Engraçada a vida, ela nos proporciona momentos de reflexão, nos traz surpresas, nos leva a caminhos inimagináveis, estabelecemos metas e o imponderável prevalece. Saí do seminário, sem rumo e nem beira, ingressei na primeira opção surgida, Letras Clássicas na USP, péssimo, a São Francisco estava lá, aberta aos conhecedores de latim, português, francês, teria levado de letra, fui mal orientado. Lá na Maria Antónia, a frequência não era controlada, compareci muito pouco às aulas, tirei nota máxima no latim, português e grego. Procurei meios de sobrevivência, trabalhei no Banco Popular do Brasil e na Secretaria da Fazenda. Em 1959, passei no Banco do Brasil, salário excelente, vou-me embora para Goiás, demiti-me do estado. Malas prontas, recebo um recado do Obreton, francês, meu professor de grego. Fora escolhido, se me conviesse, para frequentar Sorbonne e especializar-me na língua grega. Que bela oportunidade para quem não quis ser padre, professor de grego. Fui-me embora para Morrinhos, trilhei uma carreira bem sucedida, fui bancário, gestor, aposentei-se em boa situação. Só para finalizar, formei-me em economia ,fui instrutor de contabilidade em minha empresa, momentos em que me senti professor, não de grego, mas de algo nunca sonhado e aprendido, não em Sorbonne, mas na vida. Alexandre Dumas
Caro Alexandre Dumas Pasin de Menezes, sempre que vejo depoimentos de meus ex-colegas de seminário, me vêm à cabeça milhares de pensamentos, inclusive se deveríamos mesmo ter saído, pois que eu saiba ninguém foi expulso e a maioria saíu por vontade própria como entrou. A verdade que tivemos uma educação direcionada fielmente ao sacerdócio e não a uma carreira publica. E fomos educados para sermos os melhores, e éramos os melhores, então saímos pensando que sendo os melhores iríamos nos dar muito bem na vida mundana. Mas acontece que ninguém nos avisou que fora também existiam pessoas tão melhores como nós, mas até melhores. Então a confusão e ficávamos sempre à espera de algo muito bom que poderia nos acontecer, mas tudo era muito difícil. Conheço ex-colegas que entraram no Banco do Brasil, onde para entrar era uma luta, e depois de alguns meses de trabalho pediram demissão. Era excesso de confiança e saíram à procura de algo melhor. Isso só demostrava insegurança. Eu mesmo tive bons empregos e por nada abandonava e nunca consegui ter algo como definitivo. Meus empregos nunca eram considerados definitivos mas como um meio e ir pra frente e que muitas vezes ia para trás. Penso que deveríamos ter pensado melhor nessa saída e abandonado um ideal que era de criança. Tenho certeza que se tivéssemos continuado, não seríamos medíocres nem acomodados. Abner
Abner Ferraz de Campos , que bom se tivéssemos continuado, a consagração, o sacerdócio, a vida religiosa na comunidade redentorista, a segurança de um futuro garantido pela nossa perseverança, a nossa cela, os nossos pertences, a nossa fé. Que bom vivermos entre irmãos, Deus provê e nos fortalece na esperança. Mas o imponderável acontece, ousamos, optamos por outros caminhos, tenho muitos pesadelos até hoje, volto e me encontro no seminário, quero sair, rompo barreiras, fujo, não quero mais ficar, foi uma lavagem cerebral, a minha fé esmaece, não quero mais acreditar.Alexandre Dumas
Alexandre Dumas Pasin de Menezes, comovente o que você escreve, só quem passou por isso sabe sentir e avaliar. Penso que isso acontece com muitos que passaram pelo mesmo, Você fala em lavagem cerebral, acho que não chega a tanto, e se foi não foi de caso pensado, foi para o melhor para a congregação. e não foi pensado na vida em si de cada um. sendo que uma boa percentagem saía. De minha turma de uns trinta, não me lembro, só ficaram uns cinco, nem sei mais. Mas temos que levar isso até o fim. Abner
Alexandre Dumas Pasin de Menezes e amigo Abner, como sempre compartilho as idéias de ambos e, quando vejo seus textos, até percebo que também segui o melhor caminho na minha vida. Como filho de mãe operária/faxineira e viúva com dois filhos menores de 5 anos aos 23 anos de idade. Vivi internado por 10 anos, a princípio 4 anos no Instituto Cristóvão Colombo, no Ipiranga-SP, e depois mais 6 anos no Seminário Santo Afonso em Aparecida-SP. Nesse período, recebi as melhores orientações religiosas e culturais. Entrei para o SRSA na oportunidade de deixar minha mãe livre para seguir avante no trabalho de olho no nosso futuro. No SRSA tive salutar acompanhamento vocacional e a conclusão foi a que devia sair e formar uma família. Isso aconteceu letra a letra comigo e hoje tenho o orgulho de dizer que formei 3 famílias pelos meus filhos e outras 4 vêm surgindo pelos meus netos! Acredito que isso tenha ocorrido também com vocês, tirante o número de filhos e netos!... Um abraço! Antônio Ierárdi
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