PADRE HÉLIO DE PESSATO LIBÁRDI CSsR(+) |
Os
recasados vivem em pecado?
Uma
boa pergunta num momento em que quase todos nós fomos formados para responder
que casar de novo é pecado. Esta foi uma resposta que demos até agora e vamos
continuar dizendo, porque falta coragem para falarmos que tudo depende de onde
partimos para a formação da consciência. É muito simplismo responder do modo
antigo, já caminhamos no estudo da Teologia Moral e hoje há mais lucidez para
enfrentar essas questões.
Vamos
ter coragem de dizer que os processos canônicos nem sempre são acessíveis ao
povo, nem todos têm dinheiro e conseguem fazer o caminho exigido pelos
processos canônicos, que em sua maioria são longos e demorados. Vamos dizer que
nem todos têm clareza sobre o sacramento que deviam ter realizado em sua vida,
o que já é um motivo para dizermos que não aconteceu o sacramento. Vamos também
dizer que a maioria dos casamentos feitos não chegam a ser sacramento por
defeitos que o Direito Canônico reconhece como defeitos. Vamos dizer também que
já era tempo de abrirmos outro caminho; o casamento se firmou como instituição
sacramental a partir do século XII.
A
fidelidade a Cristo não é um voto ao legalismo, nem tampouco um sentimento de
dureza farisaica. O íntimo da consciência só Deus julga.
Dizemos
que está em pecado quem toma uma atitude frontalmente contra o ensinamento de
Jesus e da Igreja, num desrespeito acintoso, mostrando sua falta de fé e sua
descrença no sacramento do matrimônio. Mas não podemos dizer que está em pecado
quem luta na sinceridade de seu coração e que essa nova situação não significa
falta de fé e de amor à Igreja.
Ao
ler a Bíblia encontramos a passagem: “Deus é amor: aquele que permanece no amor
permanece em Deus e Deus permanece nele” (1Jo 4,16). Não estaria aí um primeiro
caminho para a formação da consciência?
Se
a pessoa fez uma longa caminhada para que acontecesse em sua vida o sacramento
do matrimônio, mas não foi possível, e hoje vive uma vida cheia de amor, quem
somos nós para dizer que Deus não está com ele? Se lá no fundo de sua
consciência a pessoa está tranqüila e procura aprofundar o amor em sua
vivência, como vamos falar em pecado?
Reconheço
que há muitas consciências malformadas, mas nesses casos se não existir a
maldade também não existe o pecado, porque na ignorância não se peca. Falavam
tanto do pecado como fruto da plena consciência do mal, pleno conhecimento e
plena adesão ao mal, e isso não mudou ainda.
Hoje
é preciso ter coragem de dizer a essas pessoas que são sinceras que elas não
estão em pecado. A palavra de Jesus precisa libertar essas pessoas desse peso
de uma moral do proibido e de tantos pecados criados pela falta de lucidez na
fé.
Pe.
Hélio Libardi, C.Ss.R.
http://www.redemptor.com.br(2009)
EDITORA
SANTUÁRIO
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