Pe.João A. Mac Dowell S.J.
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Se Deus é
bom e todopoderoso, por que não intervém em favor dos que sofrem inocentemente?
O Deus de
Jesus certamente não se alegra com o sofrimento de suas criaturas. Ao
contrário, Jesus fala do carinho do Pai celeste que cuida das mínimas
necessidades de seus filhos. Por isso não devemos viver angustiados com o dia
de amanhã, com o nosso sustento e o nosso conforto. Mas ele não garantiu que
Deus vai a cada momento intervir milagrosamente no mundo para resolver os
nossos problemas. O próprio Jesus alimentou uma multidão, multiplicando os pães
e peixes. Mas não socorreu com um milagre a todos os que estavam passando fome
no seu país. Ele curou muitos doentes. Mas muitos outros naquele tempo e até
hoje sofreram e morreram por causa de doenças terríveis. Ele mesmo foi
atormentado por seus carrascos e morreu pregado numa cruz.Então, apesar de todo
o seu amor por nós, Deus seria impotente diante da maldade e das misérias desta
vida? Não. É que ele quer prover às nossas necessidades através do nosso
trabalho e da solidariedade dos outros. Deus não intervém continuamente no
mundo, porque nos trata como pessoas adultas, responsáveis pelo próprio
destino: criou o ser humano à sua imagem e semelhança e o constituíu
administrador de toda a criação. É o que mostra Jesus quando contou que
"um homem de saída para uma viagem chamou os seus servidores e lhes
confiou seus bens. Depois de muito tempo voltou o patrão e quis acertar as
contas com os servidores" (Mt 25,14.19).Portanto, segundo a parábola de
Jesus, Deus está como que ausente do mundo. Ele partiu de viagem, confiando a
nós, seus servidores, os seus bens. Compete a nós usar esses talentos para o
bem nosso e dos nossos semelhantes, segundo suas ordens. Mas podemos abusar de
sua confiança e desperdiçar as riquezas da criação, provocando miséria e
sofrimento. No fim dos tempos nosso Senhor virá para pedir contas da nossa
administração. É o dia do julgamento, quando Deus intervirá para restabelecer a
justiça, para livrar da morte os seus servidores fiéis e recompensá-los com a
alegria do seu abraço amigo.Até lá, Deus não se manifesta ostensivamente. A
primeira vista, deixa o mundo à mercê dos caprichos humanos. Mas, na verdade,
ele está presente no coração dos que creem, com a luz e a força do seu Espírito
Santo, orientando os seus pensamentos e as suas ações para a realização do seu
plano de amor. Ele não fica insensível nem impotente diante da aflição do seu
povo, porque o consola com a "certeza de que os sofrimentos do tempo
presente não têm proporção com a glória futura que vai se revelar em nós"
(Rm 8,18).
João A. Mac Dowell S.J.
EDITORA
SANTUÁRIO
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