Começamos 1956 com 19 padres na Comunidade do SRSA, incluindo os 3 que foram designados para a Pedrinha.
O cronista de 1956 anota: “Pe. Negri foi feito diretor da Pedrinha”.
De fato, “foi feito”. Quanto me consta, todos os apontados para esse
cargo tiraram o corpo, inclusive o nosso querido e competente Pe.
José Oscar Brandão que lá estivera em 1955 em substituição ao Pe.Guilherme Sônego. A verdade é que o Pe. José Ribolla apreciava o meu bom senso e otimismo. Lá fui eu, então, a 19/02/56, junto com os padres Antônio Borges de Sousa e Maurílio Fernandes de Castro, para o Pré-SRSA, com 66 seminaristas. Casa velha! Aperto! Sem veículo de transporte. Não havia ônibus para Guaratinguetá. Estrada de terra, com passagem por dentro d’água num dos córregos. No tempo da chuva, de outubro até março, alguns trechos ficam intransitáveis.
Há porém em nós muito idealismo, baseado na fé, na confiança e no amor a Cristo, na vocação redentorista. Uma palavra de ordem ecoa a toda hora pela casa: Ser Padre Missionário Santo.
Chegamos nesse ano ao impressionante número de 218 seminaristas, com os 66 do pré na Pedrinha. Pe. Borges é o diretor espiritual e vigário coadjutor da paróquia de Roseira, com os cuidados da Capela de Nossa Senhora da Piedade, da Pedrinha, e de São Lázaro, do Bairro Gomeral, e da Fazenda Monte Verde. Viajava a cavalo. Pe. Fernandes era prefeito, professor e ajudava na disciplina. Era escrupuloso. Homem de Deus, honesto e exigente. Antes da meia-noite, várias vezes eu o escutei de fora de quarto declarando a intenção de celebrar a Missa de modo válido: “Vollo celebrare”: Eu quero celebrar. Falava em latim as palavras da consagração do pão e do vinho.
No fim de abril de 1956, eu me submeti a uma operação na garganta. Tive de ficar silencioso durante uns 10 dias. Mesmo tomando cuidado, percebi que a dor continuava. Resolvo então voltar a Aparecida para procurar o Dr. Sigaud em Guaratinguetá. Aproveito a visita do ecônomo e confessor do SRSA, Pe. Balduino Birk, para pegar uma carona. De noite, lá pelas 21 horas, quando estávamos perto do Fazendão, do Sr.Caltabiano, de repente o pneu da roda esquerda dianteira se solta e rola para frente. A camioneta estaca e bate o eixo na terra. Com o baque, acontece uma hemorragia na garganta. Procuro fazer o que posso para segurar o sangue. Chove bastante. Pe. Balduino está sem o “macaco”. Busca na fazenda alguns homens. Eles levantam a frente da camioneta no muque, com alguns paus compridos e fortes, apoiando-os nos barrancos. Trocam o pneu com muita dificuldade.
Chegamos ao SRSA após a meia-noite. No dia seguinte, telefono ao Sr. João Zamboni, primeiro tenente e dentista da Escola de Especialistas da Aeronáutica e meu ex-colega de seminário. Ele me indica um cirurgião dentista, o Primeiro Tenente Dr. Sá, otorrino e anestesista. Esse especialista cauterizou a veia em hemorragia, após a aplicação, é claro, de anestésico. Esse cirurgião, ateu, trabalhou com muita competência. Fiquei bom em pouco tempo. Fez tudo gratuitamente. Não tive mais problemas na garganta até hoje. Minha voz foi sempre boa. Um grande dom de Deus para um missionário redentorista.
A 23/06/56, começaram as férias mais cedo do que o costume, porque havia plano de reformar a casa da Pedrinha, segundo projeto do Pe. Humberto Rafael Pieroni CSSR.
A 7ª série, futuros bacharéis de 1956, foram passar as férias com seus pais. Mas alguns não puderam ir. Então, por intermédio do Pe.
Aristides de Menezes Pedro, a 05/07/56, o Sr. Alberto Chad os levou a passear de automóvel ao Parque do Itatiaia. Pe. Fernandes e eu vamos juntos. Ficamos num barraco de madeira do Parque Nacional, a mais de 2000 metros de altitude. Ele tem frestas, de maneira que o frio invade todo o espaço. Não conseguimos dormir, não obstante os muitos cobertores. Andamos, de madrugada, de cá para lá, para espantar o frio. Encontramos placas de gelo no riacho que passa perto. No dia seguinte vamos escalar o Pico de Agulhas Negras. No outro, visitamos o Pico das Prateleiras. Um guia nos acompanha em ambas as excursões. Fazemos muitas “aventuras” como costumávamos nos expressar. Vencemos obstáculos difíceis para alcançar as alturas de mais de 3000 metros. Mas valeu a pena! Deu pano para muita conversa.
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