quarta-feira, 19 de novembro de 2014

PERGUNTAS E RESPOSTAS - 21/O3/2014

PADRE WALMIR GARCIA
DOS SANTOS CSsR
Helena Cardoso: O que se entende quando se fala em espiritualidade? 
É a dimensão da pessoa humana que traduz o modo de viver e agir de uma pessoa que crê em um Ser Superior (Deus). Através da espiritualidade a pessoa que crê busca um relacionamento transcendental com o seu Deus. Cada religião possui a sua espiritualidade própria, o seu modo de viver a sua relação com o seu Deus. 
Maria Cristina: Quando Jesus Cristo foi batizado, ele não teve padrinhos. Por que nós temos que ter, de quem foi a ideia? 
O batismo de Jesus não é o mesmo batismo cristão. Ele não foi batizado da mesma forma e com o mesmo batismo que nós cristãos. O batismo de Jesus foi um batismo de conversão, de mudança de vida que João, o batista, praticava, para ajudar as pessoas a buscar Deus e voltar o seu coração para a prática de uma vida mais coerente com a fé. Jesus não precisava deste batismo, mas se permitiu buscá-lo para iniciar a sua vida pública. O batismo cristão, que foi o anunciado por Jesus é o mergulho no mistério da Santíssima Trindade (Batismo em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo). 
Não identificada: Estou passando por um conflito familiar e está muito difícil encontrar uma solução. Parece que a minha cruz está mais pesada do que consigo suportar. Será que Deus me deu uma cruz mais pesada do que a dos outros? 
Deus não nos dá cruzes, não nos dá sofrimentos, a nossa vida humana é limitada, sujeita a dificuldades, a desafios que parecem muitas vezes intransponíveis. A nossa fé nos ajuda a suportar esses desafios, esses limites. Tenha confiança e esperança, não desanime e não se deixe vencer pelos desafios. Tem um ditado que diz: “Não mostre para Deus o tamanho de seu problema, mas mostre para o seu problema o tamanho de seu Deus”. 
Francisca Amorim: Apesar de ser católica praticante, não acredito que Jesus voltará pela seguinte razão: Deus mandou suas leis através de Moisés, os Dez Mandamentos. Como o povo ignorou, enviou Jesus para nos ensinar o amor e acabou sendo assassinado. Tenho certeza de que ele não se sujeitará novamente a esta humanidade que continua a mesma, pois ele não tem mais nada a dizer. Seus ensinamentos são bem claros e, como ele mesmo dizia: “Que veja quem tem olhos de ver”! 
Eu tenho certeza de que, se preciso for, Jesus faria tudo de novo para trazer novamente a humanidade para junto dele. Eu sei que não foi em vão o seu sacrifício e sei também que Ele fez por amor e pode fazer novamente porque nos ama. Não concordo que a humanidade continua a mesma depois de Jesus Cristo, muita coisa mudou e pode mudar ainda. Nem tudo está perdido e não podemos ser profetas do pessimismo, de que tudo está fadado ao fracasso. Ele mesmo disse que voltaria, e eu creio nisso, não da mesma forma, como pessoa humana, Ele não falou que voltaria assim. 
Gislene Amorim: Evocar os mortos é condenado pela Bíblia Sagrada. Quando pedimos ajuda aos santos, que também já morreram, não é a mesma coisa? 
