Aproxima-se aquele período do ano em que a conjuntura econômica, social e espiritual parece convergir para uma encruzilhada. De um lado, a pressão material de um tempo difícil — como têm sido tantos outros — em que a inflação renitente e o custo de vida comprimem os orçamentos familiares, deixando muitos à beira do endividamento, com créditos e débitos se acumulando como sombras do cotidiano.
De outro lado, ergue-se o esplendor das celebrações natalinas, impulsionado por um marketing poderoso que transforma o mês de dezembro em um grande palco de consumo. Vitrines luminosas, promoções tentadoras e apelos publicitários constroem uma atmosfera que convida ao gasto, mesmo quando o bolso não comporta. É a sedução do “ter” sobre o “ser”.
No centro dessa encruzilhada, contudo, está o verdadeiro sentido do Natal — o nascimento do Menino Jesus. Um menino envolto em panos simples, reclinado numa manjedoura, cercado por pastores e animais. Ele representa o despojamento, a humildade, a luz que nasce no silêncio da noite. A mensagem que vem da gruta de Belém não é de abundância material, mas de riqueza interior; não é de ostentação, mas de amor, esperança e partilha.
Há, portanto, um contraste profundo entre o espírito do presépio e a lógica do mercado. Enquanto o mundo moderno se esfalfa para comprar lembranças — às vezes mínimas, mas carregadas de esforço e culpa —, esquece-se que o verdadeiro presente do Natal não é o que se dá, mas o que se é.
Os Reis Magos, guiados pela estrela, não levaram presentes uns aos outros: levaram-nos ao Menino. O ouro, o incenso e a mirra não foram símbolos de consumo, mas de reconhecimento espiritual — o ouro da realeza divina, o incenso da fé, a mirra da entrega.
A tradição de presentear entre amigos, familiares e colegas, embora bela, só encontra seu pleno sentido quando recorda esse gesto primeiro: o presente é para o Cristo que habita em cada pessoa.
Por isso, talvez o maior presente que podemos oferecer neste Natal não se compra em loja alguma. É um presente invisível, mas poderoso: a paz que oferecemos aos outros, a harmonia que cultivamos dentro de nós, a saúde do corpo e da alma, e a fé renovada de que, mesmo em meio às crises, há sempre uma estrela que nos guia para o essencial.
PEDRO LUIZ DIAS

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