Pe.João A. Mac Dowell S.J.
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É verdade
que diante de uma desgraça o cristão deve resignar-se, porque é a vontade de
Deus?
De jeito
nenhum. É uma idéia errada, infelizmente muito difundida, pensar que tudo
acontece pela vontade de Deus. Deus não quer o pecado, não quer nenhum mal.
Muitas coisas acontecem por causa da má vontade dos homens. A miséria e
sofrimento humano são fruto muitas vezes da ignorância, do egoismo, ódio e
opressão. Se dirijo um carro a 150 km. por hora e causo várias mortes num
acidente, é claro que isso é contra a vontade de Deus.
Outras
desgraças, como um terremoto, uma inundação, uma epidemia, têm causas naturais.
Não é Deus que manda estas calamidades para nos provar ou castigar. Elas
acontecem de acordo com as leis da natureza, num mundo que não saíu
completamente acabado das mãos do Criador. O universo está ainda a caminho da
perfeição final para a qual Deus o destinou.
O que
Deus quer é o bem das suas criaturas: que todos cheguem à plenitude da vida e
felicidade. A sua vontade é que combatamos desde já as causas do sofrimento
humano, a doença, a fome, a guerra. Não foi o que fez Jesus, curando tantos
enfermos? Não foi o que ele nos ensinou, condenando a injustiça e a violência,
e exortando-nos a visitar os prisioneiros e dar de comer aos que têm fome?
Quando
rezamos "seja feita a vossa vontade assim na terra como no céu", não
nos estamos resignando com tudo o que há de triste na terra. Ao contrário,
manifestamos o desejo de que todo mundo faça sempre o bem, obedecendo à vontade
de Deus, como já acontece no céu. Ele não quer que nos resignemos com a
situação atual numa atitude fatalista. Mas nos convida a promover com todas as
forças um mundo melhor.
Mas,
quando não é possível impedir o mal ou aliviar a dor, a vontade de Deus é que
encaremos esta situação com fé e esperança, sabendo que só existe uma coisa
absolutamente negativa, pecar contra Deus e contra o próximo. Quem crê, não
desespera ante os sofrimentos inevitáveis da vida, porque confia na libertação
final.
Mesmo na
doença, na pobreza e perseguição ou diante da morte, uma pessoa pode sentir-se
em paz. Até o pecado, se eu me arrependo, pode ser ocasião de crescer na
humildade, na compreensão dos outros, no desejo de ajudá-los a evitar os males
que ele me trouxe.
Fica
claro, portanto, que o mal não acontece pela vontade de Deus. A sua vontade é
que nos amemos uns aos outros, ajudando-nos a superar as deficiências da
natureza e as conseqüências da maldade humana, a tirar o bem do próprio mal.
João A. Mac Dowell S.J.
http://www.redemptor.com.br(2009)
EDITORA
SANTUÁRIO
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