NERI PEREIRA DA SILVA |
Férias de 1969...regressamos mais cedo das férias pois
iríamos passar uma semana na praia de Peruíbe...O tio do Marcos Escudeiro nos
cedeu sua casa por uma semana e lá nós nos instalamos..Muitos jamais tinham
visto o mar, inclusive eu, e todos os cuidados certamente seriam necessários
para controlar um grupo razoável de adolescentes ...lembro-me que fomos visitar
as ruínas de Anchieta, e ficamos em uma praia do outro lado do rio...
Chegando ao local, os frequentadores assíduos dali nos
alertaram sobre a maré: " Ao chegar das 16 hs em diante, tomem muito
cuidado pois a maré costuma surgir de supetão sem avisar e há aqui uma corrente
marítima muito forte que poderá arrastá-los pro alto mar...!"
Bem, eu e o Benedito Donizete, passamos a infância
praticando a natação, éramos muito bons nisso e portanto estávamos
despreocupados e assim arrastamos uma câmara de pneu de caminhão e logo já
estávamos em quatro ou cinco dependurados na bóia apreciando o movimento dos
nadadores...
O papo rolou, as brincadeiras foram vindo sempre ali sobre a
câmara enorme e quando percebemos a praia já se encontrava bem distante.
-" Heim, pessoal, acho que já estamos no lugar mais
profundo!" – gritou o Donizete e soltou seu corpo da boía. Quando
reapareceu estava assustado:
-" Não alcancei o fundo, tenta você Neri
!".
Soltei o corpo e estiquei bem a ponta dos pés. Meu corpo desceu até
encontrar águas geladas e nada de areia. Reapareci e aí todos ficamos com medo:
-"E agora? Fomos pegos pela corrente marítima, vejam onde está a praia! "
Hoje, fico assustado ao recordar , imaginem que nós tínhamos
apenas treze anos de idade...e a praia ia se afastando rapidamente de nosso
campo de visão...outros garotos estavam em desespero pois não sabiam nadar;
mais essa! Havia apenas uma solução viável: eu e o Benedito Donizete ir nadando
até a praia enquanto eles ficariam agarrados na câmara...teríamos que nadar
contra a correnteza marítima até a praia e lá chamar os salva-vidas...Nos
jogamos nas águas e iniciamos tentando vencer a corrente...pés e braços
trabalhando com toda a força mas a corrente nos arrastava cada vez mais pro
alto mar. O Donizete, ao meu lado fez sinal de que tínhamos que usar toda a
força contra a corrente e aproveitar quando as ondas começavam a se formar prá
afrouxar mais o ritmo até chegarmos onde as ondas começavam a quebrar...Essa
luta durou bem um hora. Vencíamos três metros e o mar nos arrastava dois metros
de volta...Ele se distanciou um pouco na minha frente e eu o acompanhei . Os
amigos já haviam sumidos em direção ao alto mar...mas não podíamos em hipótese
alguma parar de nadar ...senão a corrente nos levaria ao encontro dos
amigos....e assim fomos nos esgotando cansados diante da força titânica da
maré...mas depois de um bom tempo conseguimos chegar na praia...todos vieram ao
nosso encontro e relatamos o ocorrido. Era preciso avisar os salva-vidas.
Alguém comentou que ali não havia nenhum salva-vidas, eles ficavam no outro
lado do canal....Nós estávamos mortos de cansados e não conseguiríamos
atravessar a nado o rio...então, imediatamente o Alfredo Gonçalves se
prontificou em fazer isso e saiu correndo atirando-se nas águas do canal
conseguindo atravessá-lo ...foi atrás dos Salva- Vidas e , logo já avistamos o
barco saindo em direção a alto mar...Conseguiram encontrar os garotos e passar
um belo sermão em cada um de nós...
Não me recordo quem eram os rapazes que ficaram agarrados na
câmara mas, a cena do Alfredo atirando-se no canal me ficou na memória...por
onde você anda Alfredo? Neri
Nenhum comentário:
Postar um comentário