Padre Antonio Ricieri
Bariani
+22 DE JULHO DE 2019
“Para
mim a época em que passei pregando as Santas Missões Populares foi o tempo mais
empolgante, mais envolvente e que me deixou muita saudade”
Padre Antonio Ricieri Bariani morreu nesta
segunda-feira, 22 de julho-2019, aos 102 anos, e era considerado o missionário redentorista mais velho do Brasil. Padre Bariani nasceu no dia 24 de dezembro de 1916, em um
povoado chamado Guaxima, que fica em Conquista (MG).Completamente lúcido, lançou um livro de
poesias. Ele conta desde sua infância, estudos, como se tornou padre
redentorista, seus tempos de missionário e muito mais.
Família
e infância
“Nasci
em 24 de dezembro de 1916, em Guaxima, Município de Conquista, no Triângulo
mineiro. Meu pai era italiano, Joseph Fioravante Bariani e minha mãe
brasileira, Maria da Loka. Éramos 10 irmãos, hoje só eu estou vivo. Fui
batizado no mesmo dia em que nasci. Ainda pequeno, minha família se mudou para
Igarapava (SP). Ali fiz meus primeiros estudos. Depois fui estudar em Ribeirão
Preto, onde cursei Escola de Comércio por três anos. Vim para Goiás em 1939.
Trabalhava numa serraria com a minha família. Em 1939 eu frequentei, à noite,
aulas no Liceu de Goiás”.
Igreja
e fé
“Sempre
fui da Igreja. Quando era pequenino eu ia à missa levado pela mão de minha mãe,
e foi nas missas que eu aprendi o gosto pelas coisas de Deus. Mais tarde, já
rapaz, eu pertenci à Congregação Mariana, lá em São Paulo ainda. E me fizeram
diversos convites para ser padre. Falavam que faltavam padres, que estava
faltando missionário. Lembro que, quando eu era coroinha, na sacristia da
Catedral de Ribeirão Preto, perguntei ao padre José, um Estigmatino: “E eu
presto para ser padre? Mas eu posso ser um?”. Ele apontou o dedo pra mim e
falou: “Se você quiser, você presta, você pode!” E eu respondi: “Eu vou querer!
Eu quero!”
No
Seminário
“Até
chegar ir para o Seminário foi um processo longo. Quando morava no Estado de
São Paulo quis entrar para um seminário mas não foi possível. Então aconteceu
que, vindo para Goiás, conheci os Redentoristas e senti que minha vocação tinha
se firmado e resolvi segui-la. Conversei com o Padre Fernando Albertini, de
quem tenho muita saudade. Naquela época os redentoristas de Goiás não tinham
Seminário aqui. Eram unidos com São Paulo. O superior de São Paulo, padre
Geraldo Pires de Souza veio fazer uma visita a Goiás. Padre Albertini, de moto,
foi depressa para a serraria onde meu pai, eu e meus irmãos trabalhávamos e foi
logo dizendo: “Olha, eu falei com o superior e ele quer falar com você”. Fui
falar com o Padre Geraldo Pires de Souza e nós acertamos minha ida para
Aparecida (SP). Depois fiz o Noviciado em Pindamonhangaba (SP), e os estudos de
Filosofia e Teologia em Tietê (SP).”
Ordenação
“Minha
ordenação sacerdotal aconteceu no dia 06 de janeiro de 1949, junto com meu
companheiro padre Leodônio Marques, já falecido. Aconteceu na Igreja São João
Bosco, dos padres Salesianos, em Goiânia. Tenho a glória de ser o primeiro
padre a ser ordenado em Goiânia. E cantei a primeira missa solene no dia 09, na
Matriz de Campinas, Paróquia Nossa Senhora da Conceição, ainda na igreja antiga
que, infelizmente, foi demolida. Sobre a ordenação eu digo que é um momento
muito forte e marcante com a infusão do Espírito Santo...
Trabalhos
“Meus
primeiros anos de sacerdócio foram em Araraquara (SP) e Aparecida (SP). Depois
vim para Goiás, morando em Trindade, Brasília, e na Prelazia de Rubiataba,
trabalhando com Dom Juvenal Roriz. Houve um período de dois anos que fui
professor no Seminário São José, no atual Setor São José. O menino Ney Barreto,
hoje padre Ney, era um dos meus alunos. Mas o tempo mais forte e marcante para
mim foram os muitos anos que pertenci à equipe missionária, pregando as Santas
Missões Populares. Nossa equipe pregou Missões em Goiás e em muitas cidades de
outros estados brasileiros. Estivemos no Paraná (Curitiba, Londrina), em Santa
Catarina (Joinvile), em muitas cidades da Bahia, do Piauí, Maranhão, Pará,
Tocantins. Por isso eu digo que a época das Santas Missões, para mim, foi o
tempo mais empolgante, mais envolvente e que deixou muita saudade”.
