PERGUNTAS E RESPOSTAS - 26/05/2014

PADRE WALMIR GARCIA
DOS SANTOS CSsR

Não identificada: Ainda não fui batizada e algumas pessoas me dizem que não posso rezar o Pai Nosso, porque sou apenas uma criatura e não filha de Deus. Fiquei muito triste porque não tenho família e não sei o que fazer. Gostaria que me orientasse. 

Claro que você rezar o Pai nosso ou qualquer outra oração. Rezar nunca foi privilégio de quem é batizado. Agora eu aconselho você a procurar o batismo, não por causa dessa crítica, mas por ser um valor na vida da pessoa que crê em Jesus Cristo e quer seguir o seu caminho, suas orientações. 

Carla das Dores: Tenho notado que está havendo profundas mudanças na família. Como vive tão próximo à comunidade, quais os principais desafios, as principais queixas que chegam até sua pessoa? O nosso maior desafio não está dentro do nosso lar, mas fora com essa violência cada vez mais ameaçadora. 

Não acho que o maior desafio seja a violência, pois ela é consequência de algo mais profundo. O que falta na sociedade hoje é a vivência de valores. O valor do respeito, da solidariedade, da partilha, da preocupação com o outro, do respeito à vida, valor da educação, creio que isso é o maior desafio a ser enfrentado em nossos dias. 

Leonor Francisca: Sempre fui contra a interrupção da gestação dos bebês anencéfalos, já que eles não viverão por muito tempo, por que a pressa em matá-los? Aliás, alguns até sobrevivem bem mais do que a previsão médica. Gostaria de ouvir a sua opinião a respeito. 

Também sou contra qualquer tipo de aborto, a não ser o aborto devido à morte do feto sem a expulsão natural do mesmo. A Igreja foi e será sempre contra qualquer tipo de interrupção da gestação, pois é um atentado contra a vida.

Não identificada: Minha mãe foi diagnosticada com câncer, graças a Deus em estágio inicial e com todas as probabilidades de cura. Mesmo assim, ficamos muito abalados. Gostaria de ouvir um aconselhamento seu para que possamos enfrentar esta situação com maior tranquilidade. 

Não é fácil assimilar um diagnóstico de um câncer, mas todos nós precisamos nos preparar para enfrentar os desafios que nos são apresentados diariamente. Devemos exercitar a confiança em Deus e a força que Ele nos dá. Ter fé só em momentos felizes é muito fácil. Fé significa confiança inabalável na Providência Divina. Confiar e entregar.

Maria Luiza: Está preocupante o uso tão exagerado das redes sociais. Aonde a gente vai, só vê a moçada de olho no celular. Até quando encontram os amigos a conversa entre eles ficou bastante resumida. Será que eles não estão cavando em futuro de solidão? Será que este novo comportamento poderia afastá-los da Igreja? O que tem observado? 

Certamente o vício do celular afasta as pessoas umas das outras, afasta do convívio social e também eclesial. Infelizmente vivemos num tempo de vício coletivo, onde as facilidades de comunicação têm distanciado as pessoas. Comunica-se virtualmente e não pessoalmente, valoriza-se mais o contato através de mensagens do que a verbalização, isso empobrece a pessoa. 

Não identificada: Muitas vezes me pego tendo maus pensamentos e confesso que tenho certa dificuldade em me livrar deles. Existe alguma passagem bíblica que eu possa ler e me sentir melhor? 

A oração que Jesus nos ensinou, o Pai nosso, nos ensina a pedir “não nos deixeis cair em tentação” (Mt 6, 13). Maus pensamentos são difíceis de evitar, mas pode-se perfeitamente, superá-los com a força da fé, da oração, do exercício que a oração nos propõe. Procure refletir sobre isso e tente evitar o mal. 

Iara de Castro: Em sua opinião, quais as principais causas dos conflitos conjugais? Faço esta pergunta, porque nem sempre, quem desfruta da união conjugal, não considera algumas atitudes como causa de conflitos e sim, como fosse de uma razão que não tem. 

