgatório? 
A palavra Purgatório não existe na Bíblia, mas a indicação da existência desse estado de espírito provisório é amplamente apresentado e indicado nas Sagradas Escrituras. Aqui apresento alguns textos que podem indicar, sem contudo falar na palavra “purgatório”: Mt 12, 31; 2Mc 12, 39-45; 1Cor 3, 10; Mc 3, 29; Lc 12, 58-59; Mt 5, 22-26; 1Pd 3, 18-19; 4, 6. 
José Maria Silva: É verdade que a religião pode mudar a pessoa tanto para o bem, quanto para o mal? 
Sim, é uma grande verdade. As religiões existem para fazer a pessoa humana melhor, mas existe o fanatismo em todas as religiões do mundo e esse modo radical e inequívoco de viver a fé pode levar a barbaridades. Muitas pessoas ainda hoje matam em nome da fé, discriminam em nome de Deus, exclui pessoas por radicalismo religioso. Isso se dá pela má interpretação da orientação que a religião apresenta.
Não identificada: Você é contra ou a favor da vasectomia? Conheço alguns padres que são a favor, outros dizem que o casal tem que ter disciplina no sexo, para manter o controle da natalidade. Para mim, isto sim, é castração. Como se o desejo entre o casal pudesse ser programado. Há coisas muito piores do que isto para serem julgadas. O que acha? 
A Igreja orienta para a paternidade responsável. A decisão de fazer vasectomia ou laqueadura é sempre do casal, apesar de a Igreja não ser a favor desses métodos radicais e definitivos de evitar a concepção de filhos. A vasectomia não é castração, mas um método cirúrgico de evitar a concepção de filhos. Concordo que temos muitas coisas mais sérias para serem debatidas, mas esse também é um assunto importante e não acho que deve ser deixado de lado, é bom discutir o assunto e conscientizar as pessoas. 
Não identificada: Tenho 60 anos. No tempo da minha mãe, dos meus avós, parece que eram mais preparados para enfrentar os problemas da vida. Minha mãe saiu de casa para trabalhar com apenas 14 anos de idade. Hoje ela está com 75 anos, lutou sozinha e nunca deixou faltar nada para nenhum de nós e não tinha as facilidades que tem hoje. Será que essas facilidades estão tirando a coragem das pessoas? 
Pelo contrário, eles não eram preparados, mas assumiam com fidelidade a missão a eles confiada. Antigamente a educação era diferente e os valores também, não tem como comparar. As tarefas eram bem definidas e as famílias eram mais estáveis, ainda que a duras penas (sem diálogo, sem liberdade). Hoje mudou o conceito e a educação é baseada na liberdade, ainda que muitos não entendam o que é liberdade e acabam por não basear a educação e a família sobre alicerce de valores, como o diálogo e o respeito, o amor e a fidelidade. O tempo mudou e deve mudar sempre, mas valores são imutáveis e esses devem ser assumidos e transmitidos para as gerações futuras. 
Sara Fernandes: Em muitos livros de autoajuda aparece a seguinte orientação: “Conheça-te a ti mesmo”. Alguns estudiosos do assunto dizem que, se o homem apenas estudasse a si mesmo e se conhecesse, então ele conheceria todas as coisas e nada lhe seria desconhecido, inclusive Deus, pois somos unos com Ele. Concorda com isso? 
Eu concordo que o autoconhecimento nos ajuda a discernir muitas coisas, inclusive o conhecimento de Deus. A Bíblia nos ensina que é preciso amar a si mesmo, a Deus e aos outros. Só podemos amar o que conhecemos, pois ninguém ama o desconhecido, daí precisamos de nos conhecer, conhecer os outros e conhecer a Deus para melhorar as nossas relações interpessoais e com Deus. 
João Antonio: Gostaria de saber se uma pessoa já nasce predestinada à vocação sacerdotal. Será que Deus, quando cria nossa alma, coloca nela esses ingredientes? 
Ninguém nasce predestinado a vocação nenhuma, as pessoas vão discernindo através da participação na sociedade em que vive (inclusive a Igreja), onde ele poderia servir melhor, qual o sua tendência profissional e qual a sua missão. A vocação sacerdotal (chamado de Deus) nasce da busca de responder aos apelos de Deus e às necessidades do povo. 
Não identificada: Minha mãe fala que a ocasião faz o ladrão. Meu pai fala que o ladrão já nasce pronto. Ele só aproveita a oportunidade. Meu pai sempre foi um pouco radical, pois não dá para saber no que uma pessoa se tornará no futuro, não é verdade? 
De fato ninguém nasce pronto e definido, todos nós somos feitos de algum modo pelo meio em que vivemos. Pessoas más não nasceram más, pois todos nós nascemos puros, sem malícia e maldade, o mundo em que vivemos é que nos faz bons ou maus, de acordo com as oportunidades e falta de oportunidades (educação) que temos e que nos são oferecidas ao longo de nossa vida. 
Não identificada: Uma vez ajudei uma pessoa e, quando precisei dela, deu uma desculpa e não me ajudou, sendo que poderia. Fiquei muito magoada e não estou disposta a ajuda mais ninguém porque, as pessoas geralmente são muito ingratas e isso dói muito. O que a Bíblia diz a respeito da ingratidão? 
Jesus nos ensina a ajudar sem esperar nada em troca, está aí a verdadeira ajuda, pois se ajudamos esperando troca, estamos fazendo comércio, ou seja, estamos “comprando” retribuição (cf. Mt 5, 43-48). É preciso ter mais gratuidade no bem que fazemos aos outros. Se esta pessoa não a ajudou quando precisou, o problema será dela, as consequências futuras será para a vida dela e não para a sua. Não pense assim, pois você não está vivendo o espírito cristão. 
