Olá, gente amiga querida, vocês já sonharam com seu pai morto há muitos anos?
Pois é, essa noite sonhei com meu pai !
Dia 26 (de junho) próximo fará 45 anos da morte dele.Eu nunca tinha sonhado com ele.
Nós estávamos na beira do rio Tietê pescando. Em silêncio como ele exigia.
Já tínhamos pego uma fieira enorme de lambari, eu estava ansioso para ir para casa, mas ele estava pescando tanto que não se animava a ir embora!
Meu pai era, aqui em São Paulo, um homem calado.
A cidade grande o engoliu.
Quando no interior ele tocava violão e cantava.
Minha mãe se divertia com a dicção dele!
Ele não conseguia falar os dois "rr", sua origem italiana impedia: então era"caroça,caro,arois"..
Ele era agricultor, aqui teve que inventar uma nova profissão: virou pedreiro!
Silencioso, todas as decisões (do almoço de domingo à educação dos filhos era com dona Conceição).
Prá ele o cotidiano era uma repetição: trabalho!
O domingo era sempre igual: missa das sete na igreja de Nossa Senhora da Penha. Pescar até às 11 no Tietê (falo da década de 50, água limpa), fazer a feira, passar na banca de jornal comprar a gazeta esportiva.
Chegando em casa, limpava os peixes.
O almoço era sempre igual: macarrão feito em casa, frango ao molho.
Sempre havia uma garrafa de vinho (de São Roque), metade para ele é minha mãe, outra metade diluída no guaraná com frutas prás crianças.
Depois do coxilo, ouvir o jogo no rádio enquanto fritava os peixes que ficaram marinando. Era a hora de ler o jornal.
Não conversava!
Sempre sisudo... a cidade grande o anulara !
Quando fui para o Seminário, ele me levou.
Viajamos sem conversar. Antes de me entregar ao padre que me receberia,encarou-me longamente:
-"Você tem certeza de que quer ficar aí?Não quer voltar pra casa?"
Ante minha negativa entramos. Entregou minha mala ao padre Magalhães..
Despediu se do padre, tirou o relógio do pulso, me deu de presente. Ante minha relutância, insistiu. Puz o relógio no pulso. Era de corda, como todos daquela época. Não se despediu de mim.
Eu tenho o relógio até hoje. Funciona, é de corda, marca "Fleur Ancre-15 rubis", francês.
Comigo está há 61 anos!
Sai do seminário, nunca me perguntou porque.
Continuava de poucas palavras.
Quando me formei na faculdade me deu outro relógio um Tissot, suíço.
Um ladrão roubou-o de mim.
Continuava falando pouco.
Depois dos sessenta, aposentou-se e foi morar na chácara que tínhamos em Moji das Cruzes.
Em 1975, em março, excesso de cigarro e bebida resultaram num câncer.
Passou quatro meses no hospital. Morreu dia 26 de junho. Chamava se João.
Na véspera, dia 25, nasceram minhas filhas gêmeas. Sugeriu que uma se chamasse Giovanna, afinal era São João. Não se chamou. Nesse dia me pediu três coisas: Um coração de frango cozido no molho, uma dose de cachaça e um cigarro.
Consegui a dose de cachaça, bebeu com gosto.
O cigarro disparou o alarme anti incêndio, fui embora depressa prá não tomar bronca.
O coração de frango fiquei devendo !
Hoje me deu vontade de conversar com ele, então falei dele!
Boa noite, gente amiga querida!
Que venha uma semana sem sustos! Antônio Thozzi
Boa noite mes ami. As palavras que eu devia falar foram de vez. Li a história de cabo a rabo. Nunca sonhei com meu pai que faleceu no ano de minha ordenação. Não me viu diácono. Minha mãe, falecida há quase dois meses, ficou viúva por 34 anos. Ela gostava de um Curimbatá (peixe com muito espinho). A vida de meu pai era plantar hortaliças e, assim, completava o seu salário de ferroviário. Gostaria de explanar mais, mas não consigo. Vai ficar para uma outra vez. Adilson Cunha
Parabéns pelo texto, fiquei gostando de seu pai, foi duro, sincero, amoroso, cumpriu seu dever, pescador, amante do vinho, calado, falava através do exemplo. Algum dia, vou falar de meu pai, vou contar uma história diferente, um homem honesto, auto-didata, trabalhador, responsável, agnóstico, nos deixou lições de afetividade sem nunca se mostrar afetuoso.Alexandre Dumas
Caro sempre amigo Dumas, permita-me mostrar aqui este excerto que tenho guardado sobre o Sr.RAPHAEL MENEZES SILVA, seu honesto pai, e você naturalmente irá completar com informações reais e mais emocionais: "Certa feita, estando eu a trabalhar no Banco do Brasil em Guaratinguetá, atendi um cidadão de Aparecida, José Bustamante. Identificou-me como filho de Raphael e tomou a liberdade de me contar uma história:-"No tempo da emancipação, fazíamos comícios nos arredores da Ponte do Sá, ponto extremo do distrito rumo a Guará. No ardor dos discursos, quando se convocava os militantes à "Guerra", surge no palanque um jovem de 26 anos, mineiro de nascimento, retratista de profissão, e grita uma frase, parafraseando seu dito antepassado das Minas Gerais: -Independência ou Morte" . Papai era Raphael da SILVA Menezes e se dizia parente do inconfidente. Tinha conhecimentos adquiridos em grupo escolar, mas lia Alexandre Dumas e Vitor Hugo, tinha um dicionário onde procurava palavras difíceis para se dizer letrado entre seus pares."
-por Alexandre Dumas -
Sr.RAPHAEL MENEZES SILVA |
Obrigado, amigo, por procionar-me esse belo momento de memória! Antônio Ierardi
Caro Tozzi, gostei muito de seu pai, do seu texto, tenho a impressão que os pais naqueles tempos eram quase todos iguais. Sisudos, gostavam de uma cachacinha, de pescar, mas contudo o que achávamos que era chato, na verdade, eram adoráveis e se tornaram nossas melhores lembranças. Abner
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