PADRE HÉLIO DE PESSATO LIBÁRDI CSsR(+) |
Rezar
em línguas é uma experiência de Deus?
Os
movimentos pentecostais trouxeram à tona, entre diversas expressões de piedade,
algo que existia na Comunidade primitiva e que era considerado um dom de Deus
em benefício da própria comunidade: rezar em línguas.
O
dom das línguas (glossolalia) é um carisma, um dom do Espírito Santo para
edificação da comunidade. Na carta aos Coríntios (1Cor 14,2-28), Paulo fala
desse dom e dá as orientações claras até mesmo cortando o uso desse dom, quando
não há ninguém que possa interpretar. Avisa também do perigo de serem tachados
como loucos, para o perigo da indisciplina, e coloca a preferência pelo dom da
profecia, proclamando as maravilhas de Deus de modo inteligível.
No
comentário dos padres antigos, isso parece ter desaparecido ou, pelo menos,
havia certo embaraço em explicar esse dom. Parece que o abuso disso pelos
hereges montanistas provocou desinteresse nos fiéis.
Entre
os escritos dos grandes santos, fala-se de certa “embriaguez espiritual”, um
estado de alma em que a consolação dada por Deus apodera-se de tal forma do
santo, que ele passa a exprimir sua experiência mística com palavras estranhas
e desconexas.
Esse
fenômeno, no entanto, é próprio dos grandes místicos em seu estado de comunhão
com Deus. Não faz parte da experiência comum dos fiéis orantes e que ainda não
chegaram a esse estado de perfeição. É um caminho não comum para nós que
lutamos dentro de uma ascese cristã. Não podemos negar que haja o dom das
línguas, mas perguntamos: para que serve? As esquisitices sempre atraem um
grande número de pessoas; outro tanto facilmente se identifica e se entusiasma
com elas.
A
maioria de nós não saiu ainda da cartilha da oração e já se julga pregando por
Deus com o dom das línguas, e mais, com o dom de interpretar. É preciso muita
cautela com os desequilíbrios pessoais e coletivos. Deviam passar esses
fenômenos por análise de bons psicólogos e alguns psiquiatras.
Podemos
dizer, com certeza, que esse dom não faz falta à Igreja nem ao processo de
crescimento pessoal na vida de comunhão com Deus. Veja bem o que diz Paulo no
tão cantado capítulo do dom das línguas, precisamente no versículo 19: “Mas
numa assembléia prefiro dizer cinco palavras com minha inteligência, para
instruir também aos outros, a dizer dez mil palavras em línguas” (1Cor 14,19).
É
uma troca desproporcional, mas Paulo sabe o que fala. Às vezes quem julga ter
esse dom, devia rezar a sós em sua casa.
Pe.
Hélio Libardi, C.Ss.R.
http://www.redemptor.com.br(2009)
EDITORA SANTUÁRIO
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