Eu considero com a maior causa de conflitos conjugais é a falta de respeito pela diferença entre o homem e a mulher. Homens que querem dominar, mulheres que também fazem o mesmo ou vivem de um modo submisso. Eu sempre gosto de orientar os casais para a vivência no respeito às diferenças existentes entre eles, que não devem marcar como distanciamento, mas como complementaridade na relação. Homem e mulher têm direitos iguais, deveres iguais, mas não são iguais. O que falta no homem está na mulher; o que falta na mulher está no homem, se os casais entendessem isso seria muito mais fácil o diálogo e a convivência. 

Não identificada: Há três anos, perdi minha filhinha mais nova. Ela tinha dez aninhos de idade, pegou uma pneumonia, o quadro se agravou e ela não resistiu. Até hoje não consigo me conformar com a morte dela e gostaria de saber por que as crianças tem que morrer? Qual o propósito de Deus em acontecimento tão cruel?

Você precisa superar a dor, mas nunca deixar de ter saudade. Você não perdeu sua filha, ela passou dessa vida para a vida eterna. Nós temos o péssimo costume de pensar na morte como fim, como uma desgraça em nossa existência e não exercitamos a fé, que nos diz que a morte é passagem de uma vida limitada para a ida ilimitada. Você também pergunta por que as crianças têm que morrer ou qual o propósito de Deus num acontecimento assim e eu digo que Deus não quer o sofrimento e nem a morte de crianças e Ele não tem um propósito específico. Não é culpa de Deus o sofrimento de crianças e nem de ninguém. Deus nos dá a vida eterna, a salvação, e eu digo a você, procure agradecer a vida que sua filha teve, nos dez anos que passou junto com você e agora a vida eterna, plena e feliz junto de Deus. Todos nós somos limitados e sujeitos às doenças e até a morte. 

Ana Catarina: A cada dia que passa, tenho me sentido mais estressada por causa da violência. Podemos ser abordados e qualquer lugar e a qualquer momento. Como viver uma vida tranquila em meio a tanta turbulência? Quais os limites que devemos traçar entre a prevenção e a fé na proteção divina? 

Eu não sei onde está o limite entre a prevenção e a fé, mas eu digo para você não ficar sofrendo antecipadamente, pois você poderá nunca ser vítima de violência, como poderá ser algum dia, mas para que viver a antecipação de uma coisa que não tem certeza? Se ficarmos pensando assim não viveremos, pois podemos morrer a qualquer momento. Relativize. Viva a sua vida sem essa excessiva preocupação. 

Não identificada: Eu estava lendo uma notícia que falava sobre o crescimento da depressão no mundo, inclusive como causa de suicídio. Em sua opinião, por que a depressão tem aumentado tanto? Só na minha família temos dois casos. 

Por causa do estresse em que as pessoas vivem e por causa da falta de planejamento na vida. É preciso viver de acordo com nossas capacidades e nunca achar que pode tudo e que o desejo de ter cada vez mais seja motivo de consumir a vida de modo desenfreado. É preciso equilíbrio em tudo, a vida deve ser vivida em todos os seus aspectos: trabalho, lazer, convivência familiar, religião, tudo isso na medida certa. A dedicação excessiva em determinados aspectos da vida acaba levando ao estresse e daí para a depressão é um pulo. Cuidar do equilíbrio, esta é a receita. 

Uilma Soares: Gostaria que explicasse aquela passagem onde Jesus fala que saiu dele uma virtude, quando alguém o tocou. 

Não é uma virtude, mas uma força. Esta passagem fala da mulher que sofria de uma hemorragia há muitos anos e pensou que se ao menos conseguisse tocar na roupa de Jesus ela seria curada (Lc 8, 40-48). Jesus sentiu a “força curadora” que dele “saiu” para a cura daquela mulher, ou seja, ele percebeu que alguém o tinha tocado com a intenção de se curar de algum mal. Isso expressa a sensibilidade de Jesus para com os sofredores. 

Não identificada: Formei meus dois filhos na Universidade, o mais novo está no segundo ano do curso que escolheu, mas está me causando certa preocupação, porque a incidência de drogas entre os universitários tem crescido muito. Em sua opinião, as instituições de ensino também não têm a responsabilidade, na educação dos nossos filhos e usar de um maior rigor? 

