domingo, 5 de abril de 2020

COMO E ONDE NASCIAM AS VOCAÇÕES SACERDOTAIS-3

Já no Seminário 
Como vivíamos num regime interno e totalmente recluso, não conhecíamos garotas, nem podíamos pensar nelas, por necessidade da formação para uma vida celibatária e posteriormente com votos perpétuos de castidade. Tivemos que cortar pela raiz o despertar do amor na adolescência, época em que os meninos conhecem as meninas e vice-versa, nos trabalhos escolares, num convívio harmonioso nos passeios, nas festinhas, bailinhos e atividades comuns de adolescente. Mas esse corte abrupto dos sentimentos amorosos e descobertas sexuais, na verdade, era desviado e nesse convívio só de garotos, formávamos pequenos grupos. Esse amor diferente surgia entre nós, do mesmo sexo, que disfarçadamente era sublimado e amávamos os colegas como irmãos, mas na verdade era bem mais profundo que o amor fraterno apesar de não termos contato físico, mas éramos cientes de que não poderíamos fazer isso, por conta de nosso ideal mais sublime. Prometíamos um ao outro amor eterno de irmão e alguns garotos até faziam o ritual do irmão de sangue, que era fazer um ferimento no braço de cada um e colocar o sangue com o sangue, sendo assim irmão de sangue e jurar fidelidade até o final dos tempos como nas histórias de grandes amigos. A supervisão e os educadores ficavam muito atentos para as amizades muito próximas e essas amizades eram classificadas como “Amizade Particular” e por motivos óbvios, eram muito reprimidas com até o desligamento do seminário. 
Noa: Esses relatos fazem parte do livro que tenho já pronto, sobre minha viada no seminário de Santo Afonso, se vai ser publicado nem sei, o título é A SOCIEDADE DOS MENINOS LOBOS .Lobos porque acho que os lobos são fortes, guerreiros, como nossos professores queriam que fossemos na vida religiosa.Abner Ferraz Campos
Colega e amigo público Abner! Você nos traz um texto cujo conteúdo mostra a vivência real no nosso tempo de seminário, mas, por excesso de reserva ou mesmo algum escrúpulo, nunca ouvi mencionado este assunto, nesta forma, em todos os encontros de antigos seminaristas em que tomei parte! 
A AMIZADE PARTICULAR! 
Além disso lembramos ainda a TOCADEIRA, quando nenhum juvenista podia encostar a mão no colega. O "sentimento amoroso" na busca de um sujeito simpático e formoso (lembro-me dos jovens amazonenses jambo e atléticos da turma dos maiores que eram admirados por garotos da turma dos menores) existiam, de verdade, meninos mais bonitinhos que eram admirados e até escolhidos para amizade. Em 6 anos de permanência no SRSA, não me consta qualquer caso de escândalo em função disso. Entretanto você colocou muito bem essa situação ao que até pediria aos nossos contemporâneos o relato de seu respectivo tempo!!! Um vez mais, amigo público, parabéns pela memória e acuidade de nossa informação!Antônio Ierárdi-Tampinha
Eu via aquilo tudo por um lado diferente, lembra que tinha a turma do açúcar, os açuquinhas, que eram mais sensíveis, eram péssimos nos esportes, não sabiam nem correr, eram meninos mimados, não eram como outros que vinham do mato.. Eu na verdade tinha pena deles, pois eram falsamente tratados, às vezes até com desprezo, pelos mais fortes, mas todos, até os padres professores tinham um carinho especial por eles. Mas eles não formavam panelinhas, como aqueles das forças tarefas, quando o riacho que servia a Usina de força estourava durante à noite, esse pessoal saía com lanternas e ia arrumar. Essa era uma turminha fechada, que não vou dar mais detalhes. Abner
Amigo Abner, parabéns pela sua coragem em abordar esse assunto. Eu evito falar sobre isso, nunca presenciei algum fato nesse sentido, mas ouvi muito cochicho. Eram evidentes certas atitudes, inclusive de padres. Aconteceram muitas expulsões, a mais famosa envolveu um grupo inteiro, delatada por um de seus componentes, que foi anistiado e depois se tornou padre. Eu e o Bianor denominamos como "A NOITE DE SÃO BARTOLOMEU" , quando, lá na Pedrinha, rolaram as cabeças e o padre Ribola, revoltadíssimo, discorreu sobre Santa Inês e São Luiz Gonzaga, falou sobre a pureza, foi uma prédica que durou mais de uma hora . Certa feita, conversando com um capitão da aeronáutica, sabendo que eu era ex, perguntou-me, com certa malícia, sobre o relacionamento entre os seminaristas. Respondi-lhe, de pronto, que não diferia muito daquele existente nos quartéis, acabou o papo.Dumas
Caro Dumas, quando me dirigia ao 6º ERESER em Mairinque-SP, 20/10/2012, conduzi o celebrante da missa, Padre Telmo Figueiredo. No caminho conversamos sobre a questão da extinção dos SEMINÁRIOS MENORES... Ele defendeu a ideia de que teria sido por motivo de contatos entre seminaristas e até pedofilia. Houve uma discussão acalorada, posto que não concordei, como não concordo até o momento com isso. Como mencionei: "não quero queimar o palheiro para encontrar a agulha!" Entendo que se colocamos às claras hoje esse assunto, como o faz nosso colega e amigo público Abner, até aproveitando os encontros de antigos seminaristas, podemos derrubar de vez a impressão de que os SEMINÁRIOS MENORES eram propícios a isso... Assim, volto a convocar, como você bem o faz agora, que todos nossos colegas, amigos públicos, tragam aqui suas memórias bem como suas impressões sobre esse importante tema!!! Ierárdi
