domingo, 3 de junho de 2018

MEMÓRIAS DO SEMINÁRIO MENOR REDENTORISTA

BENEDITO FRANCO - BENÉ
064 - O internato I / III
*Quando ainda criança, doze anos, meu pai me levou para o internato dos Padres Redentoristas em Congonhas, MG, dirigido por padres holandeses - o Diretor e alguns professores.
Costumes hoje inconcebíveis: 
Calções e camisetas usados obrigatoriamente para tomar banho normal de chuveiro - abolidos um ou dois anos antes de eu entrar. Nadávamos de calção longo, abaixo dos joelhos, e camiseta. Camiseta abolida meses depois e o calção chegou ao tamanho normal, para a época, um ou dois anos após minha chegada, com a tomada das rédeas da direção por padres brasileiros - entre eles o Padre Alberto Ferreira Lima que modernizou quase tudo. Natação é coisa pouco comum em Congonhas por causa do clima, talvez três a cinco meses durante o ano, apesar de hoje haver grande parque público, da Prefeitura, Parque da Cachoeira, perto da cidade, aberto de terça a domingo - com uma vistosa e bela cachoeira e mais de vinte piscinas. 
Quando cheguei, banho obrigatório aos sábados. Jogávamos futebol, em campo de terra e muita poeira, todas as terças e quintas - o banho não exigido para quem jogasse, mas os padres brasileiros começaram a obrigar os participantes. Calculem a quantidade de chulé de cada jovem em idade propícia - as meias de algodão usadas durante uma semana endureciam nos pés - a de nylon ainda inexistia - e como a de algodão caía sobre o sapato, usava-se a liga para segurá-la. No dormitório, quase duzentas camas uma ao lado da outra, e os alunos tirando sapatos e meias ao mesmo tempo. Trocávamos de roupa aos sábados. Os suspensórios faziam parte do enxoval.
Holandês não toma banho - talvez uns três a cinco por ano. Na França, o governo incentiva o uso de chuveiro, pois muitas casas e prédios não têm - é por isso que o francês inventou tanto perfume. Minha irmã Celma especializou-se em hematologia e bacteriologia na Bélgica, onde ficou conhecida na grande Universidade Livre de Bruxelas, por ser a moça que toma banho. Uma senhora, doméstica na casa de um padre holandês, contou-me que, apesar de o padre tomar banho de três em três meses, a roupa não fedia mais que a nossa - trocava normalmente como nós - mas, parece-me, por causa do clima, os holandeses transpiram menos.
Éramos divididos em três turmas: menores, os do preliminar e primeira série; os médios, das segunda e terceira séries, e dos maiores, das quarta, quinta e sexta séries. Só se podia falar, brincar ou andar junto com colega de turma - tudo separado para cada turma, tanto nos recreios como nos esportes. Nunca se podia conversar com apenas um colega - era a proibida amizade particular - andar sempre com dois ou mais.
Havia muita coisa boa também.
Comida farta e ótima. Tudo servido no prato tinha que ser comido – nada podia sobrar – e havia um mínimo a ser servido. No jantar uma sopa antes do prato principal e todos tinham que comer pelo menos um pouco de sopa. Havia um menino de Acesita que detestava sopa – ficava ele no refeitório depois de todos acabarem de comer até terminar o recreio, para forçá-lo a comer a bendita sopa. Eu sempre gostei de sopa. Esse menino acabou saindo do seminário por causa da sopa. Foi o único senão que achei no seminário – eu, menino, achava uma covardia o que se fazia com ele – mas era julgamento de menino; os Padres tinham suas razões e a mim não me cabia discuti-las. Conversei com pessoas que estudaram em internatos, em nenhum deles havia tanta fartura e conforto. Fabricavam cerveja, distribuída para nós nos dias de festas - achava um gosto horrível. Fora do internato, permitia-se fumar. Na época - talvez hoje não seja assim - na Holanda havia uma festa familiar para os rapazes que completavam quinze anos, debutavam, quando recebiam permissão e começavam a fumar e a beber cerveja - presentes de variados tipos de cigarros, charutos e cervejas - até mesmo no seminário. Parece-me que as moças ficavam sem a festa de quinze anos.Benedito Franco
Tudo igualzinho em São Paulo quando os alemães estavam à frente e mesmo depois, havia as tais turmas. Quando cheguei no SRSA não tinha nada disso. Minha turma era enorme e quando na filosofia éramos quinze. Sobrou um para contar história.Adilson José Cunha
Tenho muito boas lembranças do meu tempo de SRSA...Apesar de ter concluído o penúltimo ano de formação por lá, cheguei apenas, pelo meu tamanho, à turma do médios. Muita saudade tenho do sorvete de leite feito nas forminhas de geladeira. Havia distribuição em revesamento pois a "produção" era limitada...A comida do seminário sempre foi muito boa e farta!!!!.....e de graça!!!! Antônio Ierárdi (Tampinha)

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