Desobrigas
“Quando
morei em Trindade, nos anos de 1951/52, eu viajava de caminhão ou
jardineirinhas até Aurilândia ou até Moitu, e de lá ia, à cavalo, rodando uns
15 dias fazendo desobrigas pelas fazendas, pelos povoados até as margens do Rio
Caiapó. O povo tem necessidade dos sacramentos, da santa missa, da confissão,
da comunhão, da catequese. Mas quem mora longe não tem como receber... então o
padre vai até ele. Porque o povo tem a obrigação de confessar e receber a
comunhão ao menos uma vez por ano... Então o padre vai lá para desobrigar o
povo. Atende o povo... faz a catequese.. confessa... E aí o povo participa da
santa missa, da comunhão... e são realizados os batizados e os casamentos. Eu
fui o último padre que fez esse trabalho de desobrigas lá nos sertões daqueles
tempos”.
“Falo
com muita satisfação e com muita alegria da convivência com o Servo de Deus
padre Pelágio Sauter. Convivi com o padre Pelágio vários anos na casa
missionária de Trindade. Eu me confessava com ele, ele também se confessava
comigo. Era uma maravilha a convivência com os padres antigos. Padre Pelágio
era o confrade mais velho, o mais antigo de Goiás e que conhecia todo mundo.
Alemão, mas conhecia os costumes de Goiás. E naquele tempo nós fazíamos três
meditações por dia, e de joelhos na capela. Padre Pelágio junto, sempre junto
com a comunidade. Depois, Padre Pelágio passou a ir, nas quartas-feiras, para
Campinas, onde atendia o povo na Igreja Matriz, Paróquia Nossa Senhora
Imaculada Conceição”.
Trindade
II
“Trabalhei
nas periferias de Goiânia e Trindade, residindo no Parque Buriti e Setor Maysa
III, durante vinte e seis anos. Quando cheguei para fazer parte da equipe, não
havia mais espaço no casebre pequenino onde já se alojam três confrades, em
três cômodos que serviam de quarto, sala de recepção/refeição e cozinha. Então
morei sete anos na sacristia da Igreja Nossa Senhora da Guia, e fiquei 13 anos
no apartamentinho que foi construído pra mim entre a igreja e a nova casa que
hoje é a secretaria da paróquia. Depois fui para o Maysa III. O carisma da
Congregação é missionário, e fiquei na região Trindade II, nesses vinte e seis
anos, como missionário. Se eu pudesse voltar para as missões eu voltaria! Oh,
Santas Missões Populares! Quem não esteve nas Santas Missões, não participou
bastante tempo das Missões, não viveu as Missões, não sabe o que é... o que são
as Santas Missões! Santo Afonso tinha muita razão em pregar Missões”.
Para quem passou por duas Guerras Mundiais, vivenciou grandes transformações na
sociedade brasileira e pode ver sua província redentorista crescer
e ganhar repercussão nacional com o Santuário do Divino Pai Eterno,
padre Bariani sempre tinha muita história para contar.
Padre Bariani conheceu a Congregação do Santíssimo Redentor em
Trindade (GO), e sentindo que sua vocação era ser um missionário de Santo
Afonso foi ordenado no dia 6 de janeiro de 1949, na Igreja São João Bosco, em
Goiânia, o que o identifica como o primeiro padre ordenado na
capital de Goiás. O missionário chegou a viver o início de seu
ministério em Araraquara e em Aparecida, no Estado de São Paulo.
Padre Bariani foi um dos desbravadores da fé em terras goianas, sendo um dos
colonizadores de Campininhas das Flores, que é hoje o bairro de Campinas, em
Goiânia. Ele também contribuiu pessoalmente para o desenvolvimento de Trindade.
Ao longo de décadas acompanhando, de perto, a devoção ao Divino Pai Eterno, o
sacerdote viu a Romaria de Trindade tomar as
proporções que tem hoje e foi um dos responsáveis diretos pelo início da
disseminação dessa fé.
Integrou a equipe das Santas Missões Populares, pregando em comunidades de
Goiás, Paraná, Santa Catarina, Bahia, Piauí, Maranhão, Pará e Tocantins. Por
muitos anos, residiu na periferia de Goiânia, atendendo as comunidades da
região missionária “Trindade 2”, hoje paróquia Nossa Senhora da Guia, bem como
celebrando a missa na Capela Nossa Senhora das Graças, no centro da capital.
Província de Goiás
Pioneiro no mundo das comunicações montou o serviço de alto-falante e som e foi
responsável também por levar, pela primeira vez, o cinema à Capital da Fé de
Goiás, por meio de uma máquina portátil. Além disso, trabalhou ainda pela consolidação da Vila São José Bento Cottolengo, uma
das maiores obras sociais da Região Centro-Oeste.
Ele residia atualmente no Convento Santíssima Trindade, junto à igreja Matriz de
Trindade. Na última romaria, padre Bariani acompanhou toda a novena das nove da
manhã na igreja Matriz. Celebrava a eucaristia diariamente e dedicava-se à
literatura, tendo publicado recentemente um livro de memórias: “Meus 100 anos com Jesus Menino”.