O
fundamentalismo leva sempre à radicalização. A descoberta da Bíblia por parte
de grupos religiosos leva ao extremo apego à letra, à palavra como a única
fonte de fé.
A
Bíblia é experiência de um povo, de uma comunidade, experiência da descoberta
de Deus, de Jesus. Essas experiências foram trabalhadas, vividas e escritas tantas
vezes após longo tempo de transmissão oral.
Há
todo um trabalho que pode ser comparado ao da descoberta da revelação de Deus
na Bíblia. Ela traz tudo o que era necessário para nossa salvação e para nos
inspirar a construir nossa história no tempo de hoje.
Mas
a Bíblia não é a única fonte de fé. Muita coisa não foi escrita do que
aconteceu com Jesus; essas coisas foram guardadas na memória do povo e foram
transmitidas ao vivo de pessoa para pessoa ou nas pregações nas primeiras
comunidades.
Todo
esse conjunto de verdades que completam a Bíblia nós conhecemos através da
tradição. Por isso, a tradição consiste também em uma fonte de fé em
consonância com a Bíblia. A tradição nunca vai contradizer a Bíblia, mas
completa e ajuda a compreendê-la.
Da
maneira que a Bíblia foi escrita, após longo tempo e há muito tempo, temos
dificuldade em entender e descobrir verdades reveladas por Deus. Para isso há
os estudiosos que, sob orientação da Igreja, vão aprofundando-se no estudo dos
textos bíblicos e através do estudo comparativo dos costumes e de textos
paralelos nos dão uma nova versão ou compreensão dos textos bíblicos. Não
entendemos os evangelhos sem um estudo do tempo de Jesus, dos costumes e
tradições dos judeus.
A
Igreja orienta os estudos, as pesquisas religiosas. Ela recolhe o consenso do
povo a respeito de uma verdade. Ela orienta para a correta leitura e
interpretação das escrituras. Isso se faz através do que chamamos “Magistério”,
que para nós é mais uma fonte de fé.
Essas
três fontes completam-se na apresentação da doutrina de Jesus, num cuidado
muito grande pela conservação da integridade da fé. Há necessidade de uma
docilidade muito grande por parte do Magistério da Igreja e dos estudiosos para
a ação do Espírito Santo. Segundo Jesus, o Espírito Santo ensinar-nos-ia toda a
verdade e o sentido do próprio Jesus. Ninguém de nós é depositário total das
verdades da fé, mas todos nós, movidos pelo Espírito Santo, podemos ajudar nos
estudos e discernimentos.
O
culto da palavra é tão perigoso como o culto desordenado de imagens. Temos
sempre de evitar radicalizações.
Pe.
Hélio Libardi, C.Ss.R.
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