Não, de maneira alguma. Os santos já morreram, mas estão ressuscitados na glória de Deus. a evocação dos mortos tem a finalidade de saber o futuro, de querer saber coisas que não pertencem à nossa esfera material. É algo condenável pela Bíblia (Dt, 18, 10-11; 2Rs 21, 6; 23, 24; Lv 19, 31; 20, 6; 21, 27 entre outros trechos). No Catecismo da Igreja Católica vemos o seguinte ensinamento: “Deus pode revelar o futuro a seus profetas ou a outros santos. Todavia, a atitude cristã correta consiste em entregar-se com confiança nas mãos da Providência no que tange ao futuro...” (§ 2115). “Todas as formas de adivinhação hão de ser rejeitadas: recurso a Satanás ou aos demônios, evocação dos mortos ou outras práticas que erroneamente se supõe ‘descobrir’ o futuro (cf. Dt 18,10; Jr 29,8). A consulta a horóscopos, a astrologia, a quiromancia, a interpretação de presságios e da sorte, os fenômenos de visão, o recurso a médiuns escondem uma vontade de poder sobre o tempo, sobre a história e, finalmente, sobre os homens, ao mesmo tempo que um desejo de ganhar para si os poderes ocultos. Essas práticas contradizem a honra e o respeito que, unidos ao amoroso temor, devemos exclusivamente a Deus” (§ 2116). “Todas as práticas de magia ou de feitiçaria com as quais a pessoa pretende domesticar os poderes ocultos (...) são gravemente contrárias à virtude da religião. (...) O espiritismo implica frequentemente práticas de adivinhação ou de magia. Por isso a Igreja adverte os fiéis a evitá-lo (...)” (§ 2.117). 
Alessandra Pires: O que significa ser justificado? 
Segundo o conceito em epistemologia (ciência que faz parte da filosofia), justificação é um tipo de autorização a crer em algo. Quando a pessoa crê em algo verdadeiro, e está justificado a crer, sua crença é conhecimento. Assim, a justificação é um elemento fundamental do conhecimento. 
Neuza Machado: Achei muito oportuno o que o Papa disse sobre a quaresma, que é um tempo para ajustar a vida para nos aproximarmos de Deus através da conversão. Isso quer dizer que devemos honrar Jesus com nossas atitudes interiores e não com atos exteriores? 
Não só com atitudes interiores, mas estas atitudes devem nos levar (conversão) a tomar atitudes externas que demonstrem nossa vida de fé, nosso compromisso de viver com coerência a nossa fé. Conversão é mudança de mentalidade e de vida. 
Genuína Gonçalves: Gostaria de saber quem é a mulher e o dragão que aparecem no cap. 12 do Apocalipse. O que significa a narrativa nos versículos de 1 a 10? 
Esta mulher pode ser identificada com Maria, a Mãe de Jesus, na sua glória espiritual é o modelo da Igreja; pode ser identificada com a Igreja, corpo místico de Cristo, que deve carregá-lo dentro de si, dar à luz a Jesus Cristo pelas atitudes cristãs; também é identificada com a Nova Jerusalém, a comunidade dos que creem em Jesus e luta contra o mal.
Neuza do Amaral: No livro de Números (23, 19) diz: “Deus não é homem para que minta; nem filho de homem, para que se arrependa”. Em Gênesis (6, 6) diz: “Então, se arrependeu o Senhor de ter feito o homem na Terra e isto lhe pesou no coração”. Como entender essas duas passagens? Deus se arrepende ou não?
Essas aparentes incoerências da Palavra de Deus são apenas formas de falar. Não temos outra linguagem a não ser a humana, a que conhecemos e expressamos, daí colocar em Deus nossos sentimentos, nossas formas de viver, mas que é praticamente impossível sabermos os sentimentos de Deus, o que se passa em seu “coração”. Formas humanas de expressar aquilo que não damos conta de expressar. Daí podemos dizer que não há incoerência nos dois trechos. 
Eunice Valentim: Direto colocam correntes de orações na minha caixa de correio, não gosto disso. Já faço as minhas orações normalmente. Aí eu jogo fora. Tem algum problema? 
Claro que não tem problema e você deve fazer exatamente isso, jogar no lixo, pois não passam de lixo. Superstições são “lixos” produzidos pela falta de uma fé madura e coerente. Eu nem perco tempo de ler essas “bobagens” que são distribuídas por aí em nome da fé. 
Vilmar Correa: Por que Jesus, ao realizar alguns milagres, pedia às pessoas que não contassem a ninguém? 