Fernanda de Paula: São Paulo escreveu aos Coríntios dizendo que, quando pecamos contra os nossos irmãos, pecamos contra Cristo. Isso quer dizer que estamos sempre magoando o coração dele com nossos pecados? Será que valeu a pena Ele ter morrido por nós?
Pecar contra os irmãos é pecar contra o corpo de Cristo que é a Igreja, quando ofendemos os outros ofendemos a Deus, pois todos somos filhos de Deus e, portanto, irmãos uns dos outros. Se machucarmos um membro do nosso corpo, todo o corpo sofre com aquela lesão, assim também o pecado contra o outro é ofensa a Deus. 
Giovanna Mello: Existem pessoas que acham que, o remédio para os males seria a igualdades das riquezas. Acha que seria esse o caminho? 
Não é igualdade das riquezas, mas a justa distribuição dos bens. As oportunidades deveriam ser para todos e não só para alguns “escolhidos” e privilegiados. O caminho da justa distribuição dos bens e o caminho cristão. 
Francisco Miguel: Ouvi falar sobre a tal de cientologia, que é uma religião. O que seria isso? Seria mais uma seita daquelas perigosas? 
Eu nunca tinha ouvido falar de cientologia, mas pesquisando descobri que Cientologia é um conjunto de crenças e práticas criado por L. Ron Hubbard (1911–1986), começando em 1952, como sucessor ao seu sistema de autoajuda chamado Dianéticas. Hubbard caracterizou a Cientologia como religião e em 1953 incorporou a Igreja da Cientologia em Camden, Nova Jersey. A Cientologia ensina que as pessoas são seres imortais que se esqueceram de sua verdadeira natureza. É reconhecido como Igreja em alguns países. A Igreja da Cientologia é um dos mais controversos movimentos religiosos modernos que surgiram no século 20. Tem sido muitas vezes descrita como um culto que faz lavagem cerebral, defrauda e abusa financeiramente de seus membros, cobrando taxas exorbitantes por seus serviços espirituais. 
Bianca Martins: Tenho uma dúvida que me incomoda bastante. Hoje em dia não dá mais para ter muitos filhos, quando muito, três, devido a inúmeras dificuldades que nós, pais, temos de enfrentar, sendo que a pior delas é a violência. Como devemos analisar esta situação. Será que nos acontece apenas aquilo que está em nosso carma ou nascer e sobreviver é um desafio igual para todo mundo?
Em primeiro lugar eu rechaço essa ideia de “carma”, pois isso é uma crença baseada no Espiritismo e não faz arte de nossa crença cristã. Voltando para a sua questão, eu não vejo que a violência no mundo tem alguma relação com a diminuição de filhos nas famílias, o mundo sempre foi violento. A causa é bem outra, principalmente o comodismo de não ter trabalho com a educação de filhos, entre outras causas. Devemos viver a vida com serenidade, sem ficar neuróticos as notícias que lemos todos os dias nos jornais ou nos outros meios de comunicação. Existe a violência e não podemos tapar os olhos, mas não podemos cercear nossa vida por causa disso, é preciso trabalhar para que ela não nos afaste da convivência social. 
Não identificada: Tenho muita dificuldade em lidar com críticas a meu respeito. Também não consigo admitir quando estou errada e nem pedir desculpas. Quando reconheço, tento voltar às boas com a pessoa de forma que eu não seja obrigado a pedir desculpas. Esta pode ser uma maneira aceitável de reconhecer um erro? 
Eu acho que essa é uma forma acomodada de viver sem reconhecer de fato o erro cometido. Os erros devem ser reparados. Perdão foi feito para ser pedido e oferecido. É preciso ter humildade em reconhecer o erro e a dignidade de pedir perdão. Esse é o ensinamento de Jesus. Perdoar para receber o perdão. 
Isadora Rodrigues: Tem um ditado que diz que, se quisermos mudar o mundo, precisamos mudar a nós mesmos primeiro. Só que muita gente ainda não está disposta a colaborar. Querem mesmo é ver o circo pegar fogo. Essas pessoas cairão naquela parábola que diz que “haverá choro e ranger de dentes”? 
Pode ser que sim, pois o julgamento será de acordo com a caridade ou falta dela. O mundo pode e será melhor na medida em que formos melhores conosco mesmo e com os outros. É plantando o bem que colheremos o bem, um mundo melhor, mais humano e mais fraterno e solidário. 
Maria Tereza Maia: Em Mt 10, 16 diz: “Eis que vos envio como ovelhas para o meio de lobos; sede, portanto, prudentes como a serpente e simples como a pomba”. Este foi o comportamento de Jesus. Gostaria que comentasse dos inconvenientes de ser apenas humildes ou apenas prudentes. 
Não tem inconveniente nenhum em ser humilde ou ser prudente. Precisamos das duas atitudes para uma boa convivência. Jesus nos ensina a sermos prudentes com as serpentes e simples (humildes) como as pombas. 
 Ana Beatriz: É a favor da cremação? Eu não sou, porque, acho que de alguma maneira o corpo é uma lembrança de que a pessoa fez parte da nossa vida, ao passo que, quando transformado em cinzas, dá a impressão de que foi queimado o que esta pessoa representou em nossas vidas. 
A questão da cremação é difícil de ser assimilada por nós, ocidentais, pois não faz parte de nossa cultura, mas eu, particularmente, sou a favor. Você disse que não é a favor devido ao corpo ser uma lembrança do que a pessoa foi em vida, mas eu digo para você, ninguém fica olhando o corpo de alguém morto, ele deve ser enterrado e ali ele vira pó, daí podemos concluir que tanto faz cremar quanto enterrar, nós viraremos pó do mesmo modo, só que com um tempo diferente. E além de tudo, cremar não significa apagar da memória o que a pessoa representa para nós.

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