domingo, 25 de setembro de 2016

O HERÓI ALFREDO GONÇALVES

NERI PEREIRA DA SILVA
Férias de 1969...regressamos mais cedo das férias pois iríamos passar uma semana na praia de Peruíbe...O tio do Marcos Escudeiro nos cedeu sua casa por uma semana e lá nós nos instalamos..Muitos jamais tinham visto o mar, inclusive eu, e todos os cuidados certamente seriam necessários para controlar um grupo razoável de adolescentes ...lembro-me que fomos visitar as ruínas de Anchieta, e ficamos em uma praia do outro lado do rio...
Chegando ao local, os frequentadores assíduos dali nos alertaram sobre a maré: " Ao chegar das 16 hs em diante, tomem muito cuidado pois a maré costuma surgir de supetão sem avisar e há aqui uma corrente marítima muito forte que poderá arrastá-los pro alto mar...!"
Bem, eu e o Benedito Donizete, passamos a infância praticando a natação, éramos muito bons nisso e portanto estávamos despreocupados e assim arrastamos uma câmara de pneu de caminhão e logo já estávamos em quatro ou cinco dependurados na bóia apreciando o movimento dos nadadores...
O papo rolou, as brincadeiras foram vindo sempre ali sobre a câmara enorme e quando percebemos a praia já se encontrava bem distante.
-" Heim, pessoal, acho que já estamos no lugar mais profundo!" – gritou o Donizete e soltou seu corpo da boía. Quando reapareceu estava assustado: 
-" Não alcancei o fundo, tenta você Neri !". 
Soltei o corpo e estiquei bem a ponta dos pés. Meu corpo desceu até encontrar águas geladas e nada de areia. Reapareci e aí todos ficamos com medo: 
-"E agora? Fomos pegos pela corrente marítima, vejam onde está a praia! "
Hoje, fico assustado ao recordar , imaginem que nós tínhamos apenas treze anos de idade...e a praia ia se afastando rapidamente de nosso campo de visão...outros garotos estavam em desespero pois não sabiam nadar; mais essa! Havia apenas uma solução viável: eu e o Benedito Donizete ir nadando até a praia enquanto eles ficariam agarrados na câmara...teríamos que nadar contra a correnteza marítima até a praia e lá chamar os salva-vidas...Nos jogamos nas águas e iniciamos tentando vencer a corrente...pés e braços trabalhando com toda a força mas a corrente nos arrastava cada vez mais pro alto mar. O Donizete, ao meu lado fez sinal de que tínhamos que usar toda a força contra a corrente e aproveitar quando as ondas começavam a se formar prá afrouxar mais o ritmo até chegarmos onde as ondas começavam a quebrar...Essa luta durou bem um hora. Vencíamos três metros e o mar nos arrastava dois metros de volta...Ele se distanciou um pouco na minha frente e eu o acompanhei . Os amigos já haviam sumidos em direção ao alto mar...mas não podíamos em hipótese alguma parar de nadar ...senão a corrente nos levaria ao encontro dos amigos....e assim fomos nos esgotando cansados diante da força titânica da maré...mas depois de um bom tempo conseguimos chegar na praia...todos vieram ao nosso encontro e relatamos o ocorrido. Era preciso avisar os salva-vidas. Alguém comentou que ali não havia nenhum salva-vidas, eles ficavam no outro lado do canal....Nós estávamos mortos de cansados e não conseguiríamos atravessar a nado o rio...então, imediatamente o Alfredo Gonçalves se prontificou em fazer isso e saiu correndo atirando-se nas águas do canal conseguindo atravessá-lo ...foi atrás dos Salva- Vidas e , logo já avistamos o barco saindo em direção a alto mar...Conseguiram encontrar os garotos e passar um belo sermão em cada um de nós...

Não me recordo quem eram os rapazes que ficaram agarrados na câmara mas, a cena do Alfredo atirando-se no canal me ficou na memória...por onde você anda Alfredo? Neri

Nenhum comentário:

Postar um comentário