Ele não queria ser conhecido como um milagreiro (fazedor de milagres), mas queria que as pessoas aderissem a Ele pela proposta de vida, pelo Evangelho do Reino. Infelizmente ainda hoje vemos pessoas que correm atrás de milagres e não da fé verdadeira. 
Nilson de Melo: O que inspirou São João a fazer batizados, teria sido uma profecia? 
Ele foi enviado por Deus para preparar o caminho do Messias (Jesus Cristo) e, para isso convocava as pessoas à mudança de vida (conversão). Esse batismo pregado e praticado por João era uma exortação à essa mudança de vida para acolher o Reino anunciado por Jesus. 
Não identificada: Sou casada há vinte anos, mãe de dois filhos e tenho vivido muito angustiada nos últimos anos. Estou deprimida e a razão disso é não ter feito da minha vida o que realmente eu queria. Deixei a faculdade porque estava grávida e acabei não realizando meu sonho profissional. Sinto-me irrealizada. Agora, não tenho mais disposição para recomeçar. Ser apenas dona de casa não foi suficiente. Será que estou sendo ingrata com a vida? 
Todos nós temos frustrações na vida, não conseguimos realizar tudo o que queremos. Não podemos, por isso, ficar deprimidos e irrealizados; é preciso saber viver sem lamentações e murmúrios. O que não foi possível realizar, paciência, pois nem tudo é possível. Procure viver a sua vida, ocupando-se com coisas que possam trazer alguma satisfação em sua vida. Procure viver com mais alegria e disposição, não se deixe abater. 
Não identificada: Meu esposo deixa a família dele interferir em nosso casamento. Antes do casamento eu disse que não iria admitir e ele falou que não deixaria. Agora, quando toco no assunto ele desconversa. O que devo fazer? 
Você deve continuar conversando com ele, nada como o diálogo. Também você pode tomar atitudes que não permita essa interferência. Fale com as pessoas que estão fazendo isso e diga, ou mostre que não quer esse tipo de coisa, sem ofender, sem magoar, mas é preciso ser sincera e autêntica. 
Ingrid Justino: Como educar os filhos em um mundo que nos leva cada vez mais rápido à aceleração, a um estilo de vida neurótico, ao estresse crônico, esgotamento e até à morte? Nem mesmo a religião está conseguindo nos livrar desse redemoinho! 
Eu penso que a aceleração nós é que fazemos, não precisa disso. A correria nós é que fazemos, o mundo continua do mesmo modo, o tempo continua sendo o mesmo, mas a ambição desmedida leva a essa correria desenfreada. É preciso saber frear o nosso carro (a nossa vida), senão o tempo passa e não aproveitamos o tempo e a vida. Tem um provérbio latino (de um poema de Horácio) que diz “Carpe diem” que significa: Colha o dia, aproveite o momento; evite gastar o tempo com coisas inúteis. 
Margarida Araújo: A Igreja sugere abstinência de carne vermelha durante a semana santa, como gesto de conversão, mas permite a ingestão de carne de peixe que também tem sangue, tem vida. Converter não significa mudar? O que tem a ver comer carne com pecar? Jesus não disse que o que mancha o homem não é o que entra, mas o que sai de sua boca?
Comer carne não é pecado e a Igreja não prega isso. ela sugere que abstenhamos de carne vermelha apenas nas sextas feiras da quaresma e jejum em dois dias do ano: Quarta feira de cinzas e Sexta feira da Paixão. A abstinência de carne é uma forma de fazer algum sacrifício para frear nossos instintos egoístas. Se comer carne vermelha na Semana Santa não está incorrendo em pecado. Pode-se fazer a abstinência de outras coisas também, principalmente da língua (maledicência), como também muitas pessoas fazem abstinência de cerveja ou outra bebida alcoólica, de refrigerantes, de chocolates e doces e muitas outras coisas. Cada um veja um forma de buscar frear seu egoísmo, seu pecado.

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