quarta-feira, 8 de julho de 2020

ALEXANDRE DUMAS - REMEMORANDO OS TEMPOS DO SEMINÁRIO

O DORMITÓRIO OITAVO E A CAPELA
Quando entrei no seminário, em 1949, o Padre Pereira me recebeu e me conduziu, primeiramente, à rouparia indicando-me onde guardaria meu enxoval, mandou que separasse as roupas de cama e as levasse até o dormitório dos menores no terceiro pavimento, mostrou-me a cama e ensinou-me como deveria ser arrumada diariamente. Na sua cabeceira, uma plaquinha indicava o meu nome precedido por um número que levaria por todo o tempo que permanecesse no seminário: 51 - DUMAS
Feito isso, entregou-me ao Gervásio, zelador dos menores, que me apresentou ao meu grupo, e, daí, fui me inteirando da rotina de minha nova casa. 
À noite, depois das orações na capela, dirigi-me ao dormitório para minha primeira noite no seminário. As camas eram dispostas em três fileiras ao longo de um enorme corredor, calculo uns sessenta metros, Tomei conhecimento de meus vizinhos, o silêncio era obrigatório, mas percebi que havia uma separação de uns cinco metros, se tanto, para um grupamento de camas que fechava o fundo do corredor, seus ocupantes não eram somente da turma dos menores, notei a presença de médios e maiores, percebi, então, que aquele espaço exalava um forte cheiro de urina. Dormi serenamente e me acordei ao som forte de um sino que nos convocava à rotina do primeiro dia de aula, 03 de fevereiro de 1949, fomos para a capela e acredito que, nessa primeira missa lá celebrada, recebi a bênção de São Braz, protetor da garganta. 
No recreio, apressei-me a procurar um seminarista mais velho e matar a curiosidade sobre a presença daquele grupo em nosso dormitório. Contaram-me em voz baixa, como se fosse um segredo, que aquele lugar se denominava DORMITÓRIO OITAVO, destinado aos seminaristas que faziam xixi na cama, seus colchões eram de esteira e havia uma rotina própria na higienização diária daquele local, misturando-se um pouco de creolina na água de limpeza, eles eram apelidados de MARINHEIROS. Tudo esclarecido, aprendi a conviver com essa realidade e a respeitar esses novos colegas. Certa ocasião, no início de minha puberdade, o padre estranhou meu lençol e mandou-me fazer um estágio na Marinha de Guerra, reconhecida a falha, me deram baixa. Quando nos mudamos para o Santo Afonso, os padres tomaram o cuidado de instalar os marinheiros num dormitório exclusivo, com ralos distribuídos para facilitar a limpeza, sua porta deveria permanecer fechada e era proibido mostrar o local às visitas. Como a capela não estava concluída, ela foi instalada no dormitório que deveria ser ocupado pelos médios, coincidentemente bem em frente ao dormitório oitavo, não sei se era o incenso que penetrava lá ou era a creolina que se misturava a este, dando àquele espaço um odor bem característico. 
O tempo é inexorável, o passado fica cada vez mais distante e nos acostumamos a novas regras e conceitos de vida, os valores sofrem uma evolução para melhor e hoje discutimos nova conceituação no tratamento entre pessoas, surgiu o tal do bullyng, coisa não mais aceita em novos tempos. Cinquenta anos depois que deixei o seminário, fui visitá-lo, aproveitando um de nossos encontros da UNESER, a gente passa e repassa as salas e vai relembrando fatos e lugares que nos deixaram saudades. Solicitei a um seminarista que me mostrasse alguns compartimentos, ele me explicava a utilização atual do espaço e eu lembrava a de meu tempo. Fomos revirando o seminário até chegar à malfadada sala, ele fez menção de abrir e eu dispensei, dizendo já conhecê-la. Ele mostrou-se admirado pela minha recusa e, assim mesmo, a abriu , deparei-me com uma capela acolhedora, com cheiro de incenso, flores no altar de Maria e a luminária brilhante do Sacrário. Explicou-me que, por serem muito poucos os seminaristas atuais e a capela oficial ser muito grande, optou-se pela adoção de um espaço menor Ajoelhei-me pela primeira vez naquele espaço em que vi muitos colegas fazendo também isso, não para rezar, mas para cuidar da faxina diária que lhes era imposta. Aí, ele perguntou-me sobre o meu tempo, a que servia aquele espaço ? Engoli em seco, gaguejei e respondi-lhe que era um pequeno dormitório, muito disputado pela proximidade da capela, já exalava incenso, diziam que Jesus, cansado do sacrário, nas madrugadas frias, procurava abrigo ali. ALEXANDRE DUMAS
Caro e sempre dileto amigo Dumas, que recordação maravilhosa daqueles nossos velhos tempos de Seminário, Colegião e Santo Afonso. Ao ler este texto, transportei-me para aquela época e saudoso, até emicionei-me. Vou interargir com nossos colegas,  confrades como costuma dizer  o Thozzi, para que conste em todos os registros de memórias da UNESER. Tenho certeza que como eu, o Abner,o Sebastian Baldi, o Nélson Duarte, o Cel.Nélson Vianna, o Vágner e tantos outros revivemos aqueles bons tempos. Obrigado e um grande abraço! Antônio Ierárdi (Tampinha)

Nenhum comentário:

Postar um comentário