O desejo de ir para um Seminário e ser padre era considerado um chamado de Deus,
que não é a tendência de seguir uma profissão como outra qualquer. Quem não tem essa vocação, não consegue levar a vida sacerdotal. Uma das poucas profissões consideradas vocação é a medicina, pela dedicação à saúde e bem estar das pessoas, o sacerdócio, por cuidar da saúde da alma. Essa vocação surgia nas famílias muito católicas e nas comunidades frequentadas pelos pais e pelos meninos. Dos anos trinta até os anos sessenta, a vida das pessoas nas pequenas cidades do interior paulista girava praticamente em torno da agricultura, do comércio local, suficiente para suprir as necessidades mais primárias do dia a dia e da religiosidade que congregava a maioria das pessoas. As famílias, na maioria, eram pobres, mas muito religiosas A economia de minha cidade dependia da usina de açúcar e de uma fabrica de tecidos. Quem trabalhava nesses dois lugares tinha uma situação mais privilegiada que os trabalhadores da lavoura e do comércio. Os operários da usina eram os bons partidos para as moças se casarem, pois tinham um emprego que era bem remunerado e estável, portanto mais segurança para as famílias. Os políticos eram respeitados, os professores mereciam uma atenção especial dos habitantes, pois cuidavam da educação das crianças. A maioria terminava os estudos após o quarto ano primário, porque tinham que trabalhar, trabalho geralmente nas lavouras, nos cortes de cana. Todos os dias pela manhã os caminhões pegavam os trabalhadores, homens, mulheres, e os levavam para os canaviais ou outro tipo de lavoura. O curso ginasial, e depois o clássico ou cientifico ou curso Normal, não eram para todos, mas para os que podiam e não precisavam trabalhar para ajudar ou mesmo sustentar a família. O normal formava as professoras.
Abner Ferraz de Campos
Caro Abner, este seu texto mostra perfeito documento da época... No meu caso, em 1957 entrei ao Seminário Santo Afonso em Aparecida-SP pelas mãos de uma funcionária da prefeitura paulistana, que tinha bons contatos com os redentoristas. Minha mãe, viúva e faxineira empregada no Lanifício Filepo, não tinha com quem me deixar aos 13 anos de idade. No SRSA, recebendo salutar orientação cultural e especialmente religiosa, senti a vontade de seguir! Entretanto, por orientação do meu confessor Padre Azevedo(+), saí em 1962 com o Clássico Científico, inclusive, e consegui bons empregos posto que a cultura recebida era maior do que a de universitários... Assim, proclamo sempre meus agradecimentos à Congregação Redentorista, que gratuitamente orientou minha juventude por 6 produtíveis anos da minha vida! Antônio Ierárdi - Tampinha
A gente entrava no seminário para ser padre, este era o convite que recebíamos dos missionários redentoristas. No decorrer do tempo, passávamos por uma peneira muito grossa, a maioria não se segurava e passava pelos vãos. Éramos chamados pelo padre diretor que já se comunicara com os pais para anunciar nosso desligamento compulsório, sem apelação, eles diziam que não tínhamos vocação, era uma decisão unilateral. Às vezes, a iniciativa partia dos próprios seminaristas. Nesse caso, dependendo de quem fosse, o padre tentava convencê-lo a desistir da ideia, pois constava da lista dos escolhidos. Muitos são chamados e poucos os escolhidos, diziam. De tempo em tempo, acontecia uma reunião dos padres da comunidade, não sei se se chamava "Capítulo", ali era feito um listão daqueles julgados não vocacionados, geralmente era no fim do ano, depois dos resultados das provas finais. Eu mesmo fui indicado várias vezes pelo padre Pereira para pegar a mala, mas eu tinha um grande advogado, o padre Ribola, que sempre acreditou em mim. Era, no entanto, inexorável a saída dos indicados pelo padre espiritual, não se discutia, foi o meu caso: Padre Rodrigues, que Deus o tenha ! Alexandre Dumas
É sempre boa oportunidade para discorrermos esse assunto, especialmente ao da nossa saída. No meu caso, durante cinco anos em colóquios mensais com o Padre Azevedo Tóffuli(+), concluímos em entendimento mútuo que para mim seria melhor sair e constituir uma família. O diretor da época, dezembro de 1962, era o Padre Brandão... Quando o procurei e informei a decisão ele logo me disse:-"Que é isso, Tampinha, por que isso?Você tem muito sentido da vocação sacerdotal." Entretanto quando mencionei que era por orientação do meu confessor, imediatamente ele concordou, ainda que lamentando a minha saída! De fato o Padre Azevedo tinha toda razão, porque se eu continuasse possivelmente não cumpriria o voto de castidade... Dessa forma, hoje tenho três filhos, todos bem encaminhados e quatro netos que, com toda certeza, farão novas boas famílias. A propósito, esse é um motivo de indignação que hoje tenho quando havia o seminário menor, com ca.200 alunos, tendo como orientadores os sacerdotes formados no seminário maior de Tietê, sendo que esses juvenistas e junioristas, ca.170 a 180, hoje são egressos com substancial formação religiosa e cultural e dando muito bom exemplo aos seus descendentes! Hoje não mais temos essa bela ação social de formação religiosa e cultural!!! Havia um sacerdote que sempre concordou com esta minha ideia da manutenção dos seminários menores: Saudoso e estimado Padre Nazaré Magalhães, por tantos anos professor dos juvenistas daquela época!!!! Antônio Ierárdi - Tampinha
O Ribola era a minha cruz. Quando sai, não fiz segredo para ninguém,, contei prá todo mundo, então eu fui convidado a sair para não contaminar os outros. Abner Ferraz Campos
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