PADRE HÉLIO DE PESSATO LIBÁRDI CSsR(+) |
Deus quer
tudo o que acontece?
Essa
frase vive surpreendendo muita gente, principalmente nas horas de sofrimentos.
Até na morte o conformismo vem através desse jargão que, de tanto falarem, faz
parte do vocabulário consolador nos velórios: “Deus quis assim”.Não sei bem que
Deus é esse que quer a morte, escolhe alguns para morrer deixando outros que
precisavam morrer para desocupar um pouco esse mundo. Que Deus é esse que anda
na cabeça do povo, que patrocina atrocidades e nos oferece uma vida cheia de
percalços e sofrimentos?Aqui entra a grande ignorância, a preguiça ou
incapacidade de pensar. Que muitos sejam incapazes até de pensar, podemos
admitir, pois seu universo é tão reduzido e pequeno, fácil para aceitar
qualquer explicação. Tudo o que o ultrapassa, se explica pela vontade de Deus,
explicação tranqüilizadora e confortante em qualquer situação.O problema com
aqueles que não querem procurar uma explicação mais completa ou preferem não
pensar muito. É bom deixar como está: um Deus que é Pai, mas que distribui
morte, sofrimento, auxílio para quem Ele quer, premiando a uns e castigando a
outros. Uma teologia que nos deixa inseguros.Não é fácil perceber que cada um
de nós, com seu modo de agir, causa problemas ao outro e essa ciranda negativa,
principalmente do pecado, forma o negativo pano de fundo de destruição do plano
de Deus, trazendo a morte, o sofrimento. Nós somos responsáveis pela morte e
pela vida, pelo sofrimento e pela paz. Um sistema político-econômico a serviço
da ganância e do egoísmo gera exclusões, privações, violência e destruição. A
natureza tem seu limite e morremos quando acaba a nossa resistência para reter
a vida.O pior problema nasce daqueles que querem manter o povo na ignorância,
no medo e assim manter o comando. Uma teologia conservadora, uma teologia da
prosperidade, do conformismo. São teologias falsas, anti-evangélicas. A Igreja
já nos manteve no medo do inferno, da condenação, da morte terrível por muito
tempo. Há lideranças que não largam o poder e vivem ameaçando uns coitados que
não têm acesso a uma teologia mais arejada e mais evangélica. O povo foi
domesticado para viver a dependência; vive com um nó cada vez mais sufocante e
sem perspectivas de vida. Manter o povo nessa linha é fornecer a ele uma
religião que não liberta.Ninguém tem o direito de escravizar o povo pela
religião, através de movimentos, grupos e ensinamentos que ferem a dignidade da
pessoa. Para todos os que querem manter-se na liderança através de ameaças,
vale a advertência de Jesus: “Cuidado com o fermento dos fariseus”.
Pe. Hélio
Libardi, C.Ss.R.
EDITORA
SANTUÁRIO
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