Desculpe minha opinião aqui. Imagino que é mais salutar vocês conversarem assuntos estritamente pessoais entre vocês mesmos, porém, não ficar expondo nas redes sociais. Na verdade, existem os encontros maravilhosos da UNESER, ERESER, etc, porque não aproveitarem a ocasião para abordar assuntos pessoais, ou com quem de direito. - Tem certas coisas que não dá pra entender. - O tempo passou e as características e a forma de conduzir a formação é outra, é diferente, renovada e com visão também diferente. São novos tempos. Evidentemente as coisas do passado tinham outra dinâmica, das quais possuíam seus grandes e diversos valores e que perduram na vida de todos aqueles que a viveram ou presenciaram, mas, creio, é bom salientar que a visão de mundo no hoje e no agora é outra. Como eu disse, me desculpem por postar isso aqui. Desejo de verdade é que Deus abençoe a vocês todos aqueles que guardam os grandes tesouros no mais profundo da alma. Cada um tem sua particularidade, seus sentimentos, suas marcas personalizadas, sua formação e seus grandes tesouros formativos. Irmão Manoel Aparecido
Caro Irmão Manoel, formamos aqui um grupo de antigos seminaristas e evidentemente esta rede é muito oportuna e prática para esse mister. Agradeço pelo seu comentário, entretanto quero esclarecer que fazemos aqui um centro de informações de nossa memória de seminário e, como você mesmo agora está refutando, fazemos um FORUM para apresentação de nossas ideias. Claro é que nem todos pensam a mesma coisa, daí a importância do conhecimento da opinião da maioria. Por outro lado, tudo o que aqui é mencionado está sendo registrado para posteridade em nosso blog TÁVOLA REDONDA DOS SEMINÁRIOS, que imagino seja de seu conhecimento... Irmão, vamos respeitosamente entrar num acordo .... ninguém será dono da verdade.... Ela existe e nem sempre é aquela que pensamos ou imaginamos... Quanto aos novos tempos que você proclama, há muita sabedoria dos velhos tempos, tempos de boa parte de nosso grupo... Assim, aceito , sem concordar, suas considerações, para o que solicito o respeito especialmente ao meu pensamento. Não sei se você percebeu, mas o Abner está redigindo um livro de suas reminiscências onde se incluem seus dias no seminário. Com a particularidade que você me atribui, esclareço que não estou desrespeitando ou até ofendendo a alguém. Encerro com duas frases... DA DISCUSSÃO NASCE A LUZ! e COMO É MARAVILHOSO ESTAR COM OS IRMÃOS.(SALMO 133, antigo 132). UM  ABRAÇO! Ierárdi-Tampinha
Meus Caros, Dumas, Ierardi, Manoel, O que eu escrevi sobre a amizade particular no seminário, acho que acontecia e acontece ainda em todos os internatos, masculinos e femininos, pois os internos entram criança, ou pré-adolescente e a adolescência é um período de descoberta em todos os sentidos, e também de formação de caráter, período onde se descobre a vida, as profissões, o futuro de cada um. No nosso caso, nós todos tínhamos o mesmo ideal, que era ser padre, não acredito que houve um só garoto no seminário com outra intenção. Já tínhamos o futuro nas mãos, a descoberta do amor, da vida conjugal, vida de casados, estava fora de cogitação, mas as descobertas amorosas não, então tínhamos amigos e amor fraterno no lugar, pois até hoje há ex-seminarista que chama outro de “Fratelli” irmão, e esse amor fraterno profundo que nos atingia, muitas vezes, ganhava outra dimensão. Nunca presenciei nada entre os meninos, o caso da Pedrinha, ouvi dizer, pois foi a época em que as turmas se misturavam, então deu a merda. Parece também que quando fomos para a praia houve algo também. Quando eu estive em Caraguatatuba, primeira vez que via mar aconteceu comigo um fato inusitado, os padres procuravam praia deserta, longe de outras pessoas, mas mesmo assim, estava eu pulando as ondas, quando apareceu uma família, um casal com crianças, e de repente a garota, filha da casa, veio para o meu lado, pegou na minha mão e começamos a pular as ondas de mãos dadas, eu num repente, deixei a mão da garota e saí rezando, pois achei que era o diabo, que estava me tentando. Até hoje eu me lembro da mão da garota, de maiô preto. Mas isso ficou entre eu e Deus. Caso contrário estaria na rua. Mas não vejo porque não falar disso, pois fez parte de nossa vida, de nossa formação. Acho que ninguém saiu, com problemas, ninguém, se tornou pedófilo ou gays e hoje são pais de família exemplares, contribuindo imensamente para a Igreja e para a sociedade com filhos educados e conscientes de suas responsabilidades. É isso, Fratelli,Abner
Abner, não quero alongar esta conversa para o outro lado, mas a impressão que tenho é porque toquei num tema muito sensível que é a extinção dos SEMINÁRIOS MENORES... Há hoje um entendimento na Congregação que isso foi necessário... não quero forçar nada, mas não posso esconder o meu registro da vida em nosso tempo!!! Um abraço-Antonio Ierárdi - Tampinha

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