domingo, 5 de abril de 2020

COMO E ONDE NASCIAM AS VOCAÇÕES SACERDOTAIS-2

O RELIGIOSO
Clubes sociais promoviam o Carnaval e a escola promovia a comemoração e desfile do Sete de Setembro, As festas mais importantes eram por conta da Igreja. A maior delas, sem dúvida era a festa da Padroeira, a famosa festa de agosto, que durava mais ou menos uma semana, e se encerrava com as procissões de Nossa Senhora e de São Roque. A cidade se organizava para essa grande festa, e na Praça da Matriz era instalado um parque de diversão e barracas com vendas de bugigangas e comestíveis, As barracas da Igreja eram cuidadas pelos Congregados Marianos, Filhas de Maria e outras irmandades, como a do Apostolado da Oração, do Sagrado Coração de Jesus e de São Benedito. Outra festa muito grande também era a de São Benedito, com festeiros, quermesse e tinha a Igreja própria, alias, havia também um cemitério para os mortos da Irmandade de São Benedito. Mas, diziam os mais antigos, que era um cemitério destinado aos negros, antigos escravos e seus descendentes. Na cidade havia um racismo bem claro e só na Igreja que os negros eram bem recebidos, mas tinha aquele negócio de cemitério da Irmandade de São Benedito. Havia o clube dos negros, chamada de Frente Negra, mas aceitava também brancos, o que não acontecia no Clube Recreativo Familiar que não admitia negros como sócios nem como participante ou convidado. Um delegado de policia, que era Negro, foi barrado e até hoje não sei no que deu. Mais tarde, criou-se a Festa das Monções, para comemorar o aniversário da cidade, e com superprodução teatral que até hoje apresentam a “Partida das Monções”, com bandeirantes, e toda comitiva, e sua partida que se dava do Porto das Monções para o centro do Brasil. Uma fantástica apresentação teatral. Até hoje atrai inúmeros visitantes. Na verdade, a sociedade girava em torno da Igreja, com as missas dominicais, rezas com a Benção do Santíssimo às noites, novenas, Festa do Divino, Dia de Corpus Christi, com a procissão do Santíssimo e as ruas com tapetes de flores, Semana Santa, com procissão do enterro, procissão do Encontro, Jesus indo para o calvário e o seu encontro com a Sua mãe, Nossa Senhora das Dores. O canto da Verônica ecoava pelas ruas silenciosas da cidade. Até hoje me lembro do canto dolente e sofrido. A madrugada da Ressurreição finalizava as festividades com o sábado da Aleluia, com todas as programações, como o Pau de sebo, corrida do porquinho ensebado, quebra potes e distribuição de balas para as crianças. Nesse clima que as crianças cresciam, e as mais católicas pertenciam a Cruzadinha, cuidadas e organizadas pelas freiras Filhas de São Jose. Havia também os coroinhas, garotos que ajudavam e tornavam mais solenes as missas e as Bênçãos do Santíssimo. As vocações sacerdotais eram criadas nesse ambiente e os meninos desejavam ser padres e as meninas iam para o Convento serem freiras. Nas ferias os meninos seminaristas vinham do seminário passar em casa, e já vinham usando batinas pretas e cintos azuis e era a atração maior nas missas e bênçãos do Santíssimo. Os coroinhas se empolgavam com isso e iam para o seminário estudar para serem padres. Havia famílias com quatro filhos e todos eram seminaristas. Um filho ou dois filhos padres eram uma bênção para essas famílias religiosas e tementes a Deus.
O Cultural e o Social 
O Futuro Seminarista e quem sabe futuro padre Como deu para perceber, eu fui um coroinha e fui seminarista, interno com os padres Redentoristas, pois meu tio era Missionário Redentorista(*), então segui com ele para o seminário em Aparecida do Norte. Fui muito tempo coroinha.Os vigários eram sempre trocados, e veio um vigário chamado Padre Veloso, ele era diferente de todos, além de mandar todos os coroinhas embora, queria acabar com as procissões e o único coroinha que não foi demitido fui eu. Até hoje não sei por quê. Então assumi todas as funções dos coroinhas e também do sacristão. Eu me levantava cedo e às seis horas da manhã ia bater o sino para a missa das sete, ajudada por mim. Já era quase um seminarista. Mas o padre Veloso nunca perguntou se eu queria ser padre. Quanto ao sino, eu adorava anunciar o novo dia com as badaladas do sino grande. O Padre Veloso comprou um Jipe, acho que estávamos em 52 ou 53, fez uma viagem à São Paulo e me levou junto com ele e sua irmã, uma senhora gorda que me tratava como filho. O Padre Veloso também foi uma espécie de pai para mim e era tão parecido com meu pai, que saía à noite da Benção do Santíssimo e ia para o Bar Matriz e tomava um “rabo de Galo” para evitar resfriado. Ele dizia que um padre era muito precioso e não podia morrer, pois o Brasil tinha uma carência enorme de padres. Devo dizer que eu era muito respeitado pelo padre Veloso. Depois que o Padre Veloso foi embora, veio o outro Vigário e continuei coronha, até ser expulso. Durante a Benção do Santíssimo eu carregava o turíbulo para incensar o altar, o Santíssimo Sacramento e, durante a Reza, eu me esqueci que estava em cena e tentei fazer um círculo com o turíbulo para avivar as brasas e na hora me arrependi e ao parar a manobra espalhei brasa por quase toda a Igreja. Fui expulso do altar e de coroinha, o padre me disse. "era para você incensar a cerimônia e não incendiar”,.Então fui para o seminário. Abner
NB-(*)Vejam o missionário redentorista, tio do Abner
PADRE JOÃO BENEDITO DA SILVA
PADRE CAMPOS

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