PADRE HÉLIO DE PESSATO LIBÁRDI CSsR(+) |
Temos
o direito de especular a vida dos outros?
A
vida de cada pessoa faz parte do conjunto de sua intimidade, que não pode ser
violada. Atrás de cada vida ou de cada ato existe uma pessoa com sua história,
seus valores, suas razões e sua consciência; pessoa que tem sua dignidade e
seus direitos.
Está
claro que homem nenhum é uma ilha. E ao vivermos em sociedade nossos direitos
vão até onde começam os direitos dos outros. Por isso, em se tratando de tudo o
que implica um relacionamento, as pessoas têm o direito de perguntar sobre
nossa vida, pelo menos para poderem entender-nos, ajudar-nos e se relacionarem
conosco. Aqui tudo depende do grau de relacionamento que deve existir entre as
pessoas. Ninguém vai abrir sua vida a um qualquer como mala de mascate.
Temos
porém o direito de não sermos coagidos a falar sobre nossa vida, quando a nosso
ver as pessoas não têm o direito de entrar em nossa privacidade, e falar ou não
falar não vai acrescentar nada e pode até ser prejudicial para nós mesmos.
Nem
sempre a falsa idéia de querer ser transparente constrói algo sadio. Temos de
respeitar a individualidade nossa e a dos outros, sem com isso sermos problemas
e criarmos barreiras para um relacionamento agradável e necessário.
Vêm
bem a propósito aqui nossas confissões, em que encontramos padres que fazem
questão de bisbilhotar nossa vida e arrancar pormenores que acabam fazendo
desse momento algo traumatizante.
É
certo que o sacerdote tem o direito de se esclarecer para poder formular um
parecer e dar uma boa orientação, mas tudo tem o limite da própria consciência
do penitente. A ninguém, sob nenhum pretexto, cabe o direito de violentar uma
consciência tanto especulando demais, como emitindo julgamentos sobre o estado
de pecado mais ou menos grave na pessoa. Ela é quem sabe. O sacerdote pode
esclarecer, falar sobre os corretos valores, ajudar na formação da consciência.
Penso
também que as pessoas deviam estar mais preparadas para suas confissões e dizer
o que realmente é importante e de forma conveniente para não confundir o
confessor e levá-lo a um mal-entendido.
Quem
especula a vida dos outros, certamente podemos classificá-lo como doente. São
pessoas que se julgam no direito ou que têm satisfação em saber o que não
devem, e mais doentes são aquelas pessoas que têm a alegria em levar em frente
esses pormenores da vida alheia e se passarem por bem informadas.
Não
nos cabe o direito de excluir essas pessoas e afastá-las de nosso redor, mas
fica bem claro o cuidado que se deve ter perto delas. O melhor caminho é o
silêncio que ensina a falar apenas o que se deve e na hora certa.
Pe.
Hélio Libardi, C.Ss.R.
http://www.redemptor.com.br(2009)
EDITORA
SANTUÁRIO
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