Eu vejo que as nossas instituições de ensino têm faltado e muito com sua responsabilidade de cuidar da educação acadêmica, deixando a disciplina em último plano. Para essas instituições não existe a preocupação com a vida pessoal de cada aluno, como em tempos atrás, ode se formava para a vida e não só davam aulas teóricas. Mas eu vejo também que as famílias têm deixado a educação formal, que é responsabilidade delas, para a escola e isso não está certo. Procure conversar muito com seu filho e orientá-lo para ter cuidado com esse tipo de coisa entre universitários. 

Iris de Albuquerque: Esse negócio de adivinhações, em minha opinião, é muito perigoso. Lendo a Bíblia, achei uma passagem onde Jesus fala aos apóstolos sobre os tempos de dores que viriam no futuro. Os apóstolos lhe perguntaram quando esse tempo chegaria e Jesus respondeu que só Deus saberia dizer e mais ninguém. Gostaria que comentasse a respeito. 

Eu, particularmente, não gosto e não acredito em adivinhações, pois ninguém é capaz de adivinhar futuro de ninguém. Tem um ditado que diz: “O futuro a Deus pertence”. É impossível acertar tudo, pode-se acertar alguma coisa, pois existem coincidência e consequência de vida, mas saber com exatidão o que vai acontecer ninguém é capaz. 

Não identificada: Meus netos perderam os pais em um acidente quando ainda eram crianças. Sou a avó materna deles, os criamos com todo o amor e carinho do mundo. Hoje eles já estão com 15 e 17 anos respectivamente, e a minha neta mais nova, até hoje reclama a falta dos pais. Tento sempre conversar com ela, falar da bondade de Deus, mas pouco tem adiantado. O que mais eu poderia fazer por ela? 

Continue fazendo o que faz, educando no amor, na paciência, na compreensão. É um fato traumático na vida desses adolescentes que ficaram sem os seus pais de uma maneira trágica, isso irá acompanhá-los pelo resto da vida, nada poderá suprir a falta que os pais fizeram na vida deles, mas claro, eles poderão superar os traumas, mas a falta nunca. 

Olívia Matoso: Gostaria de saber por que a Igreja excomunga pessoas que cometem certo tipo de pecado, sendo que, Jesus Cristo deu a vida para salvar a todos os filhos de Deus? Ele disse que nenhuma ovelha de seu rebanho se perderia. O próprio Deus enviou o seu Filho para nos salvar e não determinou quem seria salvo. Em Jo 17, 24 Jesus diz: “Pai, a minha vontade é, onde eu estou, estejam comigo os que me destes”! 

Você disse bem quando apresenta a Palavra de Jesus que disse que nenhuma ovelha de seu rebanho se perderia. Quem é excomungado, não o é à toa, tem motivo sério para se chegar a uma decisão radical como essa. A excomunhão se dá quando a pessoa já vive fora da comunhão com os ensinamentos de Cristo, ou seja, a Igreja só declara o que a pessoa já vive, fora da comunhão em consequência do pecado cometido que fere gravemente a doutrina cristã. Ser do rebanho de Jesus é andar em comunhão com os ensinamentos dele. 

Não identificada: Um ministro da Eucaristia da minha paróquia vive dizendo que, os legítimos servos de Deus não estão ricos, pelo contrário, são pobres e vivem em dificuldades. Não acha isso um absurdo? 

Não acho isso um absurdo não, pois é a Palavra do Evangelho onde Jesus fala que os ricos dificilmente entrarão no Reino dos Céus (cf. Mt 19, 23-24). Agora é sempre bom refletir que não é só a condição social que dará garantia de entrar ou não no Reino de Deus. Quando Jesus fala do rico, ele está falando do ganancioso, daquele que não partilha, é cioso de seus bens e que não se preocupa com a miséria do outro. Ter dinheiro ou bens não significa ser considerado fora do Reino, pois quem partilha, é solidário alcança a salvação. 

Robéria de Lima: A legalização da maconha tem me deixado muito preocupada, porque creio ser o primeiro passo para a legalização de outras drogas. As justificativas expostas são absurdas, inclusive que desapareceria o tráfico. Acredita nisso? 

Legalização de drogas nunca será solução para a diminuição do uso e muito menos do tráfico. O que as leis querem é descriminalizar o uso de maconha, ou de outras drogas e não legalizar a droga. O objetivo é diminuir o crime do tráfico e eu não creio nisso. Acho um absurdo uma lei dessa natureza, pois não vai resolver nada.

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