Quando entrei no seminário, em 1949, o Padre Pereira me recebeu e me conduziu, primeiramente, à rouparia indicando-me onde guardaria meu enxoval, mandou que separasse as roupas de cama e as levasse até o dormitório dos menores no terceiro pavimento, mostrou-me a cama e ensinou-me como deveria ser arrumada diariamente. Na sua cabeceira, uma plaquinha indicava o meu nome precedido por um número que levaria por todo o tempo que permanecesse no seminário: 51 - DUMAS. Feito isso, entregou-me ao Gervásio, zelador dos menores, que me apresentou ao meu grupo, e, daí, fui me inteirando da rotina de minha nova casa. À noite, depois das orações na capela, dirigi-me ao dormitório para minha primeira noite no seminário. As camas eram dispostas em três fileiras ao longo de um enorme corredor, calculo uns sessenta metros. Tomei conhecimento de meus vizinhos, o silêncio era obrigatório, mas percebi que havia uma separação de uns cinco metros, se tanto, para um grupamento de camas que fechava o fundo do corredor, seus ocupantes não eram somente da turma dos menores, notei a presença de médios e maiores, percebi, então, que aquele espaço exalava um forte cheiro de urina. Dormi serenamente e me acordei ao som forte de um sino que nos convocava à rotina do primeiro dia de aula, 03 de fevereiro de 1949, fomos para a capela e acredito que, nessa primeira missa lá celebrada, recebi a bênção de São Braz, protetor da garganta. No recreio, apressei-me a procurar um seminarista mais velho e matar a curiosidade sobre a presença daquele grupo em nosso dormitório. Contaram-me em voz baixa, como se fosse um segredo, que aquele lugar se denominava DORMITÓRIO OITAVO, destinado aos seminaristas que faziam xixi na cama, seus colchões eram de esteira e havia uma rotina própria na higienização diária daquele local, misturando-se um pouco de creolina na água de limpeza, eles eram apelidados de MARINHEIROS. Tudo esclarecido, aprendi a conviver com essa realidade e a respeitar esses novos colegas. Certa ocasião, no início de minha puberdade, o padre estranhou meu lençol e mandou-me fazer um estágio na Marinha de Guerra, reconhecida a falha, me deram baixa.
Quando nos mudamos para o Santo Afonso, os padres tomaram o cuidado de instalar os marinheiros num dormitório exclusivo, com ralos distribuídos para facilitar a limpeza, sua porta deveria permanecer fechada e era proibido mostrar o local às visitas. Como a capela não estava concluída, ela foi instalada no dormitório que deveria ser ocupado pelos médios, coincidentemente bem em frente ao dormitório oitavo, não sei se era o incenso que penetrava lá ou era a creolina que se misturava a este, dando àquele espaço um odor bem característico.
O tempo é inexorável, o passado fica cada vez mais distante e nos acostumamos a novas regras e conceitos de vida, os valores sofrem uma evolução para melhor e hoje discutimos nova conceituação no tratamento entre pessoas, surgiu o tal do bullyng, coisa não mais aceita em novos tempos.
Cinquenta anos depois que deixei o seminário, fui visitá-lo, aproveitando um de nossos encontros da UNESER, a gente passa e repassa as salas e vai relembrando fatos e lugares que nos deixaram saudades. Solicitei a um seminarista que me mostrasse alguns compartimentos, ele me explicava a utilização atual do espaço e eu lembrava a de meu tempo. Fomos revirando o seminário até chegar à malfadada sala, ele fez menção de abrir e eu dispensei, dizendo já conhecê-la. Ele mostrou-se admirado pela minha recusa e, assim mesmo, a abriu , deparei-me com uma capela acolhedora, com cheiro de incenso, flores no altar de Maria e a luminária brilhante do Sacrário. Explicou-me que, por serem muito poucos os seminaristas atuais e a capela oficial ser muito grande, optou-se pela adoção de um espaço menor Ajoelhei-me pela primeira vez naquele espaço em que vi muitos colegas fazendo também isso, não para rezar, mas para cuidar da faxina diária que lhes era imposta. Aí, ele perguntou-me sobre o meu tempo, a que servia aquele espaço? Engoli em seco, gaguejei e respondi-lhe que era um pequeno dormitório, muito disputado pela proximidade da capela, já exalava incenso, diziam que Jesus, cansado do sacrário, nas madrugadas frias, procurava abrigo ali. Alexandre Dumas
Tudo muito diferente do meu tempo. Recebi o número 90, dado pelo padre Lauro Masserani, antes mesmos de ir embora, após o estágio. Não havia mais os marinheiros, pudera, eram todos grandes. Havia somente o curso colegial e os da madureza ginasial, coordenado pelo padre Lauro. Padre Moacir era o espiritual do primeiro colegial; Padre Pelaquin do segundo e o Carlos Silva, diretor, era o responsável pelo terceiro.Adilson José Cunha
Dumas, você já era pinguço lá no seminário, né ? Número 51. ....... k k k k k k Eu , ao contrário de você, era número 15. Adorei relembrar aqueles detalhes, viu ? Nossa ! Como o Gerva era bravo, né ? E o Pachequinho já era cobrão na física e na química, com o Padre Cherubini. Santas lembranças.... santas saudades... Tinha um Manguci, lembra ? João de Deus Rezende Costa
João De Deus Rezende Costa , quando o padre Pereira entregou-me o 51, disse que eu o estava herdando de outro Aparecidense, o Teixeira, que tinha ido para o noviciado. O Gervásio e o Daniel foram terríveis, batiam mais do que o Padre Pedro. O Pacheco já chegou fazendo arte, inventou um telefone que usávamos lá na fazendinha, uma enorme linha de pipa com duas latinhas, conversávamos de um morro ao outro. Manguci ? Não me lembro. Alexandre Dumas
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